Autor: Marcus De Mario
Com cinco anos de idade o menino, depois de uma repreensão da avó, lhe disse enfático e com autoridade: “Você tem que respeitar minha vontade!”. A avó, mostrando tranquilidade, retrucou: “Mas acontece que você é uma criança, não sabe tudo, e nem todas as suas vontades podem ser satisfeitas”. Ao que o menino contrapôs: “Mas a mamãe disse que os outros não mandam em mim”. Essa cena, muito mais comum do que podemos supor, mostra com todas as letras a deseducação que muitos pais estão dando aos filhos, ensinando-os a não respeitar o direito dos outros, priorizando sempre o seu querer, ou seja, é a aplicação de um processo educacional que os torna egoístas, individualistas e indiferentes.
Outra cena bastante comum é dar aos filhos em tenra idade total autonomia, fazendo-lhes as vontades, chegando mesmo os infantes a dar ordens aos pais, a fazer prevalecer o que eles querem, mesmo que isso não seja o ideal nem para eles, nem para os demais familiares. “O que você quer comer?”, “onde você quer sentar?”, “qual filme ou desenho você quer assistir?”, demonstram que os pais se colocam na dependência dos filhos. Seja por ignorância, seja por fraqueza, muitos pais estão promovendo futuros títeres, adultos insensíveis que não pensarão duas vezes antes de atropelar alguém, se isso significar manter ou conquistar algum privilégio.
É de tal ordem o desleixo com a educação moral, a formação do caráter, o desenvolvimento das virtudes, o combate às más tendências e a criação de bons hábitos, que a hipocrisia virou moda, mantendo a corrupção, a violência, a injustiça, de geração em geração, dando a impressão que a humanidade não tem mais jeito, está totalmente perdida. Será que essa impressão é correta? Será que não há como transformar essa situação?
O Espiritismo afirma que essa situação é transitória, e que há um remédio infalível para combater na raiz as causas desses males: a educação moral. Urge, antes, detectarmos e colocarmos à mostra as causas que engendram todos os vícios e descalabros humanos. Essas causas são o egoísmo e o orgulho, que uma educação materialista e utilitarista excita, ao invés de combatê-las; que uma educação meramente cognitiva, de memorização de conhecimentos, rega generosamente, como se regam as plantas. Mas que adianta regar a planta e adubar o solo onde ela cresce, se não trabalhamos para evitar que seu tronco se desvie, que suas folhas sejam infestadas por fungos, e que seus frutos sejam contaminados por pragas? Assim também é com a educação dos filhos.
As famílias, hoje, com as suas exceções, não educam. O que hoje mais vemos são famílias que mimam seus filhos. Essas famílias transferem a educação para a escola que, sobrecarregada e não existindo para substituir a família, por sua vez pede socorro, perdida que está entre currículos, avaliações, burocracias e tudo o mais que a engessa. Por mais amor tenham os professores à sua profissão e aos seus alunos, eles não existem para serem substitutos dos pais. Como seres humanos que são, tanto quanto os pais também o são, os professores possuem suas deficiências geradas por uma educação deficiente que receberam desde a infância, daí a existência de professores indiferentes, insensíveis, egoístas, tanto quanto temos pais indiferentes, insensíveis e egoístas.
Não é um círculo vicioso, a não ser que queiramos nos comprazer numa zona de conforto que privilegia o nosso bem estar e daquelas pessoas que fazem parte do nosso círculo íntimo. Mas essa situação tende sempre a se agravar e atingir, com o tempo, aqueles mesmos que se achavam acima de tudo e de todos. Então, o que fazer? Recompreender o papel da família na sociedade e sua missão educativa das novas gerações.
Na questão 208 de O Livro dos Espíritos temos o roteiro para a transformação da humanidade e o repensar do papel da família:
O Espírito dos pais não exerce influência sobre o do filho, após o nascimento?
– Exerce, e muito, pois como já dissemos, os Espíritos devem concorrer para o progresso recíproco. Pois bem: o Espírito dos pais tem a missão de desenvolver o dos filhos pela educação; isso é para eles uma tarefa. Se nela falharem, serão culpados.
Como vemos, é tarefa inadiável e intransferível dos pais a educação dos filhos. Tão importante é essa tarefa que, se não for cumprida, os pais respondem perante a lei divina. Para bom entendimento da resposta dada pelos Espíritos Superiores, temos que deixar claro que educar os filhos não se circunscreve apenas a matriculá-los na escola, a comprar o material escolar, a cobrar o dever de casa, a providenciar o uniforme e assim por diante. Se essas providências fazem parte do cotidiano dos pais para com os filhos, muito mais importante é dar bons exemplos, é corrigir maus hábitos, é sensibilizar o sentimento, o que, numa palavra, significa aplicar a educação moral junto à alma imortal dos que reencarnam, iniciando sua nova jornada existencial na Terra. Para bem educar os filhos, devem os pais primeiro se educarem.
A falta de educação a que hoje assistimos por parte de crianças, adolescentes e jovens, provém da falta de educação moral dos pais, do verdadeiro desmanche do lar e da família que há décadas temos feito, levando os responsáveis a não darem cumprimento à tarefa divina que lhes foi delegada: educar!
Corrigir esses desvios levará tempo, mas não é impossível.
Iniciemos, com urgência, a reeducação dos pais para que possam colocar em prática a educação moral dos filhos, ao mesmo tempo em que, nos esforços da chamada evangelização espírita, educamos moralmente as crianças para que, no futuro, sejam humildes, caridosas e íntegras. É a conjugação dessas ações que haverá, com o tempo, e decididamente, de transformar a humanidade para melhor.