Autor: Marcus De Mario
Compete aos pais a formação moral dos seus filhos, e nisso está a mais sublime tarefa de um educador, tarefa essa que exige responsabilidade, verdadeira missão a que os pais não podem se furtar, respondendo pelos atos dos filhos enquanto estes se fazem dependentes. Em verdade, pais de consciência culpada pela má educação oferecida a seus filhos vivem dramas de remorso, mesmo quando estes já são adultos.
Há pais que por indolência do próprio caráter, apresentando uma culposa indiferença, estimulam os caprichos dos filhos, não lhes corrigindo as más tendências verificadas desde os primeiros instantes, porque a criança é um espírito que já traz as potencialidades a serem desenvolvidas, as tendências inatas que cumpre serem desenvolvidas, se boas, ou corrigidas, se más. Isso é competência primeira dos pais, educadores da alma infantil que lhes procura para receber no seio da família a preparação para o viver social.
Num mundo em que as más tendências do caráter predominam, a correção das mesmas é entendida como sendo o uso de métodos violentos. Tenta-se educar pelas surras, pelos castigos corporais, pelo uso de vocabulário degradante, quando a educação está no amor conjugado com a disciplina, está nos bons exemplos a que os pais devem se obrigar em dar a seus filhos.
Como podemos exigir o cumprimento de obrigações, como podemos deplorar comportamentos, quando somos os primeiros a não cumprir com essas mesmas obrigações e quando nossos exemplos não servem para serem seguidos?
Quantas vezes temos surpreendido mães utilizando de violência física acompanhada de palavrório fútil, porque seu filho pronunciou uma palavra de baixo significado? Como pode ela exigir cuidado com as palavras quando não dá exemplo? O filho, com naturalidade, pensará: “se minha mãe pode usar essas palavras, por que eu não posso?”. Mas não lhe oferecem explicações, apenas atitudes violentas, nem se preocupam em realizar uma autoeducação que seria muito mais proveitosa para os olhos da infância.
Estimulam-se vícios os mais diversos e depois se queixam do comportamento que os filhos observam na família e nos outros meios sociais. Na verdade os pais deveriam queixar-se de si mesmos. Deveriam realizar um exame de consciência, não quanto aos esforços de proporcionar a educação ou a ilustração da inteligência, mas em relação ao que fazem no capítulo da educação moral.
Mesmo quando os pais revelam certo conhecimento do seu papel na formação dos filhos, desviam a educação para a total liberdade, deixando os filhos livres para fazer o que quiserem, pois assim eles crescerão sem traumas e sem as interferências prejudiciais da autoridade que pode lhes cercear o desenvolvimento. Essa explicação não tem respaldo no bom senso nem nas pesquisas pedagógicas. A liberdade sem responsabilidade cria verdadeiros monstros. Como aquelas crianças que, numa visita, precisam ser agarradas pelos pais para não destruírem a casa alheia, de tão acostumadas a agirem plenamente em liberdade, sem consideração à propriedade e aos direitos do semelhante.
Ou aquela criança sem cerimônia, que não diz para onde vai, com quem vai, e chega como autoconvidada, sem dar maiores satisfações, demonstrando que respeito é matéria ultrapassada no processo educacional. Será mesmo?
Estes exemplos, que denominamos cenas de educação familiar, acontecem sob a indiferença ou o beneplácito dos pais, que a tudo assistem sem qualquer reação, espantando-se mais tarde quando os filhos os deixam de lado e enveredam pela filosofia materialista de enxergarem apenas a si mesmos, sem outro sentimento. Esse é o resultado do descuido com a formação do caráter, afastando o educando da sua realidade de alma criada por Deus para o progresso, o que depende nesta existência da tarefa educacional dos pais, que, como já o dissemos, tem a missão de educar e não simplesmente de cuidar.
O ideal da formação moral e a família
Desde que compete aos pais educar seus filhos, tendo nisso uma missão pela qual devem responder, e sendo a educação o desenvolvimento das potencialidades morais e intelectuais, onde os exemplos e sentimentos afetivos preponderam na formação do caráter, é, sem dúvida, que encontramos na família o ideal da educação moral.
A criança, nos primeiros estágios de seu desenvolvimento, é dependente dos cuidados e dos afetos dos pais, sendo fortemente influenciada pelos estímulos que recebe por parte dos que a devem proteger e amar. Ninguém e nenhuma instituição pode substituir as noites mal dormidas de quem vela a cabeceira do filho. Quem fornece as primeiras palavras a serem ouvidas pelo recém-nascido? Quem lhe entrega sorrisos, abraços, carinhos? Quem chora junto com o choro da criança, ainda um ser frágil lutando por dominar o organismo físico? São os pais, missionários da educação moral de seus filhos no ambiente familiar.
A formação moral é feita através de alguns elementos que sobram na organização familiar.
O primeiro deles é o exemplo, empregado pelos pais até mesmo de forma automática, semiconsciente. Os pais são espelhos em que os filhos se refletem, por isso os cuidados com as atitudes e as palavras diante deles e também diante dos outros, pois o exemplo não pode ser um aqui e outro ali. No exemplo encontramos a força da educação moral.
O segundo elemento encontrado na família é a conduta afetiva. Para uma boa formação moral é imprescindível integrar o educando numa atmosfera de bons sentimentos. É necessário que ele se sinta aceito, estimulado a mostrar quem ele é e quais são suas tendências e suas potencialidades. O afeto entre pais e filhos, educadores e educandos, possui alcance moral muito maior que qualquer recurso didático.
Temos o terceiro elemento, o sentido de união, muito importante para fazer com que os filhos, sentindo-se protegidos, amparados e estimulados, possam dar seus primeiros passos com segurança, sabedores que os pais ali estão para ampará-los quando necessário, mas sem coibir-lhes as experiências, os eventuais erros e acertos, experiências essas que serão feitas procurando-se sempre o melhor para um caráter bem formado, consciente.
A família é detentora dos elementos primordiais para levar a efeito a educação moral, entretanto, nem sempre consegue resultados satisfatórios, isso porque a família vem sofrendo um processo de afrouxamento de seus laços, tendo perigosamente caminhado para os interesses egoístas e imediatos das coisas que dizem respeito somente ao prazer material, e de forma individual. Siga-se o caminho dos interesses coletivos e espiritualistas e a missão educadora da formação moral será resgatada por essa mesma família.
Pelo fato de termos na família o ideal da formação moral não se segue que somente ela possa trabalhar esse aspecto, primordial, da educação.
A moral também pode ser, e deve ser, objeto da escola. As metodologias pedagógicas só podem ser consideradas completas levando em conta a educação da moral.
Na educação, a família não pode ser desprezada. Sua influência é por demais sensível, e boa parte dos males do fracasso do ensino se deve a termos relegado a família a plano secundário, desligando-a da escola, do sistema escolar, das ideias educacionais e das filosofias da educação, e, numa outra vertente, retirando dela a parte que lhe cabe na formação da estrutura da sociedade.
Enquanto a família estiver reduzida a um grupo que habita momentaneamente uma casa, sem maiores vínculos, estaremos envolvidos com graves questões que somente uma visão da educação moral do homem poderá resolver, e que o Espiritismo tão bem elucida com a imortalidade da alma a reencarnação e a destinação futura do espírito que hoje se encontra na experiência da existência humana.