Autor: Irmão X (espírito)
Diante de milhares de Espíritos deslumbrados, a preleção terminou…
A assembleia, constituída na maioria por entidades sofredoras da Terra, estacara, em suspenso, no vasto recôncavo do Espaço.
Assombro, alegria, emoção…
É que falara o grande cartaginês Aurélio Agostinho, venerado no Cristianismo como figura das mais elevadas na História.
Nimbado de intensa luminosidade, comovera ele a multidão, na categoria de emissário da Esfera Superior.
Desencarnados de vários países cristãos ali se ajuntavam para ouvi-lo. Antigos, professores de Hipona e Tagasta, Madaura e Milão, experimentados em muitas reencarnações, partilhavam-lhe o séquito.
Comentava-se em grupos diversos a sublime condição do orador. Diziam muitos amigos que o grande pregoeiro do Evangelho transcendera a Humanidade Terrestre, ao que outros respondiam sabê-lo na intimidade de gênios soberanos, integrados na evolução de outros sistemas e outras esferas.
Guerreiros cuja mente se fatigava para anular a lembrança da espada, ricos empobrecidos de ouro e remediados de consolação, mulheres cansadas de mentira e almas numerosas, em dolorido abatimento, haviam recebido a palavra da Boa Nova, qual se esta fosse um néctar divino… Todos os presentes exibiam singular metamorfose, como se a luz interior do coração se lhes estampasse no semblante transfigurado, entremostrando aspirações novas, dando a ideia de quem sacava ao futuro energias diferentes para a batalha da própria regeneração, e o pranto copioso, aqui e ali, destacava, decerto, votos íntimos, profundos…
Preparava-se o orador à retirada, quando recebeu o toque de alguém, recém-vindo da Terra.
Era um homem que ainda trazia as marcas de recente liberação do corpo físico.
Fitando os olhos do mensageiro que o abençoava, caiu em reverência e rogou:
– Grande apóstolo de Nosso Senhor Jesus Cristo! Dos sessenta anos que vivi entre as criaturas humanas, quarenta dediquei ao estudo de vossa vida! Procuro-vos, desde muito, com ardente afeição… Agora que vos encontro, peço recebais o testemunho de meu apreço, e permiti, ó embaixador da Bondade Divina, algo vos pergunte na minha prece de respeitosa admiração!… Alçado agora à munificência da Altura, vós que desfrutais a convivência dos assessores do Cristo e que acompanhais a marcha de quinze séculos de Cristianismo, assinalados desde a vossa conversão ao Evangelho, que revelação mais alta tendes hoje a proporcionar-nos? Vós que conheceis presentemente outros mundos, que devassais novos segredos cósmicos, que sabeis olhar com entendimento e compaixão para as nossas almas e que desempenhais, com honra, a função de arauto das eternas verdades, dizei-nos qual a lição que considerais a mais nobre, em vossa triunfante jornada de Espírito?
O antigo lidador cartaginês, sensibilizado, afagando a cabeça trêmula do companheiro que perguntava, respondeu, bondoso:
Meu filho, a mensagem maior em toda parte, como sempre, é a grandeza de Deus que envolve o Universo. As constelações remotas estendem-lhe o poder. Os sóis que nos influenciam de perto proclamam-lhe o esplendor. Os mundos que conseguimos pisar demonstram-lhe a paternal solicitude. Flores e gotas d’água são notícias de seu infinito amor… Todos os fenômenos da vida dizem algo de sua glória oculta. No entanto, o ensinamento mais alto que recebi até agora, no âmago da consciência, é aquele de minha própria transformação… Contado entre os maiores devassos e criminosos da Terra, pude entrar, pela abnegação de Jesus – Cristo, o fiador de nossas almas, em minha própria restauração, na trilha de serviço que continuo a palmilhar.
O consulente baixou o rosto, ante a humildade do mensageiro.
E enquanto o grande mentor se afastava, cercado de amigos, a explicação ecoou, no imenso vale dos pecadores desencarnados, como sopro renovador de alegria e esperança…
Nota
O conto acima, psicografado por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Contos Desta e Doutra Vida.
Obra completa: https://www.febeditora.com.br/contos-desta-e-doutra-vida