Autor: Marcus De Mario
O espírita, face aos enunciados do Espiritismo, fala, conversa, ensina sobre a alma imortal, a vida depois da morte, a lei de evolução, a reencarnação, a existência de Deus, a mediunidade com o intercâmbio entre desencarnados e encarnados, o livre arbítrio, entre outros princípios que formam a doutrina que estuda e professa. Mas a questão de profundidade não é saber, e sim, ser. Será que, de fato, somos o que dizemos ser? Para não haver dúvida, formulemos a pergunta de outra maneira: será que, realmente, no dia a dia, vivenciamos em nossos pensamentos, palavras e ações, o que estudamos e depois discursamos para os outros?
Ser ou não ser, eis a questão.
Allan Kardec, detectando nossas imperfeições, fala da existência de várias categorias de espíritas, e que nem todos podem ser classificados como verdadeiros espíritas. Ele tem razão. Muitas vezes temos conhecimento memorizado, sabemos quais são os princípios do Espiritismo, mas isso não quer dizer que os apliquemos a nós mesmos, tornando-nos pessoas melhores. Muitos, mesmo nas atividades do Centro Espírita, conservam velhas ideias e posturas não condizentes com a doutrina.
Se acreditamos que somos almas imortais, ou espíritos, devemos viver dentro dessa crença, mas nem todo espírita compartilha desse entendimento, preferindo se manter ligado às coisas do mundo antes que às coisas do espírito. Quem assim age, tendo no Espiritismo apenas uma fachada religiosa, está enganando a si mesmo, pois a morte, fatalidade à qual não podemos fugir, irá nos remeter à realidade do espírito que somos, queiramos ou não. E o que faremos no depois da morte se não acumulamos tesouros do espírito para apresentar?
Autodomínio, disciplina e renovação são as chaves apresentadas pelos amigos espirituais para conseguirmos viver o que já compreendemos intelectualmente, fazendo com que essa compreensão, estacionada no conhecimento, se transmude em ações vivas do sentimento, quando finalmente deixaremos de ser teoria para ser prática, deixaremos de discursar para fazer, enfim, deixaremos de saber para ser. É assim que poderemos melhor educar os filhos.
Na educação dos filhos é natural aplicarmos a eles o que nossos pais aplicaram em nós, pois temos a tendência de seguir os exemplos dos que exerceram influência em nossa educação, quando esses exemplos são considerados positivos de nossa parte, contudo, não podemos esquecer que as novas gerações estão em novo contexto, diferente daquele em que vivemos na infância, e que a educação é um processo que deve levar em conta a individualidade e a autonomia do espírito reencarnado, ao qual os pais devem corrigir as más tendências e criar bons hábitos.
É triste verificar que muitos pais teimam, apesar da chegada dos filhos, em manter uma vida egoísta, voltada para os gozos terrenos, quando deveriam cooperar com Deus na educação dos espíritos que lhes são confiados na figura dos filhos, tudo fazendo para que eles se tornem pessoas do bem, cidadãos éticos, seres virtuosos praticando a lei de amor.
Não é possível ao mesmo tempo ser gozador dos vícios e paixões mundanas e ser pai ou mãe, pois a tarefa de educação acabará prejudicada, ficando em segundo plano.
Quando a educação dos filhos não é levada a sério, muitos pais, ao se encontrarem na velhice, ficam ao abandono, na dependência da caridade pública, enquanto outros amargam a solidão, sendo colocados à margem por aqueles a quem deveriam ter ensinado a lei de amor. E somente nessa condição passam a refletir sobre o que fizeram da própria existência, quando deveriam ter feito bem antes uma tomada de consciência, em tempo para minimizar os estragos já realizados.
O Espiritismo, doutrina de educação do ser imortal, defende a tese da educação moral, a que forma o caráter, corrige as más tendências, desenvolve o senso moral, cria bons hábitos, trabalha a ética e a solidariedade. Aplicada desde a infância, a educação moral tende a fazer homens e mulheres de bem, que paulatinamente corrigirão os desvios morais da humanidade, ensejando a justiça, a não violência, o equilíbrio social, fazendo-nos uma verdadeira civilização, onde os ensinos de Jesus estarão plenamente colocados em prática.