fbpx

A mediunidade revelada e esclarecida há 160 anos

Autor: Rogério Miguez

O século XIX se foi há bom tempo deixando inúmeros tesouros para a Humanidade. Quantos pensadores, filósofos, cientistas, educadores viveram durante este período, legando ao Mundo incontáveis descobertas e invenções!

Dentre tantas conquistas e avanços tecnológicos realizados neste período, houve mesmo a conhecida Revolução Industrial. Na área espiritualista, por sua vez, também aconteceu outra verdadeira revolução, por meio do advento da Doutrina dos Espíritos, um marco incontestável no processo de evolução da Terra.

E, entre tantas obras escritas sobre o Espiritismo, destacamos uma que nesta particular década completa 160 anos de seu lançamento: O livro dos médiuns.

Até então, os relatos e experiências vivenciadas pelas variadas interações entre o mundo dos vivos e o dos mortos sempre haviam sido tratadas como fantasias, explicadas por alucinações individuais ou mesmo coletivas, e, algumas vezes, pela loucura dos agentes implicados. Basicamente, nada havia de sério para ser estudado, ou mesmo aprendido, diziam os céticos, pois convictos estavam sobre a completa extinção da vida após a morte.

Por outro lado, a alma dos que se foram – para aqueles que nela criam -, jamais poderia se relacionar com aquelas dos que ainda por aqui permaneciam. Os defensores desta tese baseavam-se numa interpretação equivocada dos escritos do médium Moisés, segundo a qual o Antigo Testamento desautorizava o intercâmbio entre vivos e mortos.

Entretanto, em 1861, no dia 15 de janeiro daquele ano, baseado não apenas nos fenômenos espirituais, mas, principalmente, pelo trabalho sério e dedicado de um grande educador de seu tempo, o francês Allan Kardec, materializa o magistral compêndio – O livro dos médiuns ou Guia dos médiuns e dos evocadores -, confirmando racionalmente, e pela primeira vez, a possibilidade de nos relacionarmos com os ditos falecidos, considerando-se que, até aquele momento, para muita gente tais contatos deviam-se única e exclusivamente ao diabo, um ser tão poderoso quanto a própria Divindade, segundo acreditavam os seus defensores.

O assim conhecido Codificador do Espiritismo reuniu em uma só obra textos positivos, relatos variados, extratos oriundos de incontáveis fontes e narrativas de inúmeras procedências espalhadas pelo mundo. Com este vasto material, não só provou a realidade das manifestações espirituais que então denominou espíritas, como estabeleceu um método prático e ímpar a ser empregado por todos quantos desejassem, seriamente, estabelecer contato com os muitos finados, alguns dos quais entes queridos seus, que se haviam antecipado na grande passagem para o lado de lá.

Um dos cinco sólidos pilares da Doutrina Espírita, esta obra assinalou um marco na nossa História, pois desta data em diante todos os que honestamente desejem instruir-se na prática da mediunidade, em busca de resultados verdadeiros, distantes de toda a sorte de artifícios e embustes, tão bem explorados pelos desonestos de todos os tempos, podem experimentar, com segurança, as muitas possibilidades de se estabelecerem contato com os Espíritos – seres imortais como todos nós -, compreendendo, além disso, quem são os médiuns e suas muitas mediunidades, conhecidos no passado por bruxos, magos, pitonisas, entre tantas outras designações.

Daquela data em diante, não há mais campo para aventuras, tolas crendices, referências a falsos fenômenos, embora muitos ainda teimem em usar esta Lei Divina – a possibilidade da faculdade mediúnica -, para enganar a crendice popular, auferindo lucros materiais e até fama e poder, às custas da ignorância e ingenuidade do povo.

São orientações completas sobre praticamente todas as variantes desta caridosa e redentora faculdade, deixando pouco para ser ainda explicado. Sabemos que, após a publicação deste compêndio, capacitados pesquisadores e seguidores do Mestre de Lyon, tais como Gabriel Delanne e Léon Denis, apenas para citar dois gigantes do movimento espírita pós-Kardec, acrescentaram novos dados e informes sobre os médiuns e suas muitas mediunidades, sem, contudo, superarem ou modificaram os postulados básicos sobre o tema, tão bem estabelecidos por Allan Kardec.

Utilizando os dizeres do próprio autor deste infalível Guia, em seu capítulo 6, destacamos esta frase sobre a fascinante modalidade da mediunidade que tanto nos encanta e surpreende:  “Seguramente, de todas as manifestações espíritas as mais interessantes são aquelas por meio das quais os Espíritos se tornam visíveis […]”.1

É verdade que as aparições dos Espíritos representam um fato maravilhoso àqueles que tem o privilégio de, a olhos nus, em estado de vigília, ou mesmo durante o período do sono, vislumbrar um ente querido, conversar com uma paixão antiga que já se foi, entreter-se com um amigo dileto que nos antecedeu, talvez interagir com o nosso guia espiritual, confirmando assim a imortalidade da alma, sem falar na possibilidade de observar Espíritos ainda encarnados que se apresentam inequivocamente à nossa visão. Esta real possibilidade é abordada em O livro dos médiuns.

Além disso, Allan Kardec também discorre sobre as aparições tangíveis, talvez mais impressionantes do que as anteriormente citadas.

Quem não gostaria de tocar o Espírito de um antigo afeiçoado, convencendo-se definitivamente sobre a perenidade da alma e das claras explicações sobre as bases racionais que fundamentam a existência do fenômeno!?

Os médiuns, propriamente ditos, não podem e não devem ignorar este livro, sob pena de jamais compreenderem, na íntegra, o funcionamento de suas faculdades, uma vez que esta obra não apresenta substitutos ou equivalentes, é única e foi escrita com todos os cuidados por um conhecido e renomado professor do sistema educacional francês,  interpretando com fidelidade o pensamento dos Espíritos Superiores.

Conscientizar os médiuns é tarefa espinhosa, considerando que muitos deles, deficientes em suas bases doutrinárias, resistem a qualquer argumentação contra suas condutas e entendimentos que adotam, distanciados da boa prática mediúnica contida em O livro dos médiuns. Infelizmente, para tais trabalhadores, o livro em referência é coisa do passado, plenamente superado pelas “modernas técnicas” difundidas na atualidade para se estabelecerem comunicações com os que já se foram. É um quadro preocupante, já que não se vislumbra, em curto espaço de tempo, solução para tal conduta, senão conscientizando os médiuns da necessidade de estudar na fonte os aspectos e explicações sobre o funcionamento de suas próprias mediunidades.

São centenas de páginas ao nosso alcance sobre a temática dos médiuns e mediunidades, aguardando para serem descobertas, lidas e meditadas, sem pressa e com a devida atenção, a fim de que, mais tarde, esta faculdade esteja presente naturalmente e de forma ostensiva em todos nós, como resultado do aguçamento das percepções que acompanham a evolução moral e intelectual do Espírito.

O livro dos médiuns é o maior tratado escrito até hoje sobre a mediunidade; é a “Bíblia” dos medianeiros, embora ainda não lhe deem a devida atenção.

No transcurso de mais um aniversário de sua publicação, honremos o esforço e a memória de seu autor – Allan Kardec -, não só lendo-o do começo ao fim, mas estudando-o detidamente, certos de que representa o roteiro mais seguro de que dispomos até hoje para bem entender e praticar esta transcendente faculdade – a Mediunidade.  

Referência

1 KARDEC, Allan. O Livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 6. imp. Brasília: FEB, 2020. 2ª pt., cap. 6. it 100.

spot_img