Autor: Ricardo Baesso de Oliveira
O pensamento de que a sede do sexo encontra-se no Espírito foi apresentado por André Luiz em pelo menos duas obras. Em No mundo maior, cap. 11, André coloca que a sede do sexo não se acha no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização, e voltou ao tema no livro Evolução em dois mundos, parte I, cap. XVIII, valendo-se das seguintes palavras: a sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veículo físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura complexa.
Proponho uma melhor avaliação do vocábulo sexo neste contexto.
Os dicionários apresentam para o vocábulo sexo três definições distintas:
1- Reunião das características distintivas que, presentes nos animais, nas plantas e nos seres humanos, diferenciam o sistema reprodutor; sexo feminino e sexo masculino.
2- Ação ou prática sexual; relação amorosa.
3- Os órgãos sexuais; genitália.
Não nos parece que essas definições (sexo como diferenciação fenotípica, relação sexual e órgãos sexuais) possam se identificar com a conceituação proposta pelo benfeitor. Na Revista Espírita, janeiro de 1866, Kardec bem definiu que os Espíritos não têm sexo, pois os sexos só existem no organismo; os Espíritos não se reproduzindo uns pelos outros, os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
No Livro dos Espíritos, igualmente, nos itens 200 a 202, afirma que os Espíritos não têm sexo, pelo menos como nós o entendemos, pois que os sexos dependem da organização. Todavia, ao colocar a ideia de sexo como algo que nós entendemos, Kardec, apresenta a possibilidade para o uso da palavra sexo com outra conotação e talvez tenha sido o que fez André Luiz.
Voltando ao livro No mundo maior, cap. 11, encontramos profundas observações de André em torno do conceito de impulso criador e talvez esse conceito se reporte a sua definição singular de sexo, não proposta pelos linguistas encarnados. Segundo o autor, a individualidade espiritual possui em sua estrutura íntima uma força especial, investida de potentes faculdades criadoras – o impulso criador. Movida por essa força a coletividade humana avança, vagarosamente para o supremo alvo do divino amor. Desejo, posse, simpatia, carinho, criatividade, devotamento, renúncia e sacrifício constituem aspectos dessa jornada sublimadora, onde a alma vai aprendendo, paulatinamente, a se valer do impulso criador para conquistas mais nobres.
Freud identificou esse impulso na libido – a energia erótica. Adler considerou-o no desejo de sucesso (não necessariamente pessoal, mas também coletivo) e Jung viu nele a possibilidade de aspiração superior.
Segundo André, os grandes estudiosos da personalidade viram aspectos particulares do impulso criador, que, em verdade, constitui-se no somatório de tudo isso.
O tema é complexo e acredito que novas reflexões possam auxiliar-nos a melhor compreendê-lo. De qualquer forma, nós, Espíritos já dotados da evolução conscientes, estamos adequadamente instrumentalizados para nos valermos desse potente impulso em atividades que transcendem a vida comum, sem, obviamente, desconsiderarmos as necessidades próprias de nossa condição evolutiva e da corporeidade.
Artigo de O consolador
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