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A escola é uma família que reúne pessoas

Autor: Marcus De Mario

Aos meus olhos, ensino escolar que não abranja todo o Espírito, como exige a educação do homem, e que não seja construído sobre a totalidade viva das relações familiares conduz apenas a um método artificial de encolhimento de nossa espécie.”

Pestalozzi

O educador suíço Pestalozzi escreveu essas palavras em 1799, após o sucesso de seu empreendimento pedagógico no Orfanato de Stans, quando recolheu e educou mais de 40 crianças vítimas da guerra napoleônica, muitas delas órfãs, outras de pais muito pobres, todas perambulando pelas ruas como mendigas à procura do que comer. Ele era o primeiro a levantar e o último a se recolher para dormir, e as tratava como um verdadeiro pai. Essa filosofia Pestalozzi levou depois, em 1804, para o Instituto de Iverdon, escola por ele criada e que recebeu enormes elogios, sendo considerada à sua época como um modelo que devia ser seguido por todas as escolas.

Diz o mestre que o ensino dado na escola precisa abranger todo o espírito, ou seja, precisa levar em conta o ser integral com todas as suas potencialidades, habilidades e competências. Deve ter igualmente por base a riqueza das relações familiares. Se isso não for feito teremos um encolhimento, um empobrecimento cultural, da humanidade.

Basta um olhar para o que hoje temos em nossa sociedade para verificar o acerto de Pestalozzi nessa sua afirmação. As escolas trabalham um ensino compartimentado, engessado, distante da realidade da vida, e que não leva em conta o ritmo de aprendizado de cada criança, nem suas experiências vivenciais. Não há termos de comparação da escola com a família: há um abismo entre elas.

Informa ainda nosso educador da humanidade:

Eu despertava os sentimentos das virtudes antes que se fizessem discursos sobre elas, pois considerava prejudicial tratar com as crianças de alguma coisa enquanto não soubessem do que falavam.”

Hoje temos uma educação baseada no ensinar muitas e variadas coisas: Matemática, Língua Portuguesa, Física, Química, Biologia, História, Geografia, Inglês, Informática, Robótica, Balé, Natação, Esportes e outras coisas, entretanto vemos alunos, crianças e jovens, atarantados, atrapalhados, perdidos, cismarentos e descartando sumariamente boa parte do que lhes é ensinado, pois não sabem para que servem. São conhecimentos utilizados apenas para fazer as provas e tirar as notas necessárias que lhes darão passaporte para o ano letivo seguinte, ou para o próximo segmento de ensino.

Quanto ao desenvolvimento das virtudes, do senso moral, da ética, da empatia … a maioria das escolas não trabalha, nem mesmo como o famoso tema transversal, de que tanto se falou e agora caiu no ostracismo de mais uma quimera pedagógica, ou, talvez melhor dizendo, um pesadelo pseudo pedagógico, mais uma das invenções dos técnicos em educação tendo ideias mirabolantes em seus gabinetes de trabalho, sem nunca terem colocado os pés no chão da escola, na prática diária com crianças e adolescentes.

A escola somente existe porque nela temos pessoas dotadas de sentimento e inteligência, cada uma em seu grau particular de desenvolvimento, com suas habilidades, com seus conhecimentos, com suas dificuldades e também com seu potencial humano. Quando a escola vai reconhecer essa verdade?

Que adianta querer ensinar se o aluno não é levado em conta? Se ensinamos sem dizer para que serve o que se ensina? Se menosprezamos a educação em virtudes, a educação que deve permitir o desabrochar da pessoa de bem, que saiba se colocar no lugar do outro?

As novas gerações precisam ser tocadas, sensibilizadas no âmago de suas almas. Esse trabalho educacional deve ser prioridade, pois é o único que previne as desigualdades sociais, as injustiças e a violência.

Pestalozzi já sabia disso no final do século 18, e mostrou, na primeira metade do século 19, que é perfeitamente possível, sem nenhum mistério, fazer a escola trabalhar, junto com a família, pela formação do ser integral, ético, solidário e utilizando a inteligência para o bem comum.

Como é bom reler a Carta de Stans, que na época ele dirigiu a um amigo particular, mas que bem poderia ter escrito para todos os pedagogos e professores.

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