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A insofismável realidade espiritual

Autor: Rogério Coelho

O Espírito é tudo; o corpo é simples veste que apodrece O Livro dos Espíritos – questão 196-a. 

Ergastulada nos limitados círculos da matéria, a Humanidade esteve por milênios apartada dos transcendentais painéis do Espírito. Sem embargo, uma secreta e recôndita intuição segredava-lhe aos “ouvidos espirituais” o que hodiernamente tornou-se uma realidade inconteste: o Mundo Espiritual existe; de lá viemos, para lá iremos… 

Agora o homem não diz mais ante a tumba: “Nec plus ultra”, vez que o proscênio espiritual está plenamente descortinado. O materialismo foi vencido pela inconsistência da matéria que o sustentava. 

A Verdade é sempre Verdade, mesmo quando ainda a desconhecemos. O Mundo Espiritual sempre existiu e sempre deu mostras de sua existência com manifestações de Espíritos em todas as épocas da Humanidade. Nós é que demoramos muito para perceber a sua realidade, por estarmos sufocados num emaranhado de crendices, superstições, preconceitos e presunção. 

As portas do Mundo Espiritual abrem-se até mesmo para a Ciência oficial dos homens. Após o surgimento da Física Nuclear, cientistas como Albert Einstein, Arthur Compton e outros eminentes físicos puderam negar em base científica o império absoluto e exclusivista da matéria. O materialismo e o positivismo se dissolveram sob a ação do cadinho esfogueante da razão e em lugar de ambos impõe-se a realidade da Ciência Espírita. É o que podemos depreender das iluminadas instruções de J. Herculano Pires (1). 

Já o Mestre Lionês afirmou (2)

“(…) O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual, bem como as suas relações com o mundo corpóreo. 

(…) A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana.  Aquela revela as leis do mundo material e esta as do mundo moral, tendo, no entanto, ambas o mesmo princípio: Deus; razão porque não podem contradizer-se”. 

J. Herculano Pires explica (3)

“(…) Como ciência do Espírito, e, portanto, do elemento espiritual constitutivo do Universo, o Espiritismo procede de maneira analítica, no plano fenomênico. Mas, ao se elevar às conclusões indutivas, atinge, natural e fatalmente, o plano da síntese. E esse o motivo porque Richet considerou Kardec excessivamente crente, ingênuo, precipitado… Para o fisiologista que era Richet, a síntese das verificações fenomênicas não poderia jamais superar o plano da realidade fisiológica. Teria de ser uma síntese parcial, uma conclusão tirada apenas dos dados positivos, que no caso seriam os dados materiais da investigação. Para o espírita Kardec, dava-se exatamente o contrário: A síntese tinha de ser completa, uma vez que os dados materiais revelavam a presença do espiritual, a sua manifestação. 

Impõe-se, neste caso, a observação de Descartes, de que é mais fácil conhecermos o nosso Espírito do que o nosso corpo. A realidade espiritual nos é mais acessível, porque é a da nossa própria natureza. A realidade material é-nos estranha e quase inacessível. Quando o cientista da matéria observa os fenômenos, procurando explicações no plano dos seus conceitos habituais, acaba emaranhando-se nas dúvidas e perplexidades que aturdiram tantos investigadores. Quando, porém, como no caso de William Crookes ou Alfred Russell Wallace, o cientista da matéria não se esquece da sua natureza espiritual, a realidade transparece nos dados mate­riais da investigação. 

Nosso conhecimento das coisas materiais é extremamente mutável, em virtude da própria natureza mutável dessas coisas. Mas o nosso conhecimento de nós mesmos, ou das coisas espirituais, é estável, e podemos mesmo considerá-lo imutável. Esse conhecimento nos é dado por intui­ção direta, por uma percepção que coincide com a própria natureza do percipiente. Sujeito e objeto se confundem no processo da relação cognitiva. Tocamos de novo o problema que dividiu os filósofos jônicos e eleatas, na Grécia clássica: a realidade móvel de Heráclito e a estável de Zenon. O que nos mostra, mais uma vez, a acuidade intuitiva dos gregos, pois os dois aspectos universais continuam a aturdir-nos.

Certas pessoas querem negar a natureza científica do Espiritismo, por considerarem a ‘crença’ espiritual uma simples superstição. Alegam que desde as eras mais remotas os homens acreditaram em Espíritos. Mas não é o fato de sempre haverem acreditado o que importa, e sim o fato das próprias investigações científicas modernas confirmarem essa crença. Enquanto, por exemplo, a concepção geocêntrica do Universo, tão arraigada, teve de modificar-se, diante da evidência científica, a concepção espiritual do homem, pelo contrário, mostra-se irredutível. A ciência espírita só tem motivos para firmar-se nos seus conceitos, e não para ceder aos conceitos mutáveis das ciências materiais”. 

Conclui J. Herculano Pires (4)

“(…) Julgar o mundo é avaliá-lo. A concepção espírita equivale, portanto, a uma reavaliação do mundo. Diante dela, os antigos valores estão peremptos, superados. Também para a concepção materialista, os antigos valores tinham perecido. O materialismo  substituíra os valores espirituais e morais pelos valores utilitários. Mas o Espiritismo reformula os dois campos e modifica a posição de ambos. Os valores espirituais são reconduzidos ao primado do Espírito, mas os valores morais e materiais não são desprezados ou subestimados na antiga Mística. Há um novo critério valorativo: A lei de evolução. Este critério substitui, por um processo de síntese dialética, os dois critérios que anteriormente se opunham:  o salvacionista e o pragmático. A salvação não está mais na fuga ao utilitário, mas no bom uso do utilitário, em favor da evolução. 

(…) Deus criou o mundo, mas como e por quê, ainda não o podemos saber. O que sabemos, sem dúvida possível, é que o mundo existe e nós existimos nele.  A Filosofia Espírita parte dessa realidade existencial, para investigar as suas dimensões, que não se restringem ao simples existir, mas se ampliam no evoluir, no vir-a-ser. O que sabemos é que o homem, como todas as coisas, evolui, e que o destino do homem é transcender-se a si mesmo. 

(…) O homem não amadurece como o fruto, mas como Espírito. Na proporção em que a criança amadurece, ela deixa de ser criança, para tornar-se adulto.  Assim, o homem, na proporção em que amadurece, deixa de ser homem – essa criatura humana, contraditória e falível, enleada nas ilusões da vida física – para tornar-se Espírito. A morte, em vez de ser a frustração do existencialismo sartreano, ou o fim da vida, ou ainda o momento de mergulhar no desconhecido, de toda a tradição religiosa, apresenta-se como o momento de maturação e alforria. Morrer, como o disse Victor Hugo, não é morrer, mas simplesmente mudar-se”.    

E acrescentaríamos: mudar-se para a condição de “vida abundante”, conforme promessa de Jesus, registrada no capítulo dez, versículo dez do Evangelho de João.

Referências

(1) PIRES,  J. Herculano. O Espírito e o Tempo. 3.ed. São Paulo:EDICEL, 1979, capítulo II, item 2.

(2) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 121.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. V, itens 5 e 8.

(3) PIRES,  J. Herculano. O Espírito e o Tempo. 3.ed. São Paulo:EDICEL, 1979, capítulo II, item 3.

(4) PIRES,  J. Herculano. O Espírito e o Tempo. 3.ed. São Paulo:EDICEL, 1979, capítulo III, item 2, § 6º e 10º.

O consolador – Ano 3 – N 142

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