Autor: Marcus De Mario
Quando falamos da realização de um curso para professores, ou quando nos debruçamos sobre um programa de estudos para os alunos, normalmente partimos do nosso conhecimento adquirido ao longo de estudos e experiências práticas, para definir os conteúdos que serão estudados pelos professores ou pelos alunos. Essa é uma tendência muito forte em todos nós educadores, mas uma tendência que nos leva muitas vezes apenas a ensinar conceitos, nem sempre do interesse daqueles que vão participar conosco do processo educativo. Por exemplo, podemos eleger o tema Desenvolvimento Psicogenético da Criança e fazer uma palestra sobre o mesmo, mas estaremos apenas falando de conceitos, sem levar em conta a realidade vivencial do nosso público. Assim, na melhor prática educacional, devemos antes solicitar aos professores, ou aos alunos, conforme o caso, que elejam suas demandas, seus interesses, seus problemas, para que possamos, em conjunto, desenvolver temas e soluções não apenas de forma conceitual, teórica, mas de forma prática. Isso equivale a perguntar: o que vocês querem aprender?
É claro que um programa de estudos não será estruturado apenas com o que nosso público quer aprender. Muitas vezes entre um tema e outro é preciso fazer uma ligação pedagógica estruturante, e é aqui que o educador intervém, estabelecendo, ou sugerindo, um tema que fará a ponte entre dois temas apresentados por quem vai estudar. Nessa interação entre educador e educandos está a chave do verdadeiro processo educacional, que não mais irá ocorrer de cima para baixo, do educador para os educandos, como algo imposto, mas obedecendo demandas originadas por quem quer aprender e vive o dia a dia da educação tanto na escola, na família e na sociedade.
Esse processo dialógico de interação educador/educandos é um processo libertário das consciências, permitindo a livre expressão, em encontros dinâmicos, muito além de aulas monótonas, absolutistas e que levam muito mais à memorização do que à apreensão.
Um encontro do tipo roda de conversa permeado com trabalho de pesquisa em grupo é muito mais dinâmico, prazeroso e educativo do que um falatório único do educador, como se este fosse aquele que detém o conhecimento, e somente ele, e os outros ali estivessem na sua ignorância somente para aprender. Mas quem disse que os educandos são ignorantes, não têm conhecimentos e também vivências muito ricas?
Quando os educandos participam, interagem, fazem parte do processo como agentes não excluídos, tudo tende a melhorar, a enriquecer, e a educação consegue atingir sua finalidade que é o desenvolvimento integral do ser humano, que terá autonomia, criticidade, ética, solidariedade, responsabilidade e senso moral para fazer as melhores escolhas para si e para os outros.
Essa educação libertária incomoda muitas pessoas, principalmente as que estão no poder, pois ela faz pensar, e quem está no poder não quer que as pessoas saibam pensar com autonomia e senso crítico.
É por esse motivo que temos assistido o desvirtuamento da educação a partir do engessamento pedagógico das escolas, transformadas em meros estabelecimentos de ensino de programas de estudo, os quais não foram debatidos pelos educadores, e nem foram ouvidos os educandos. Nesse sistema, os teoristas e as autoridades elegem o que se acha que deva ser estudado e ensinado, e ponto final, não há espaço para divergência, para questionamento.
Por algum motivo, não sabemos qual, em alguma época foi estabelecido que a escola não tinha que se envolver com o desenvolvimento emocional do educando, o que seria de estrita competência da família, criando uma ruptura perversa que caiu como um raio destruidor em nossa sociedade, causando males sem conta que nos afligem e continuarão a afligir enquanto isso não for revertido.
Por falar na família, o processo educacional deve contemplá-la junto com a escola, e também com a comunidade.