Autor: Marcus De Mario
Em todas as épocas da humanidade procuramos entender o amor, acentuando-se a procura desse entendimento na Antiga Grécia, com o advento dos livres pensadores e filósofos, e a verdade é que nunca paramos de discutir o amor, seu sentido, sua aplicação, numa busca pela sua compreensão. Nesse esforço muitas vezes nos equivocamos, chegando mesmo a fazer do amor apenas e tão somente um impulso sexual primitivo, o que é bastante questionável, mesmo porque quase todos concordam que o amor é um sentimento, um impulso do coração, que pode ou não contemplar o sexo quando se trata da relação entre dois seres humanos. Há o amor da amizade, o amor da fraternidade, o amor do altruísmo, e assim por diante. Sentimento não se confunde com sexualidade. E o que o Espiritismo tem a nos oferecer nesse estudo sobre o amor?
Passemos a palavra para os Espíritos Superiores, que não deixaram de abordar o tema na Codificação Espírita, como vemos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando o Espírito Fénelon, em mensagem escrita no ano de 1861, na cidade de Bordeaux, França, e publicada no item 9 do capítulo XI, assim se expressa:
O amor é de essência divina. Desde o mais elevado até o mais humilde, todos vós possuís, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. É um fato que tendes podido constatar muitas vezes: o homem mais abjeto, o mais vil, o mais criminoso, tem por um ser ou um objeto qualquer uma afeição viva e ardente, à prova de todas as vicissitudes, atingindo frequentemente alturas sublimes.
Temos duas afirmações no início do texto: 1. O amor é de essência divina; 2. Todos possuímos, como princípio, o amor, tendo que desenvolvê-lo. No entendimento espírita, Deus, causa primária de tudo e inteligência suprema, é Amor e, portanto, não poderia deixar de inocular o amor em suas criaturas. Ele é o amor em plenitude, nós somos o amor em desenvolvimento. Então, o amor é de essência divina, motivo pelo qual Jesus, o Cristo de Deus, ou seja, o Enviado do Senhor, o Messias, o Mestre de todos os mestres, nos incentivou a perdoarmos as ofensas e a amarmos os outros, pois somos irmãos, criados pelo mesmo Pai, e destinados a atingir a maior pureza espiritual possível, sem exceção de quem quer que seja.
Ao dizer que possuímos a centelha divina do amor no fundo do coração, Fénelon está nos dizendo que possuímos o princípio do sentimento do amor no cerne de nossa alma, desde o ato da criação divina, o que significa que nenhum Espírito está deserdado do amor. Ele pode estar desviado desse sublime sentimento, no sentido de tê-lo aviltado, mantendo-o sufocado pelo egoísmo e orgulho, mas o amor ali está, latente, aguardando oportunidade para desabrochar.
Lembremos que estar um criminoso, estar embrutecido, estar em movimento pelos instintos e sensações, é apenas um estado transitório do ser imortal, pois a lei divina que nos impulsiona, como bem estudado em O Livro dos Espíritos, é a lei do progresso ou lei de evolução. Ninguém fica parado eternamente num determinado estado, pois cedo ou tarde sentirá a necessidade de caminhar para frente e alçar voos mais altos, sendo sempre auxiliado por aqueles quer o amam e já se encontram num estado espiritual superior.
Aqui mesmo na Terra temos exemplos tocantes de pessoas extremamente egoístas, violentas, embrutecidas, ditas sem sentimento, que, diante de, por exemplo, uma criança, ou do carinho de uma mãe, ou de uma recordação da própria infância, se quedam diante do sentimento do amor, daí a expressão “os brutos também amam”. Podem ainda não conseguir amar com toda profundidade, mas em certas circunstâncias perdem as forças diante do amor.
O que temos de fazer, nesse processo de desenvolvimento do amor, é trabalhar o sentido da humanização, combatendo a indiferença e a insensibilidade, o que em outras palavras significa destruir o egoísmo e o orgulho que teimamos em cultivar. É um trabalho penoso, paciente, que devemos fazer conosco, antes de querer fazê-lo com os outros. A força do nosso exemplo deve ser a garantia do processo educacional de moralização e espiritualização da humanidade.
Não esqueçamos que o amor é de essência divina, e que todos temos o amor lá no fundo da alma, esperando o momento para desabrochar e frutificar. Temos que permitir que isso aconteça.