Revista Espírita, novembro de 1859
Num volume intitulado: as Seis Novelas (1), por Maxime Ducamp, se encontra uma tocante história que recomendamos aos nossos leitores. É uma alma errante que conta suas próprias aventuras.
Não temos a honra de conhecer o senhor Maxime Ducamp, que jamais vimos; não sabemos, consequentemente, se ele tomou suas informações de sua própria imaginação, ou nos estudos Espíritas; mas, qualquer que seja, não poderia ser mais felizmente inspirado. Pode se julgá-lo pelos fragmentos abaixo. Não falaremos do quadro fantástico no qual a novela se encaixa; é um acessório sem importância e de pura forma.
“Eu sou uma alma errante, uma alma em pena; vogo através dos espaços esperando um corpo; vou sobre as asas do vento, no azul do céu, no canto dos pássaros, nas pálidas claridades da lua; eu sou uma alma errante………………………….
“Desde o instante em que Deus nos separou dele, vivemos na Terra muitas vezes, subindo de geração em geração, abandonado sem pesar os corpos que nos foram confiados, e continuando a obra do nosso próprio aperfeiçoamento, através de existências que suportamos.
“Quando deixamos este hóspede incômodo que nos serve tão mal; quando ele vai fecundar e renovar a terra da qual saiu; quando, em liberdade, abrimos enfim nossas asas, então, Deus nos dá a conhecer os nossos objetivos. Vemos as nossas existências precedentes, julgamos do progresso que fizemos desde os séculos, compreendemos as punições e as recompensas que nos chegaram para as alegrias e as dores de nossa vida, vemos nossa inteligência crescer de nascimento em nascimento, e aspiramos ao estado supremo pelo qual deixaremos essa pátria inferior para ganharmos os planetas radiantes, onde as paixões são mais elevadas, o amor menos ambicioso, a felicidade mais tenaz, os órgãos mais desenvolvidos, os sentidos mais numerosos, e cuja morada está reservada aos mundos que, por suas virtudes, se aproximaram mais que nós da beatitude.
“Quando Deus nos reenvia em corpos que devem viver por nós sua miserável vida, perdemos toda a consciência do que precedeu esses novos nascimentos; o eu, que estava desperto, volta a dormir; não persiste mais, e de nossas existências passadas, não resta senão uma vaga reminiscência que causa em nós as simpatias, as antipatias, e também, algumas vezes, as ideias inatas.
“Não falarei de todas as criaturas que viveram de meu sopro; mas a minha última vida suportou uma infelicidade tão grande, que dela só direi a história.”
Seria difícil melhor definir o princípio e o fim da reencarnação, a progressão dos seres, a pluralidade dos mundos, o futuro que nos espera. Eis, agora, em duas palavras, a história dessa alma: Um homem jovem amava uma jovem pessoa e era por ela amado, mas obstáculos se opunham à sua união. Ele pede a Deus permitir à sua alma libertar-se do corpo, durante o sono, a fim de que possa ir ver sua bem-amada. Esse favor lhe é concedido.
Todas as noites, portanto, sua alma voa e deixa seu corpo num estado completo de inércia, de onde não sai senão quando a alma volta a possuí-lo. Durante esse tempo, vai visitar aquela que ama; ele a vê sem que ela disso suspeite; ele quer falar-lhe, mas ela não o ouve; ele espia seus menores movimentos, surpreende seu pensamento; está feliz com suas alegrias, triste com as suas dores. Nada mais graciosos e mais delicado que o quadro da jovem e a alma invisível. Mas, ó fraqueza do ser encarnado! Um dia, ou para dizer melhor, uma noite, ele se esquece; três dias se passam sem que ele sonhe em seu corpo, que não pode viver sem a sua alma, de repente pensa em sua mãe que o espera, e que deve estar inquieta por um sono tão longo. Ele se precipita, pois; mas era muito tarde; seu corpo deixara de viver. Ele assiste aos seus funerais, depois consola sua mãe. Sua noiva, em desespero, não quer ouvir falar de nenhuma outra união; todavia, vencida pelas solicitações de sua própria mãe, ela cede depois de uma longa resistência. A alma errante lhe perdoa uma infidelidade que não estava no seu pensamento; mas para receber suas carícias e não mais deixá-la, ele pede para encarnar na criança que deve nascer.
Se o autor não está convencido das ideias Espíritas, é necessário convir que desempenha bem o seu papel.
(1) A La Librairie Nouvelle, bulevar dos Italianos