Autora: Carla Maria Melleiro Gimenez
A boa música é uma manifestação artística sublime, envolvente, de elevada expressividade e de considerável importância. Para avaliarmos seu valor, basta imaginarmos o mundo sem melodias, os filmes sem efeitos sonoros, os momentos especiais sem o colorido das emoções remetidas pelas canções, a infância sem cantigas, o silêncio…
Curiosa é a questão da inspiração, da construção da harmonia, da seleção de notas que, combinadas, descortinam possibilidades infinitas de sentimentos e sensações, capazes de trazer à tona lembranças ou construir novos horizontes no panorama mental.
A música é uma linguagem universal, que toca o íntimo dos seres, independentemente de credo, etnia, raça, condição social, idioma, idade, nível cultural.
De onde viria esta inspiração?
Quando se inicia o processo de criação?
Os grandes mestres da música clássica e erudita atuais e os consagrados através dos tempos relataram em inúmeras ocasiões que o processo de criação fluía naturalmente, de forma espontânea, muitas vezes quase que involuntariamente, ou como se já soubessem das melodias, como se já as houvessem conhecido e estivessem apenas transcrevendo algo que pulsava em suas mentes, no compasso incompreensível do borbulhar de ideias fixas e incessantes.
Mozart afirmara por várias vezes que sua vida era profana, mas que sua música era celestial. Em tenra idade já possuía o dom de compor obras de vultosa profundidade, inexplicável à compreensão comum.
Beethoven mesmo surdo compunha obras memoráveis, de impecável maestria e regia de forma absolutamente perfeita. Comentava sobre a indescritível experiência de sonhar com as composições ou ouvi-las em seu íntimo antes de traduzi-las em notas musicais e partituras.
Bach vivia tão absorto neste universo musical que suas composições fluíam rotineiramente e muitas delas foram perdidas, porque, na dificuldade das crises financeiras, as vendia e muitas vezes até usavam as partituras como papel de embrulho… O que representa um grande pesar.
Schubert, Schumman, Puccini, Verdi, Wagner e tantos outros tiveram o amor, em suas mais diversas expressões, como tema central de suas obras, mas o que os impulsionava era algo misteriosamente irresistível, certeiro e obsessivo.
Liszt e Chopin podem ser rememorados pelas obras que remetem à melancolia, à tristeza, que brotavam orvalhadas de seus sentimentos comuns a esta sintonia…
Pensemos em O Livro dos Espíritos, quando temos as iluminadas explicações acerca da mediunidade, lembrando que todos somos médiuns e a mediunidade pode se expressar de maneiras várias e muitíssimo particulares, podemos então compreender todos os episódios citados como relacionados de forma estreita e clara com a mediunidade.
André Luiz, em suas obras, dentre os muitos ensinamentos nos mostra que a maioria do que temos aqui em nosso orbe é inspirado no que se tem nas colônias espirituais, e que os bons Espíritos permitem ao tempo oportuno que a humanidade possa desfrutar de inovações e facilidades que são comuns na vida espiritual.
A questão da sintonia é de extrema importância, relembrando a necessidade da batalha íntima que travamos diariamente rumo à reforma íntima. Assim, a música elevada é capaz de inspirar vibrações positivas e o contrário também é verdadeiro. Esta questão é e foi sempre bem compreendida, mesmo que nem sempre necessariamente desta maneira, mas lembremo-nos da música sacra, dos rituais de diferentes credos que são ou foram acompanhados por música, a importância de determinados tipos de músicas para a meditação e concentração, ou para que seja possível alegrar e estimular as pessoas.
Os mantras, as orações repetidas, músicas e sons típicos de ritos que levam o indivíduo a um estado de transe ou até mesmo de desdobramento, em diversas e diferentes religiões, podem ser evidências de que a música é realmente capaz de mexer com o íntimo dos indivíduos.
Atualmente a musicoterapia é uma modalidade de tratamento terapêutico a favor do bem-estar dos indivíduos, que reabilita através da música e auxilia em diversas situações cotidianas, sendo respeitada nos meios médicos e acadêmicos.
Portanto, vamos desfrutar da boa música, utilizá-la para nos trazer paz e equilíbrio, ouvindo as pérolas deixadas à humanidade ao longo dos séculos como obra-prima que a espiritualidade maior nos presenteia com tanta generosidade. Sejamos gratos pelas possibilidades múltiplas de termos um elo que nos une ao alto e ao que entendemos como superior, uma linguagem universal que não necessita de traduções, mas que se conjuga tão bem à poesia.
O consolador – Ano 5 – N 207
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