Autora: Eugênia Pickina
Ouça e você esquece; veja e você lembra; faça e você entende
R. Steiner
Tudo começa em casa – ao dar exemplo, organizando o cotidiano da criança, os pais oferecem amor e cuidado com os filhos. Pois todo pai ou toda mãe que deixa a criança “livre e solta” atua de maneira leviana, agindo tão irresponsavelmente quanto aquele pai que faz uso da violência para criar o filho.
Ora. Criar pessoas dá trabalho, exige esforço, demanda sacrifício. Porque educar é tarefa primordial dos pais. E, por isso, dar limites aos filhos é essencial à convivência familiar, pois não podemos deixar uma criança crescer confundindo direitos com desejos.
Se não houver limites, as crianças não têm como balizar suas ações. Mas como estabelecer limites?
Em primeiro lugar, os pais precisam ser coerentes. Todo limite oferecido causa frustração, e não apenas para a criança que tem que respeitar a norma sinalizada, mas também para os pais. Se o adulto não tiver firmeza suficiente para sustentar o limite estabelecido, dificultará que a criança o aceite e o interiorize (gradualmente).
Em segundo lugar, os pais devem exercer o controle combinando afeto, firmeza e segurança. Se as figuras mais importantes e influentes para a criança, seus pais, lhe tratam com respeito e carinho, reconhecendo seus direitos e seus deveres, ela se sentirá segura mesmo na hora de ser corrigida, abrindo-se à oportunidade de aprender a aceitar a realidade.
Independentemente do estilo disciplinar adotado pelos pais, a flexibilidade é traço também que deve estar presente na rotina da vida doméstica. De outro lado, os pais necessitam ser consistentes e conscientes de que são eles que guiam os filhos, e não o contrário – os filhos não podem mandar nos pais.
Não tem a menor graça uma criança tirana e sem limite. Logo, dizer ao filho de sete anos que não é adequado assistir à televisão no lugar de fazer a tarefa escolar, por exemplo, ensina-lhe, e desde cedo, noções sobre a realidade e o mundo.
Se somos responsáveis pela educação de uma criança, precisamos assumir o fato de que ela não dispõe de condições para ser autônoma e por isso necessita ser guiada enquanto cresce e se desenvolve em direção à vida adulta. Educar com amor implica, portanto, não aceitar tudo. Pois o amor que aceita tudo é um amor irresponsável, que impede a criança de ter acesso a normas e critérios que a ajudem a aprender viver de uma maneira saudável e responsável por seus atos.
Infelizmente, e para muita gente, muitas vezes estamos tão ocupados para dar aos nossos filhos o que não temos (bens materiais, no geral), que não nos sobra tempo para dar a eles o que temos – amor, presença e limites.
Notinhas
A infância implica um amor exigente, que compreende que toda criança precisa de amor, atenção e disciplina. Ora, disciplina, termo que deriva do latim, significa“instrução, conhecimento, matéria a ser ensinada”. Os pais, frente aos filhos, às crianças, são transmissores de um saber, de um conhecimento, e, por isso, respondem pela organização cotidiana da vida da criança.
Os pais são também professores dos filhos. Como tais, é dever ensinar aos filhos o que é adequado(escovar os dentes, pedir por favor, ser honesto, guardar os brinquedos etc.) e o que é inadequado (maltratar o colega, mentir, comer doce em vez do almoço, não fazer a tarefa etc.), por exemplo, e comunicar critérios de comportamento e valores de modo claro e coerente.
Cabe castigo? Mario Sergio Cortella avisa: “Sempre. Mas não o castigo que agride ou machuca, mas aquele que serve como alerta. Não é colocar a criança ajoelhada no milho, é a responsabilização por seus atos. Os castigos variam com a idade da criança e de acordo com a circunstância. Não adianta dizer a uma criança de dois anos: sábado você não vai ao cinema. Ela ainda não tem a noção de tempo, portanto, sábado é algo que não faz sentido. Com essa criança, devemos trabalhar com o ‘agora’: Agora você não vai assistir à televisão. Ela tem que entender que toda ação corresponde a uma responsabilidade.” Mas bater nunca!
O consolador – Ano 12 – N 593 – Cinco-marias