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A menina cega

NARRADOR
A manhã despertava. O sol se espreguiçava, espalhando seus raios pela paisagem. Na praça, onde as flores já se encontravam em papo muito animado, agitando as suas corolas e exibindo suas cores, um homem sentou-se no banco, debaixo de uma árvore.
Sua alma se vestia de cinza e seus olhos nada viam além de um grande desencanto em todo lugar.

Ele desejaria que o mundo se acabasse, desde que todos os seus sonhos tinham morrido há muito tempo. Para que viver?

Contava os anos que já vivera. Mais de sessenta. É muito triste sentir-se velho, só e sem valor.

MENINA
Ei, moço, está vendo que linda flor?

VELHO
Linda? É uma flor quase murcha, com míseras pétalas na corola. Umas duas ou três.

MENINA
E ela tem um perfume maravilhoso.

VELHO
Tudo nela irradia alegria. Natural, ela é uma criança cheia de sonhos e de esperanças. A infância é um período róseo, onde se pensa que o mundo é um imenso parque de diversões.

MENINA
Essa flor é tão bonita e tão perfumada. Eu vou dá-la ao senhor.

VELHO
Agora não há mais como escapar. O melhor é mesmo pegar a flor para que essa criança inconveniente e faladora vá logo embora. Eu desejo continuar na minha solidão.

NARRADOR
Estendeu a mão. Nesse momento, olhou para a menina e seu coração gelou. Ela era cega. A menina era cega.

Tomou a flor, agradeceu tímido e sentiu que as lágrimas lhe vinham aos olhos. O doador da alegria era uma criança cega. E era feliz. Transmitia felicidade.

Aspirou o perfume da flor e descobriu que era maravilhoso. A menina saiu pelo jardim, cantarolando e andando firme, como se conhecesse com precisão todos aqueles caminhos.

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