fbpx

A séria questão da interpretação das palavras dos Espíritos

Autora: Cristina Sarraf

Desde os tempos remotos da Grécia, Egito e outros povos antigos, tais como os celtas, há a séria questão da interpretação da palavra dos Espíritos.

Médiuns, na maioria mulheres com o encargo de sacerdotisas, mas também homens sacerdotes, recebiam mensagens dos deuses, geralmente sob efeito de alucinógenos -substâncias inaladas ou beberagens- para atingirem um certo desligamento do corpo e facilitarem a comunicação. Por isso e pelas convenções reinantes, as mensagens eram obscuras, simbólicas e complexas. Para que fossem entendidas havia sacerdotes encarregados da “tradução” ou seja, interpretação. Havia fidelidade? Havia interesses obscuros que os fizesse alterar o conteúdo das mensagens? Entendiam tudo que era dito?

São perguntas cujas respostas precisam do testemunho pessoal dos envolvidos… Mas, estando nesse mundo e suficientemente experientes para saber como o ser humano é, podermos dizer que nem sempre corresponderam ao que fora dito.

Isso, independente da boa ou má fé porque, muitas vezes, equívocos são entendidos como verdades.

Mentiras ou interpretações, por muitas razões, pode haver um abismo entre o que foi dito pelos Espíritos e o que foi captado ou “traduzido”, pelo médium ou por terceiros.

A experiência em anotar ou gravar e passar a limpo/digitar comunicações de Espíritos, mostra como, ao se perder uma palavra, por inaudível ou ininteligível, outra qualquer não cabe naquele lugar. A tentação de colocar um sinônimo, que represente o sentido que a frase trás, soa esquisito, como se quebrasse o ritmo, a melodia harmônica da mensagem.

Mesmo uma comunicação bem simples ou até se for enganadora, carrega sempre a característica peculiar da soma entre o Espírito e aquele médium.

Por que, então, a questão da interpretação é séria e como ocorre?

Fala-se muito em interpretar textos, sobretudo em relação aos estudantes, o que acaba permeando toda a sociedade. Mas é preciso examinar esse assunto, para saber o que estamos fazendo.

Interpretar é dizer o que pensamos sobre algo, um texto, uma obra de arte… Evidentemente, primeiro é preciso compreender o que se vê, ouve ou lê. Sem esse entendimento, acabamos caindo no equívoco de buscar saber o que o autor quis dizer, e com isso, sobrepomos e ajustamos nossas ideias às dele, aprovando ou reprovando, em conformidade conosco. Agindo assim, perde-se a chance de aprender, fazer novas conexões mentais e conhecer uma forma diferente de pensar e expressar-se. Muitas vezes deturpamos completamente a ideia do outro…

Sem falar de adulterações por interesses e má fé, cada pessoa entende as coisas ao seu modo, segundo sua mentalidade, cultura, conhecimentos visão de mundo.  Isso é um ponto pacífico.

Apesar desse fato, isentar-se um tanto é o possível, perguntando a si mesmo, em cada frase lida: O que está escrito aí?

Essa pergunta remete a uma postura psicológica de intelecção, facilitando a vontade de não interpretar. Ou seja, diminuindo a cota dos próprios pensamentos que a pessoa insere no que está lendo.

Pensemos nas comunicações de bons Espíritos, por exemplo. E lembremos que aspirações, necessidades, objetivos, conceitos, modos de pensar e ser, compõem a mente do médium. Ao ler um texto mediúnico, sem se colocar um tanto isento, procurando apenas entender o significado real das frases, podemos, de boa-fé, “ler” diferente do que está escrito. Ou seja, interpretar, no sentido de pôr ali a nossa forma de pensar e sentir, usando as próprias palavras nas do outro. É ler o que já sabemos…

Claro que ninguém pode ser totalmente isento e sempre, para o entendimento de qualquer coisa, há um tanto de interpretação. Mas isso não quer dizer que não se possa aprender a examinar as coisas com a possível isenção e penetrarmos com mais fidelidade no que foi dito/escrito.

Esse raciocínio serve para qualquer leitura, estudo e análise, não só o das mensagens espirituais. Mas, nosso foco são elas e as ilusões que se pode ter, ao interpretá-las segundo a nossa ótica, sem o trabalho de analisar.

Kardec nos orienta a pedirmos que pessoas de nossa confiança analisem as comunicações que recebemos, e que sejam estimuladas a nos darem um parecer verdadeiro. Até porque, ele argumenta, a responsabilidade do médium é transmitir a mensagem, mas o conteúdo pertence ao Espírito, apesar de sempre ter algumas características do médium. Ler item 329 do capítulo XXIX de O Livro dos Espíritos.

No capítulo Laboratório do mundo invisível, Kardec faz um comentário, na questão 3 do item 127 dizendo: “A experiência ensina que não devemos sempre tomar ao pé da letra certas expressões usadas pelos Espíritos. Interpretando-as segundo nossas ideias, expomo-nos a grandes equívocos. Eis porque é preciso analisar o sentido das palavras deles”…

Jornal do NEIE

spot_img