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A Guerra de Troia e o movimento espírita

Autor: Rogério Miguez

As aventuras de Ulisses, um dos mais conhecidos heróis gregos (também conhecido por Odisseu), são relatadas essencialmente na Odisseia, um dos dois Poemas Homéricos. Este herói era rei de Ítaca, uma ilha grega do mar Jônico.

Ulisses teve papel destacado no cerco à fortaleza de Tróia, seja lutando entre os guerreiros gregos, seja usando a sua inteligência e ardis para ajudar na condução daquela campanha guerreira. Contudo, talvez a mais destacada participação da famosa personagem grega nesta épica batalha tenha sido sugerir a construção de um cavalo de madeira, deixando-o aos troianos, de modo a fazê-los supor que os invasores gregos haviam desistido de Troia, tudo indicando que fosse uma cidade inexpugnável, após dez anos de cerco à cidadela.

Os troianos recolheram com alegria o cavalo-presente deixado às portas da cidade e o trouxeram para dentro de suas maciças muralhas, festejaram e se embriagaram, acreditando haver se livrado de seus odiosos inimigos. Desconheciam haver dentro dele uma guarnição de guerreiros gregos. À noite, enquanto os troianos dormiam, os gregos saíram das entranhas do cavalo e abriram os portões da cidade por onde entraram milhares de soldados, que estavam escondidos nas cercanias de Troia, conquistando e finalmente devastando-a.

Este ardil foi tão marcante, que no mundo da informática batizaram com o mesmo nome softwares maliciosos que buscam penetrar nas defesas dos computadores e similares: Cavalos de Troia. O objetivo destas rotinas é abrir uma porta no dispositivo, de maneira semelhante ao feito pelo ardil do cavalo de madeira, criando condições para uma possível invasão externa.

A imagem não poderia ser mais atual e bem aplicável ao movimento espírita. Possuímos uma cidadela muito bem construída de conhecimentos impecáveis sobre o funcionamento das leis eternas, deixadas por um conjunto de elevados e abnegados Espíritos, quando pela pena de Allan Kardec, nos esclareceram sobre lições imortais abordando aspectos de nossa realidade e sobre a vida espiritual.

Detemos um acervo considerável de livros, mensagens, palestras gravadas, e toda a sorte de informações complementares sobre a Doutrina, registradas por médiuns e escritores espíritas equilibrados e bem orientados, muito bem assessorados pelos seus dedicados guias protetores, fortalecendo a nosso quartel de informações.

Recebemos exemplos de vidas, notadamente a de Jesus, em que podemos nos mirar para repetir os testemunhos deixados por este Espírito Puro, e tantos outros, que embora não tenham alcançado o ápice da evolução, podem ser também referências para todos nós, ainda inseguros e titubeantes na jornada rumo ao Pai.

O nosso tesouro de corretos fundamentos é imenso, dentro de nosso castelo do saber temos joias preciosas representadas pelos ensinos imortais sendo derramados sobre a Terra há bom tempo, tudo para nos auxiliar em nosso progresso, entretanto, alguns, de igual modo, não se entende como, deixam de lado este conhecimento cristalino e sem máculas, abrem as portas do Centro Espírita, tal qual fizeram os antigos troianos, para que adentrem em seu interior os modernos Cavalos de Troia, belos por fora, porém, escondendo as suas torpezas e embustes, que tanto aprendemos e fomos aconselhados a não deixar penetrar na cidadela espírita.

O efeito se faz sentir nas agremiações espíritas acolhendo as propostas indecorosas, mas muito bem urdidas, permitindo se misturem ao conhecimento puro deixado há mais de século e meio pelo Codificador.

O resultado não se fez por esperar: discussões intérminas sobre pseudonovidades doutrinárias que se aventuram em entrar no movimento com ares de novas leis divinas, por exemplo, reencarnação no plano espiritual; debates acirrados, sobre a introdução de práticas estranhas nada possuindo sob respaldo dos princípios doutrinários, por exemplo, uso de vestimentas brancas, colares, utilização de luzes multicores nas técnicas de magnetismo, benção de alianças de casamento, batizados, correntes magnéticas de suposto elevado poder, novas e modernas técnicas de desobsessão, etc.; polêmicas infindáveis sobre opiniões particularíssimas contidas em  livros ditos espíritas, mas de reconhecidos propósitos antidoutrinários.

Estes são os representantes dos atuais Cavalos de Troia, se insinuando no Espiritismo, belos por fora, mas cheios de podridão por dentro, construídos em páginas de livros muito bem elaborados, com capas chamativas, reluzentes, policromáticos, com títulos assombrosos sobre guerras no plano espiritual, de modo a atrair e aprisionar alguns incipientes e rebeldes aprendizes da Doutrina. Os últimos agem tais quais insetos desavisados à noite procurando luzes tênues e artificiais, deixando-se levar pelas sugestões suaves, sutis, melodiosas feitas pelos conspiradores da boa ordem do movimento espírita na Terra do Cruzeiro.

Os invasores, construtores destes softwares maliciosos, são os médiuns sem instrução mediúnica haurida em O Livro dos Médiuns, alguns às vezes até sinceros; os pseudomédiuns obsidiados e seus acólitos do plano espiritual, deixando-se entrevistar, fotografar e filmar ao vivo, em programas de rádio e televisivos claramente desnorteados, pois lhes abrem as portas para atacar a fortaleza espírita, em um sinistro conluio de interesses pessoais e vaidades mil.

Até quando vamos permitir que adentrem nas organizações espíritas estas intromissões? Até quando fecharemos os nossos olhos à invasão metódica e sistemática que fazem as trevas para tentar implodir o movimento, seja através de meias verdades, seja por propostas estranhas, tudo revestido do mais apurado caráter da fraternidade e do ecumenismo, para bem serem aceitas por todos os imprudentes e precipitados?

Por qual razão, as bases doutrinárias não os satisfazem, para ainda incentivarem a vinda de Cavalos de Tróia, representando o engodo e a mentira, como se não bastassem aqueles habilmente oferecidos pelos perturbados de todos os tempos.

A transição planetária bate às portas da Mãe Terra, soando as trombetas de novos tempos, sinalizando que por aqui só permanecerão àqueles cumpridores de seus deveres, fiéis depositários do conhecimento que lhes foi legado por incontáveis entidades capacitadas e preparadas para tanto.

Tenhamos tento, sejamos prudentes, busquemos o bom senso, imunizemo-nos destes softwares mal-intencionados com os princípios doutrinários, hoje e sempre, único caminho impeditivo na aceitação dos contemporâneos Cavalos de Troia.

A melhor receita continua sendo o estudo metódico, continuado, no silêncio de nossa casa, ou em grupos constituídos de interessados aprendizes nas casas espíritas dos cinco melhores antivírus conhecidos no movimento espírita: O Livro dos Espíritos; O Livro dos Médiuns; O Evangelho segundo o Espiritismo; O Céu e o Inferno e A Gênese. 

Apesar desta preocupante realidade vale a pena a lembrança: “Sejam quais forem as barreiras que os homens lhe oponham, o Espiritismo cumprirá sua missão de transformação do mundo: com os homens sem os homens ou apesar dos homens” (Wantuil de Freitas).1

Referência

1 Kardec, Allan. Introdução ao estudo da Doutrina Espírita. Trad. Guillon Ribeiro. 2.ed. Rio de Janeiro: FEB. Terceira Parte: E o Porvir?

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