Autor: André de Sena
No décimo sexto capítulo do livro “Joana d’Arc Médium”, intitulado “Joana d’Arc e o Ideal Céltico”, o autor Léon Denis discorre sobre os celtas, esse povo indo-europeu que ocupou extensas regiões do Velho Mundo, inclusive a Gália Transalpina, cujo território equivale, de forma aproximada, à atual França.
Em uma linguagem inspirada e, na maior parte do tempo, extremamente poética, Denis traz informações relevantes sobre a religião e a filosofia dos druidas, os sacerdotes do povo celta, classe da qual o educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, codificador da Doutrina Espírita, fez parte em uma de suas encarnações, quando tinha o nome de Allan Kardec.
“A base essencial do druidismo era a crença nas vidas progressivas da alma, na sua ascensão pela escala dos mundos”, escreve Denis. A partir dessa síntese, pode-se perceber que os mais instruídos entre os gauleses já tinham conhecimento não apenas da imortalidade da alma, mas também da pluralidade das existências no plano material, por meio da qual os espíritos se depuram. Conceitos muito semelhantes a esses, aliás, figuravam em culturas e religiões provenientes de outras partes do globo, como o hinduísmo, sendo isso uma prova de que o Cristo envia seus mensageiros para amparar todos os povos, em todas as épocas.
Esse capítulo do livro também retrata como os habitantes da Gália lidavam com a mediunidade. Isso fica claro no trecho em que Denis traz informações sobre Vercingetórix, o chefe da tribo dos Avernos, personagem histórico que liderou o levante dos gauleses contra os romanos, iniciado em 52 a.C.:
“(…) Vercingétorix se entretinha, à sombra da ramada dos bosques, com as almas dos heróis, mortos pela pátria. Como Joana, outra personificação da Gália, o jovem chefe ouvia vozes misteriosas.
Um episódio de sua vida prova que os gauleses evocavam os Espíritos nas circunstâncias graves.”
Denis então descreve a visita de Vercingetórix à ilha de Sein, na costa da Bretanha, região situada no oeste do que hoje é a França. Naquela ocasião, o jovem guerreiro encontrou-se com as druidisas que habitavam aquele local sagrado:
“A pequena distância da costa sinistra, em meio de parcéis que a espuma dos escarcéus assinala, emerge uma ilha, outrora recamada de bosquetes de carvalho, sob cujas frondes se erguiam altares de pedra bruta. É Sein, antiga morada das druidisas; Sein, santuário do mistério, que os pés do homem jamais conspurcavam. Todavia, antes de levantar a Gália contra César e de, num supremo esforço, tentar libertar a pátria do jugo estrangeiro, Vercingétorix foi ter à ilha, munido de um salvo conduto do chefe dos druidas. Lá, por entre o fuzilar dos relâmpagos, diz a legenda, apareceu lhe o gênio da Gália e lhe predisse a derrota e o martírio.”
O levante liderado por Vercingetórix chegou ao fim no cerco de Alésia, em 52 a.C., quando as tropas do general Júlio César derrotaram os gauleses. O jovem guerreiro, então com 20 anos de idade, entregou-se aos inimigos, que o levaram para Roma como troféu. Permaneceu encarcerado até 46 a.C., quando foi executado.
Denis faz uma ligação entre a rendição do líder averno e a mensagem que ele havia recebido do gênio da Gália na ilha de Sein:
“Certos fatos da vida do grande chefe gaulês não se explicam senão mediante inspirações ocultas. Por exemplo, sua rendição a César, próximo de Alésia. Qualquer outro Celta teria preferido matar-se, a se submeter ao vencedor e a servir-lhe de troféu no triunfo. Vercingétorix aceita a humilhação, a fim de reparar pesadas faltas, que cometera em vidas antecedentes e que lhe foram reveladas.”
Fontes
https://files.comunidades.net/portaldoespirito/11__Joana_DArc_Medium_1910.pdf
https://www.britannica.com/biography/Vercingetorix
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/julio-cesar-x-vercingetorix-435327.phtml