Autor: Marcus De Mario
Sabemos, através do Espiritismo, que estamos num mundo de expiações e provas, onde o egoísmo predomina e o mal, por isso mesmo, é presente no cotidiano das relações humanas. Diante desse quadro, o Espiritismo promove uma revolução ética ao propor a dinâmica social da caridade para romper o individualismo egocêntrico que ainda nos caracteriza, e que o movimento espírita abraça no desenvolvimento das ações de promoção e assistência social, tanto do ponto de vista material quanto moral, pois o espírita compreende que não se vive apenas de pão e agasalho. Isso fica bem claro na famosa passagem evangélica quando Jesus informa que não veio ao mundo para os sãos e sim para os doentes. O entendimento espírita é que Jesus não se referia apenas aos doentes do corpo físico, mas igualmente aos doentes da alma. Em sua época eram doentes da alma os hipócritas, os orgulhosos, os vaidosos, os sedentos do poder temporal, todos representados pelos doutores da lei judaica e pelos despóticos romanos. Os doentes da alma continuam existindo, e requerem nossa compreensão e nosso auxílio pela caridade, pois ela é o antídoto do egoísmo. Por esse motivo Chico Xavier não cessava de recomendar sobre a necessidade de orarmos pelos governantes e legisladores, pelos grandes empresários, enfim, por todos aqueles que têm o destino dos povos em suas mãos, pois orar por eles é fazer a caridade.
Lembra-nos José Herculano Pires, em sua obra O Espírito e o Tempo, que “o amor do próximo não pode existir sem o amor de Deus, e vice-versa, porque o apego ao mundo, aos bens materiais, aos valores transitórios da Terra, aguça o egoísmo”. Viver no mundo sem estar agarrado ao mundo é importante aprendizado facultado pelo Espiritismo, que nos revela a realidade da alma imortal e da vida futura. Estamos na existência, mas somos Espíritos. Temos nossa individualidade e personalidade, mas vivemos no coletivo, que requer a prática da solidariedade e da fraternidade, ou seja, do amor ao próximo; mas como amar o outro sem amar a Deus? E como amar a Deus sem amar nosso semelhante? É através da prática da caridade que o ser humano alimenta e desenvolve o amor, tanto a si mesmo, ao outro e a Deus.
Neste ponto, analisando com profundidade os ensinos dos Espíritos Superiores, Allan Kardec conclui magistralmente que a revolução social provocada pelo Espiritismo requer um alicerce poderoso: a educação, mas não simplesmente a educação intelectual, e sim a educação moral. Isso porque “nenhuma transformação pode efetuar-se e manter-se sem apoiar-se na educação”, como nos lembra Herculano Pires no livro já citado. Essa afirmação do ilustre filósofo, professor e escritor espírita corrobora o que os Espíritos ensinam: a verdadeira transformação moral e social da humanidade só pode ocorrer e sustentar-se com a transformação dos indivíduos, pois são eles que fazem a sociedade e, portanto, esse processo é educacional, e, essencialmente e prioritariamente, de educação moral.
Como o Espiritismo entende a educação e, em particular, a educação moral?
Encontramos essa elucidação em O Livro dos Espíritos, particularmente nas questões 685-a e 917, com destaque para os comentários de Kardec às respostas dadas pelos Espíritos: “Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos” (685-a), e também: “A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas (…) Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, há também, em maior número do que se pensa, as que requerem apenas boa cultura para darem bons frutos” (917).
Educar, e devemos bem compreender isso, não se resume a ensinar, lecionar ou transmitir conhecimentos nas escolas. Educar é permitir o desenvolvimento em cada indivíduo do seu potencial divino; é corrigir suas más tendências; é dar a cada um meios de utilizar a inteligência na promoção do bem comum, para todos. Educar é trabalhar harmonicamente a inteligência e o sentimento, como já compreendia e salientava o educador Pestalozzi. Assim, a educação se reveste da missão de orientar as novas gerações de tal modo que estas possam elaborar um novo futuro, um futuro mais promissor, vinculado à realidade espiritual da vida, combatendo o egoísmo e exaltando a caridade.
A educação espírita, no lar e no centro espírita, até que chegue à escola, deve ser promovida através da palavra e do exemplo, numa luta para destruir o egoísmo e privilegiar a caridade, e isso somente pode acontecer se a educação espírita for entendida como educação moral do espírito imortal e reencarnado, que tem por destino a perfeição.
O Espiritismo é, essencialmente, doutrina de educação, e o esforço a ser feito para transformação dos indivíduos e da humanidade é gigantesco. O mundo de regeneração depende dos esforços que estamos fazendo para a nossa renovação moral, que por sua vez, pela força do exemplo, renovará moralmente os outros.
Que os espíritas se conscientizem de que o Espiritismo requer muito mais do que boa vontade e frequência ao centro espírita por parte de seus adeptos, pois a sociedade humana e sua nova ordem social e moral depende inteiramente dos esforços que fazemos, como espíritas, em conhecer e vivenciar a Doutrina em espírito e verdade.