Autor: Anselmo Ferreira Vasconcelos
Um dos atos mais aviltantes que um homem pode cometer é o de abusar sexualmente de outro ser. Há na atualidade uma espécie de epidemia em curso envolvendo esse tipo de comportamento doentio tendo-se em vista a profusão de dramas que vêm sendo relatados. Como pondera o Espírito Joanna de Ângelis, na obra Após a Tempestade (psicografia de Divaldo P. Franco), “… Aberrações e desacatos, violência e lascívia de mãos dadas avançam na desordem, conturbando agressivamente e deixando rastros dos dissabores, das desilusões inomináveis e das frustrações em rios de lágrimas, em corredores sombrios de angústias e alucinações…”
Abusos sexuais sempre aconteceram na trajetória humana nesse orbe. De modo geral, dominadores e usurpadores se refestelaram de suas vítimas indefesas, especialmente nesse particular. No entanto, observa-se tal conduta escabrosa como subproduto dos conflitos bélicos que acontecem em várias partes do globo nos tempos presentes. Ou seja, os vencidos continuam servindo de repasto às feras esfomeadas de prazeres sexuais. Com efeito, chega a ser assustador observar os crescentes indicadores de tal prática nefanda em pleno século XXI.
Recentes estatísticas sobre o Brasil apontam que atingimos o estarrecedor número 45.460 casos de estupro no ano de 2015 no país. É importante frisar que esse número, segundo os entendidos, está subdimensionado já que muitos casos não foram reportados.
Nesse sentido, sabe-se que em alguns grotões da nação, pais abusam sistemática e impiedosamente das suas filhas. Alguns estudiosos argumentam que nessas localidades tal conduta revela um certo traço cultural no qual os patriarcas enxergam em suas filhas não um ser humano, ao qual deveriam devotar atenção e cuidados apropriados, mas apenas escravas sexuais. Mas esse comportamento desvirtuado não é apanágio apenas de regiões empobrecidas. É lamentável observá-lo igualmente em áreas geográficas mais desenvolvidas. Ou seja, muitas vezes pessoas aparentemente acima de qualquer suspeita impõem terríveis provações às suas vítimas.
No geral, os aderentes desse tipo de comportamento revelam apenas e tão somente o seu enorme atraso espiritual. São, na essência, monstros ocupando momentaneamente corpos humanos masculinos sem qualquer capacidade de controlar as suas taras ignominiosas. Como criaturas degeneradas e sem qualquer noção de respeito, responsabilidade, compaixão e empatia, abusam, de maneira abominável, de outros seres inocentes. Em casos mais graves, onde a aberração acontece no seio da própria família, as vítimas acabam sendo obrigadas a ter de se submeter a uma rotina martirizante por anos a fio até que consigam se libertar do monstro que as assedia.
Compete lembrar que as sequelas carregadas pelas vítimas de abuso sexual são geralmente profundas e devastadoras para a sua psique. As marcas deixadas em suas almas são impossíveis de apagar. Por essa razão, não raro acabam carregando traumas dolorosos que lhes acompanham por toda a vida. É obvio que há necessidade de aplicação de leis mais duras e, sobretudo, educação sobre o tema. Mas há outros aspectos também a considerar no básico campo da espiritualidade. Portanto, uma educação holística deveria também contemplar essa dimensão.
A propósito, o Espírito André Luiz colheu de seu orientador Silas interessantes e reveladores esclarecimentos a respeito do tema sob apreço, conforme consta na obra Ação e Reação (psicografia de Francisco Cândido Xavier), que merecem a nossa reflexão. Ou seja, o mentor que o esclarecia observou que
“[…] Esses abusos são responsáveis não apenas por largos tormentos nas regiões infernais, mas também por muitas moléstias e monstruosidades que ensombram a vida terrestre, porquanto os delinquentes do sexo, que operaram o homicídio, o infanticídio, a loucura, o suicídio, a falência e o esmagamento dos outros, voltam à carne, sob o impacto das vibrações desequilibrantes que puseram em ação contra si próprios, e são, muitas vezes, as vítimas da mutilação congênita, da alienação mental, da paralisia, da senilidade precoce, da obsessão enquistada, do câncer infantil, das enfermidades nervosas de variada espécie, dos processos patogênicos inabordáveis e de todo um cortejo de males, decorrentes do trauma perispirítico que, provocando desajustes nos tecidos sutis da alma, exige longos e complicados serviços de reparação a se exteriorizarem com o nome de inquietação, angústia, doença, provação, desventura, idiotia, sofrimento e miséria. Aliás, muito antes da pompa terminológica das escolas psicanalíticas modernas, que se permitem arrojadas conjeturas em torno das flagelações mentais, há quase vinte séculos ensinou-nos Jesus que ‘todo aquele que comete o mal é escravo do mal’e podemos acrescentar que, para sanar o mal, a que houvermos escravizado o coração, é imprescindível sofrer a purgação que o extirpa”.
O tema do sexo sempre recebeu elevada atenção da espiritualidade. Médiuns respeitáveis foram portadores de sábias e profundas lições concernentes ao assunto. A preocupação é justificada considerando as falhas e quedas que a humanidade tem sofrido ao não se comportar apropriadamente nesse aspecto. O sempre sábio pensamento de Joanna de Ângelis, exarado na obra citada anteriormente, nos adverte: “Quando a ardência dos desejos te esfoguearem, lembra-te do lenitivo da oração e reconforta-te demoradamente”. O conselho é altamente procedente já que a maioria dos homens está sujeita a destilar graves desequilíbrios daí advindos. Por fim, a nobre mentora nos aconselha a não sermos “fator de desdita para ninguém”. Como elucidado acima, as consequências são extremamente dolorosas para o Espírito infrator.
O consolador – Ano 10 – N 498