Autor: Marcus De Mario
Em sua sabedoria profunda, afirmava o filósofo Platão (427 a.C – 347 a.C.) que a educação é o único valor que se pode levar para toda a vida. E ao mesmo tempo advertia que a educação somente existe verdadeiramente quando o ser humano consegue se libertar das ilusões das percepções meramente sensoriais, avançando pelo caminho do bem, sendo a educação a arte de converter a alma humana para o bem.
Nos tempos atuais de muita tecnologia, vida agitada, ideologias as mais diversas, o pensamento de Platão parece muito distante da realidade, tanto da família quanto da escola. Na prática, não temos no ambiente escolar essa arte de converter a alma humana para o bem, mesmo porque não há espaço no currículo e nas burocracias para esse intento.
Mesmo olhando para a família, que muitos teóricos da educação afirmam ser única responsável pela formação moral das crianças (será?), não vemos, em sua grande maioria, essa preocupação ser validada por elementos práticos, concretos, prevalecendo as questões da sobrevivência econômica, formação técnico-profissional, consumismo e outras, que não permitem espaço para a formação ética dos filhos.
A verdade é que se tivéssemos dado ouvidos a Platão, estaríamos vivendo bem melhor. Lembremos que ele trabalhou pela arte de educar para o bem em passado remoto que dista por volta de dois mil e trezentos anos do hoje, portanto, podemos vislumbrar mentalmente como a Humanidade estaria nos dias atuais se em todo esse tempo tivéssemos trabalhado a educação das novas gerações conforme sua proposta.
Teimamos em não colocar a educação como prioridade, e ainda mais teimosos somos quando descaracterizamos a educação para torná-la apenas instrução. Isso tem levado a assistirmos ao longo da história inúmeros personagens intelectualizados, detentores de conhecimentos, ao mesmo tempo egoístas, orgulhosos, indiferentes, fazendo o mal para a coletividade.
Projetos de combate à corrupção, violência, miséria, pedofilia, feminicídio, tráfico de drogas e outros males sociais são inócuos se não estiverem atrelados à educação moral do ser humano. Podemos gastar quanto dinheiro quisermos, aparelhar tecnologicamente os órgãos de fiscalização, acionarmos as entidades de segurança pública, e tudo isso será apenas enganação, enxugamento de gelo, pois a raiz do mal continuará intocável: a falta de educação como arte de levar o ser humano para o bem, para pensar no outro, para ser ético e solidário.
Naturalmente, para aplicarmos o pensamento de Platão, temos que repensar a educação, a família e a escola. Sem esse repensar não há reforma possível, até porque quase todas as propostas apresentadas até o momento de reforma da educação não passaram de fachada, ficando na periferia curricular e metodológica do ensino, isso quando não foram formuladas para destruir ainda mais a educação, face a interesses escusos dos governantes.
O leitor pode não concordar com Platão e, claro, comigo, mas é fato que o filósofo grego, discípulo de outro filósofo não menos famoso, Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.), é estudado intensamente até os tempos atuais, tendo transformado a antiga civilização grega, e sendo considerado um dos mais importantes pensadores de todos os tempos.
Diante disso, parece-nos que precisamos meditar com mais profundidade sobre o pensamento educacional de Platão, se, de fato, queremos algo melhor para a Humanidade, tanto hoje quanto amanhã.