Autora: Juliana Demarchi
Paulo, o apóstolo dos gentios, advertiu numa de suas epístolas: “Jovens, eu vos escrevo porque sois fortes, e as palavras do Cristo permanecem em vós”. Refletindo a respeito desta frase, olhamos para as Casas Espíritas e nos entusiasmamos com adolescentes e jovens participando ativamente, tomando parte das tarefas e buscando o conhecimento e a prática do Evangelho do Cristo. Estes irmãos devem receber o nosso investimento, pois são exatamente os que levarão o trabalho adiante.
Desde março deste ano, ao lado dos amigos e companheiros, Lícia e Thales, iniciamos as reuniões do Grupo de Jovens, Dulce Ângela, em Cambé, o que tem sido uma experiência fantástica. Logo nas primeiras reuniões foi possível perceber, além dos participantes encarnados, a presença ímpar de Espíritos de jovens desencarnados, enchendo a sala com uma vibração dinâmica e cheia de alegria que nos contagia todos os sábados. Estes Espíritos se apresentam como trabalhadores da Casa, e, assim como nós, também são aprendizes do Evangelho. Os temas estudados surgem de sugestões feitas pelos próprios participantes, sendo abordados com base nas obras de Kardec, na coleção André Luiz, Léon Denis e outros tantos subsídios de que dispomos na doutrina. Estamos conscientes de que a responsabilidade é grande e nossa vontade e disposição em servir é que nos fazem seguir com o trabalho.
Paulo tinha mesmo razão ao enfatizar a força da juventude, pois o frescor dos anos é uma fonte poderosa perante os desafios. Estando encarnado ou não, o jovem é capaz de grandes feitos, basta saber canalizar toda esta energia e potencial para o bem. Há inúmeros relatos, inclusive através de Chico Xavier, da abnegada ação de grupos como estes no resgate a outros que desencarnam e se encontram perdidos, revoltados e carentes de socorro no plano espiritual. O jovem é vibrante, pleno de esperança, e contagia aos que vivem ao seu redor, e este potencial não deve ser aproveitado somente em ações esporádicas na Casa Espírita, mas eles precisam a todo tempo se sentirem acolhidos, atraídos e incluídos, especialmente nos estudos, pois um bom espírita é aquele que aprende a amar e instruir-se.
Muitas vezes os pais procuram ajuda no aconselhamento fraterno ou até mesmo de profissionais, trazendo a queixa de que não se entendem com os filhos, parecendo pertencerem a mundos diferentes. A verdade é quase está mesmo, porque nos esquecemos rápido de que um dia também fomos como eles, agitados por natureza, insuflados pela impressão de tudo saber e pela sensação de poder mudar o mundo. O descompasso característico entre pais e filhos se dá também por outros motivos, como na hora de cumprir determinadas incumbências diárias, em que os mais novos pensam que têm todo o tempo do mundo e agem praticamente em slow motion – câmera lenta, enquanto os mais velhos contam com a preciosa pérola da experiência e a pressão dos compromissos, o que a princípio não é nada atraente para eles. Portanto, ritmo e compasso se diferem e os Espíritos incluídos num programa reencarnatório familiar nem sempre vibram em sintonia harmônica.
Como poderíamos fazer encontrar quem anda mais rápido com aquele que parece não querer sair do lugar? A solução para este e todos os outros dilemas sempre é o amor. Somente o amor é capaz de ser o ponto de convergência dos diferentes, dos opostos e antagônicos. A receita para aprendermos a amar está inscrita nas palavras do Cristo. O Evangelho no Lar é fundamental, porque quando a família se reúne em torno dele, todas as divisões e distâncias ficam em suspenso e criamos pontes de acesso, ligações que nos farão reencontrar aqueles a quem amamos, mas, infelizmente, por causa de nossa inferioridade e imperfeição, nem sempre compreendemos e aceitamos.
É comum vermos pessoas que quando crianças frequentavam a Casa Espírita encaminhadas pelos pais ou avós, mas que ao chegarem à adolescência simplesmente se afastaram. Digo que fizeram isto no período mais impróprio, pois é uma fase de muitas dúvidas, instabilidades emocionais, e, como o próprio Kardec nos relata, é o período em que o Espírito revela quem de fato é. Este afastamento em alguns casos representa grandes prejuízos na evolução espiritual. Apesar de nunca ser tarde demais, parte destas pessoas retorna para a doutrina anos mais tarde, quando já se encontra machucada e com a vida complicada. É preciso que a família oriente, a fim de evitar que se abra esta lacuna em suas histórias.
Nossos jovens espíritas precisam ter respaldo e aprender a testemunhar a vivência espírita cristã onde quer que estejam inseridos, seja na família, na escola, no trabalho e comunidade em geral. Testemunhar o amor do Cristo num mundo em que o amor de muitos parece ter-se esfriado, onde temos visto grande parte valorizar mais o verbo ter do que o ser, e, infelizmente, num tempo onde ser bom e amável está quase fora de moda. Se eles se instruírem do rico e pleno conteúdo da doutrina, não terão medo e nem vergonha, mas poderão ser instrumentos eficientes para que os Espíritos superiores atuem através deles, e cumprirão as palavras do Cristo – “que brilhe a vossa luz diante dos homens”.
Nota Juventude Espírita
É importante que os pais ou responsáveis incentivem a participação do jovem na casa espírita, porém sem forçar (temos conhecimento de histórias terríveis)
Existem jovens que mesmo de família espírita ou conhecendo a doutrina desde a infância, preferem não a seguir, ou mudar de crença nas outras fases da vida. Isso não é problema.
Em anos de observação, constatamos que os jovens se sentem mais interessados em participar e engajar quando são bem acolhidos, ouvidos e, conseguem construir laços de amizade que vão além dos limites da casa espírita.
O consolador – Ano 6 – N 274 – Crônicas e Artigos