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A idade chega para todos – O exemplo ensina

Autor: Ricardo Capuano

Eutanásia: (grego euthanasía = morte fácil, morte feliz) – substantivo feminino – Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:

  1. Morte sem dor nem sofrimento.
  2. Teoria que defende o direito a uma morte sem dor nem sofrimento a doentes incuráveis.

“O homem não tem o direito de praticar eutanásia, em caso algum, ainda que a mesma seja a demonstração aparente de medida benfazeja. A agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a moléstia incurável pode ser um bem, como a única válvula de escoamento das imperfeições do Espírito, em marcha para a sublime aquisição de seus patrimônios da vida imortal.” “Nem sempre o sofrimento está atrelado ao resgate do passado, mas toda a vivência atrelada ao sofrimento leva ao aprendizado.”  Emmanuel, psicografia de Francisco Candido Xavier.

Em toda palestra que ministramos, perguntam nossa opinião sobre a Eutanásia, e é muito difícil discorrer sobre o tema sem criar animosidade entre as pessoas, porque muitas, com a bom intensão de aliviar o sofrimento de um animal em estado terminal, acabam optando por essa ação. E muitos veterinários ainda consideram a eutanásia, como “forma terapêutica”, por mais incrível que possa parecer; uma forma a “curar” definitivamente o animal. Muitas vezes até induzindo o tutor a optar por esse caminho.

Como pessoa e médico veterinário, acredito que não devemos abreviar a vida de nenhum ser, pois nesses momentos de dor, muitas vezes são aprendidas valiosas lições. E não raro essas lições abrangem o animal, a família e mesmo o veterinário e todos os demais envolvidos.

Mas como em tudo, existem casos e casos a serem avaliando individualmente.

Independente do mérito da discussão, suas consequências morais e interpretações filosóficas, éticas e religiosas, é um assunto muito controverso. Então nessa situação, sempre usamos de um exemplo real para expressar nossa opinião.

Ocorreu com uma senhora de aproximadamente 50 anos que vivia com seu filho de 15 anos e seu cachorro pastor alemão. Este já com 12 anos e como a maioria dos cães dessa raça, sofria de “displasia coxofemoral”; resumidamente ele “descadeirou”, como ouvimos falar popularmente.

Não conseguia mais se levantar para urinar e defecar, sendo necessário ajudá-lo a se locomover. E muitas vezes ele se sujava todo, em meio a urina e fezes, sendo necessário limpá-lo com desvelo várias vezes ao dia. Aquela senhora, com boa vontade e amor, se esforçava para dar uma condição digna a esse amigo pastor alemão.

Seu filho ao ver o trabalho que a mãe tinha com aquele animal, sugeriu muitas e muitas vezes para que fosse feita a eutanásia. Está sempre resignada, explicava ao filho: – Querido, esse nosso amigo nos guardou e protegeu dos ladrões por mais de dez anos. Sendo fiel e bom amigo, dando-nos além de sua guarda, seu carinho e amor sincero. Agora que ele está necessitado não podemos abandoná-lo. Ele só tem a nós para ampará-lo.

Percebendo a sabedoria das palavras da mãe, o filho começou a ajudá-la e ajudar seu amigo canino, vencendo nojos e preconceitos, gastando muito de seu tempo de brincadeiras e diversões, ajudando o próximo na figura daquele cão.

Assim o tempo foi passando e o animal desencarnou, feliz entre seus entes queridos, que se esforçaram para lhe dar uma vida boa e segura.

Aquele jovem cresceu, se casou, teve dois filhos e vivia feliz com sua nova família e com sua mãe, a morarem na mesma casa. Como a idade chega para todos, essa mãe foi envelhecendo e com o tempo, passou a ter necessidades cada vez maiores de auxílio.

Após um derrame, chegou ao ponto de necessitar ajuda para as funções mais básicas. Nesse momento sua nora, cansada de ver seu marido “gastando” tanto tempo ao redor dos cuidados da mãe, quer que ele a interne em um asilo, para que lá ela passe seus últimos dias de vida.

Com lágrimas nos olhos aquele jovem, hoje um homem, conta a ela sobre os dias que cuidou de seu amigo canino, dos esforços dele e da mãe em dar uma vida digna a esse ser, e quanto se sentiam bem por terem se dado a oportunidade de desfrutarem da companhia, um do outro; isso até o final da vida dele, trocando amor e carinho até o último suspiro do cão.

Aqui não nos “livramos” daqueles que amamos, mesmo que deem muito trabalho para continuarmos a viver com eles”, foram suas palavras. E terminou dizendo: “Com meu amigo Chuck, o pastor alemão, aprendi o que é o amor sincero e incondicional!”

“Todos os seres têm de passar pelo sofrimento. Sua ação é benfazeja… O sofrimento é, de modo geral, como agente de desenvolvimento, uma condição de progresso.”  Léon Denis

Jornal do NEIE

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