Autor: Marcus De Mario
Quem somos? Eis a pergunta que atravessa as civilizações humanas, desde a remota antiguidade, e que ainda hoje suscita intensos debates, colocando-se em lados opostos os materialistas e os espiritualistas. Para os materialistas o ser humano é apenas um ser biológico existente entre o nascimento e a morte. Para os espiritualistas o ser humano é um ser espiritual, uma alma, que pré existe e sobrevive à morte do corpo. Durante muito tempo esse antagonismo criou limites intransponíveis, barreiras concretas, isso porque a discussão sobre a existência humana encontra-se limitada pelo egoísmo e orgulho que ainda nos caracterizam, fazendo com que cada lado defenda sua posição, não admitindo o diálogo e uma conciliação entre os dois pensamentos.
Temos que o ser humano é uma alma, ou espírito, que se projeta num corpo animal, biológico, ou seja, que momentaneamente está encarnado. E apesar dessa posição espiritualista, não descarta, nem menospreza, a condição material, mesmo que passageira, pois aqui estamos envergando um corpo físico, dele necessitamos para a experiência humana no planeta e, portanto, temos uma dualidade interativa espírito-corpo. O corpo procede do arranjo biológico da concepção, desenvolve-se e, com o tempo, esgota suas energias até o fenômeno da morte acontecer, quando seus elementos constitutivos retornam à natureza. O espírito (alma) procede do ato da criação divina, evolui através das experiências e aprendizados proporcionados pelas diversas encarnações, até atingir o estado de perfeição a que se destina, vivendo na dimensão espiritual antes e depois da existência corpórea.
Como sabemos sobre nossa imortalidade? A intuição sobre essa verdade está em nossa consciência profunda e, além disso, está nos diversos fenômenos mediúnicos – ou psíquicos – presentes em todas as épocas da humanidade, e registrados em farta literatura, tanto religiosa quanto leiga, e também científica.
Várias crenças religiosas, ocidentais e orientais, assinalam a existência de locais específicos para morada da alma humana depois da morte, sempre de acordo com o que cada um faz na sua vida aqui na Terra, pressupondo, portanto, a sobrevivência da alma ao fenômeno da morte. Ora, se a alma sobrevive, isso significa que já existia, pois como pode sobreviver o que antes não existia?
A condição da vida espiritual está sempre de acordo com os valores que cultivamos durante a encarnação, e nosso planeta é verdadeira escola para o espírito, com expiações e provas que nos remetem a valorosos aprendizados, reparo de erros anteriormente cometidos, e construção de um futuro mais feliz.
Embora a condição humana na Terra seja relativa e passageira, ela é muito importante, sendo dádiva divina para o nosso progresso, que deve ser feito não apenas no horizonte intelectual, mas igualmente no horizonte moral. Como vemos, espírito e matéria se conjugam. Nem viver em contemplação, nem viver pelas sensações, é preciso ter equilíbrio, o que somente se alcança com o uso do bom senso. Essa é a proposta do Espiritismo, conforme o encontramos nas obras de Allan Kardec.
Os ensinos dos espíritos superiores sempre nos remetem à questão moral da vivência humana, resgatando os ensinos de Jesus, pois ele é o guardião da Terra. E Jesus, quando aqui esteve, não fundou uma igreja, não criou uma doutrina religiosa e, portanto, não está, com exclusividade, nesta ou naquela igreja. Jesus está presente nos corações que desejam compreender a realidade espiritual da vida e se esforçam em praticar a caridade, e isso independe de ser adepto desta ou daquela doutrina religiosa, deste ou daquele templo.
O Espiritismo possui um grave e profundo compromisso com o Cristianismo, pois representa o Evangelho em espírito e verdade, aliando a religião com a ciência, a realidade material com a realidade espiritual da vida. A condição humana fica exaltada pela transcendência que adquire diante da realidade do espírito imortal, deitando por terra o egoísmo e o orgulho que tantos males têm engendrado na história evolutiva da humanidade.