Autor: Rogério Miguez
Diante de tantas doutrinas, filosofias e religiões propondo a salvação, quem não gostaria de seguir exatamente aquela que seguramente poderá conduzir-nos a um porto seguro ao término desta viagem através dos mares nem sempre calmos de nossa presente vida?
Antes de nos lançamos nos oceanos de mais uma existência, de modo geral, houve uma preparação com variadas providências no plano espiritual: programas de estudo, rotinas de trabalho, atividades mil, visando à nossa estada em um mundo material com pleno aproveitamento, em mais uma etapa de aprendizado nesta escola que vem nos aceitando como estudantes há milênios: a nossa querida Terra.
É costume quando o viajante parte para uma nova jornada a um lugar longínquo, resguardar-se com toda a sorte de utensílios e recursos que poderá precisar durante a sua estadia no novo local ao qual se destina. Contudo, ao chegarmos mais uma vez na Terra, há o provisório esquecimento do passado. Sendo assim, em tese, só poderemos contar com as intuições e reminiscências daquilo aprendido na erraticidade1.
Desta maneira, precisamos ajuizar como poderemos escolher a filosofia de vida a seguir de modo a garantir a nossa redenção mais à frente, conduzindo-nos pouco a pouco, mesmo diante de tempestades e borrascas, a um estável e seguro ancoradouro.
Cremos ser a melhor âncora de salvação o aprendizado e a vivência das lições do Mestre Jesus. Dentre outras propostas e exemplos do Rabi da Galileia, temos uma advertência que, tudo indica, ainda não foi bem absorvida pelos espíritas. Contudo, independentemente se atendemos ou não esta exortação do Cristo, a ampulheta de nossa vida já começou a contar o tempo faltante até a nossa desencarnação.
Esta magna lição foi registrada no Evangelho de Mateus e versa sobre uma vinha e os diversos trabalhadores assalariados para nela atuar.
Allan Kardec, observador, previdente, o bom senso encarnado, não deixou passar em branco esta importante passagem, registrando em sua terceira obra básica um capítulo inteiro sobre o tema intitulado: Os trabalhadores da última hora. É interessante destacar: este particular capítulo, é um dos poucos que não contempla comentários do Mestre de Lyon; considera apenas quatro instruções dos Espíritos, e que instruções, pois uma delas, a última, é de autoria de nada mais nada menos do que Jesus, o Espírito de Verdade.
Nesta instrução, transcorridos dois mil anos, nota-se mais uma vez o próprio Nazareno advertindo-nos sobre a separação entre os trabalhadores fiéis e os que apresentam aproveitamento apenas aparente. Estes últimos, por exemplo, cremos, são aqueles que não se interessam de fato pela Doutrina, pois sequer se esforçam por aprendê-la, muito menos ainda em vivê-la e tampouco em divulgá-la.
São os espíritas “semanários”, ou seja, frequentam a casa espírita “religiosamente” uma e somente uma vez por semana, tomam o passe, quando possível levam garrafa de água para ser fluidificada, escutam uma exposição espírita e voltam aos seus lares vivendo da mesma forma como vem vivendo ao longo de muitas vidas. Ah…, é fato, quando estão de férias passam longe de qualquer casa espírita, voltando “refeitos” para novas e importantíssimas participações como ouvintes das lições espíritas e recebedores de passes, sem esquecer é claro, da ingestão da água fluidificada ao final da reunião.
Como esperar salvar-se, navegando pelos mares da existência sem nenhuma preocupação com a própria melhoria, aguardando a chegada na aduna espiritual, acreditando que a “fiscalização” não perguntará:
- O que fez de sua vida?
- Como a viveu?
- Que bens legou aos que estiveram convivendo com você?
- Criou algo duradouro e útil ao próximo?
- Distribuiu alegria e esperança aos desesperados que encontrou no seu caminho?
- Bem cumpriu a sua particular missão?
- Venceu as suas provas?
- Reclamou de suas expiações, ou bem suportou-as?
- Trabalhou com boa vontade?
- Quando integrado às atividades, atuou sem desinteresse outro a não ser a caridade e o bem do próximo?
- Não se furtou a colaborar sempre que convocado?
- Sacrificou as suas ocupações fúteis em prol de seus irmãos de jornada?
- Levou consolo aos aflitos?
- Silenciou diante das rivalidades evitando dano à obra?
- Na atividade profissional se deixou levar pelos apelos tortuosos da atualidade, ou manteve-se firme atuando com honradez e lisura em seu ambiente de trabalho?
- Em suma, como seguidor da Doutrina Espírita, como se conduziu diante do conhecimento dos seus princípios?
Se estivermos em dúvida como responderemos estas poucas indagações, há dois mil anos foi apresentada à humanidade a mais segura âncora da salvação, como dito anteriormente: A doutrina de Jesus, o Salvador por excelência, revivida plenamente pela proposta espírita.
Somos os trabalhadores da última hora. Conscientizemo-nos disto e reflitamos detidamente sobre esta realidade. Para alguns ainda há um bom tempo para trabalhar e agir em nome de sua própria evolução, para outros não há mais quase areia para escoar na ampulheta da vida, contudo, mesmo estes últimos que mais uma vez desperdiçaram total ou parcialmente esta nova chance de evoluir não devem desesperar-se, pois Deus não se esquece de nenhuma de Suas criaturas e através de Sua inesgotável misericórdia nos amparará sempre, concedendo-nos novas oportunidades para evoluir sem cessar, até que estejamos em rumo certo, guiando o nosso barco da vida pelas luzes dos seguros faróis deixados pelo Cristo, através de seus inesquecíveis exemplos de vida.
Nota
1ERRATICIDADE – estado dos Espíritos errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos de suas diversas existências corpóreas. (Allan Kardec– Instruções Práticas sobre as manifestações espíritas – Vocabulário espírita).
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