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A verdadeira lei que rege a nossa vida!

Autor: Paulo Henrique de Figueiredo

As religiões tradicionais estão desacreditadas, pois a metafísica de seus dogmas não acompanharam a evolução do pensamento moderno, impondo ideias capengas, ilógicas, inaceitáveis, cruéis quando analisadas cruamente. De origem oriental, o dogma de que Deus faz da vida um castigo por um erro cometido pela alma atravessou milênios e ainda hoje assusta e amedronta quem a aceita. O Espiritismo, por sua vez, é uma doutrina atual, baseada numa metafísica nascida da observação dos espíritos superiores sobre a realidade das leis universais. De acordo com ela, Deus jamais castiga. O fundamento da lei universal que rege as almas é a liberdade. O Criador deixa aos seres a escolha de seus caminhos, a responsabilidade dos acertos e erros. Deixa para nós até mesmo a liberdade de escolher as provas enfrentadas nas vidas, como instrumentos para superar imperfeições e adquirir qualidades.

Não há castigo divino! Enganam-se as religiões tradicionais quando afirmam o contrário. Não há fatalidade ou acaso! Enganam-se os materialistas. Conheça a lei da escolha das provas.

Segundo a teoria espírita, a necessidade da reencarnação não é a de um castigo como pensava o homem, mas, explica Kardec, “Deus, que é mais sábio que ele, prevendo os erros nos quais pode cair, o mau uso que pode fazer de sua liberdade” e então “dá-lhe indefinidamente a possibilidade de recomeçar pela sucessão de suas existências corporais, e ele recomeçará até que, instruído pela experiência, não mais se engane de caminho” (Revista Espírita 1868). Ou seja, a liberdade do homem não está só em fazer juízo dos atos, pois ele pode, conforme a sua vontade, apressar o termo de suas provas, e é nisto que consiste a liberdade.

Kardec argumenta que, tendo o homem o seu livre-arbítrio, a fatalidade não participa de suas ações individuais. Porém, quanto aos acontecimentos da vida privada, que por vezes parecem atingi-lo fatalmente, têm duas fontes bem distintas: A primeira são as consequências diretas de sua conduta na vida presente. Quem abusa da bebida e de outros vícios, arruína sua saúde. Quem tem muita ambição, atraí confrontos e disputas, “muitas pessoas são infelizes, doentes, enfermas por sua falta; muitos acidentes são resultado da imprevidência; ele não pode queixar-se senão de si mesmo” (Id., p.132).

Os outros acontecimentos inevitáveis, explica Kardec, “são completamente independentes da vida presente e, por isso mesmo, parecem devidos a uma certa fatalidade”. Mas a teoria espírita tem outra explicação, pois “o espiritismo nos demonstra que essa fatalidade é apenas aparente, e que certas situações penosas da vida têm sua razão de ser na pluralidade das existências” (Id.). Essa demonstração, contudo, é completamente diferente dos castigos imaginados pelas religiões reencarnacionistas do mundo antigo. O fato que justifica esses acontecimentos, afirma Kardec, é o de que “o espírito as escolheu voluntariamente na erraticidade, antes de sua encarnação, como provações para o seu adiantamento”. Essa escolha dos acontecimentos pelo próprio espírito é “produto do livre-arbítrio, e não da fatalidade” (Id.). Mais do que isso, a teoria da autonomia moral, ganha sua plenitude pelo que é uma lei natural do mundo espiritual: a lei da escolha das provas.

Nunca o espírito escolhe o juízo que vai adotar na sua vida seguinte, mas somente as circunstâncias nas quais submeterá a teste as suas conquistas ou o modo como pretende superar suas imperfeições. A fatalidade dos acontecimentos pelas escolhas das provas não pode impor ao homem encarnado “nem o mal, nem o bem”. Desse modo, “desculpar uma ação má qualquer pela fatalidade ou, como se diz muitas vezes, pelo destino, seria abdicar do julgamento que Deus lhe deu, para pesar o pró e o contra, a oportunidade ou a importunidade, as vantagens ou os inconvenientes de cada coisa” (Id.)

No mundo espiritual, quando possuem o conhecimento do bem e do mal, e veem a imensa movimentação dos espíritos que trabalham voluntária e incessantemente para promover a harmonia universal, sentem um grande desejo de participar ativamente do trabalho no Bem, que reconhecem como sendo sua própria razão de ser. Todavia, no trabalho humano, é preciso ter recursos intelectuais e habilidades para executar as tarefas. No mundo espiritual, os recursos são intelectuais e morais, condição evolutiva que confere ao seu perispírito potencialidades para interagir com os outros espíritos e agir sobre a matéria espiritual pela força de seu pensamento. A escolha das provas é o meio dele experimentar seu progresso, testar seu entendimento ou superar as imperfeições. Inicialmente, então, quando essa consciência, o espírito escolhe “de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais depressa”. Para isso, o espírito estuda a si mesmo, procura descobrir seus apegos e deficiências.

“Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem”, quando desejam conquistar paciência, resignação ou saber agir com poucos recursos. Outros desejam testar se já superaram as paixões inferiores e então “preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar”. Aqueles que lutam contra os abusos que cometeram, “decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contato com o vício” (O livro dos espíritos, p.220).

Talvez a melhor demonstração da liberdade de escolhas das provas, está em que alguns espíritos escolhem viver num meio confortável, onde possam usufruir de seus interesses materiais. Essa condição denota que eles possuem um “senso moral pouco desenvolvido” e, como os desejos animais não são saciáveis, acabam por abusar das paixões inferiores e adquirem vícios. Tudo isso é uma ilusão. E assim, “cedo ou tarde, compreendem que a satisfação de suas paixões brutais lhes acarretou deploráveis consequências, que eles sofrerão durante um tempo que lhes parecerá eterno” (LE, p.220). E eles ficam naturalmente nessa condição de persuasão ou entendimento, explicam os espíritos superiores, até que “se tornem conscientes da falta em que incorreram e peçam, por impulso próprio, lhes seja concedido resgatá-la, mediante úteis provações” (Id., Ibid.). Essa frase é fundamental, pois demonstra que o estado de sofrimento do espírito imperfeito acaba quando se tornam “conscientes”. Ou seja, a situação que vivem não é de castigo, mas um processo de conscientização.

O homem na Terra, preso às ideias materiais, só consegue observar nas provas, ou tribulações da vida, o seu lado penoso. Mas enquanto espírito, “uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas de modo diverso da nossa maneira de apreciá-los. Divisam a meta, que bem diferente é para eles dos gozos fugitivos do mundo” (Id., p.221):

Após cada existência, veem o passo que deram e compreendem o que ainda lhes falta em pureza para atingirem aquela meta. Daí o se submeterem voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea, solicitando as que possam fazer que a alcancem mais presto. Não há, pois, motivo de espanto no fato de o espírito não preferir a existência mais suave. Não lhe é possível, no estado de imperfeição em que se encontra, gozar de uma vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, precisamente para chegar a fruí-la, é que trata de se melhorar (Id., Ibid.).

Os espíritos que passaram por diversas provas e venceram, ganham confiança com as qualidades que conquistaram e trabalham para auxiliar seus inferiores, ao mesmo tempo em que progridem ainda mais por isso. Há uma atividade incessante depois da morte, explica Kardec, sendo que “dizem todos os espíritos que, na erraticidade, eles se aplicam a pesquisar, estudar, observar, a fim de fazerem a sua escolha” (Id., Ibid.). Quando o espírito supera uma imperfeição, ele conhece todos os passos dessa vivência: as dores e incertezas de quem sofre, a ilusão de que não vão conseguir sair desse “fundo do poço”, a insegurança de quem se sente sozinho, a sensação de derrota e culpa que conferem a infelicidade e o sofrimento moral. Depois, por uma conscientização, o espírito reconhece que tudo o que vive tem como única causa as suas próprias escolhas. Mas então também percebe que as mesmas forças de que fez uso para cair, são suficientes para que consiga a superação. Então ergue a fronte e pede ajuda, pois se o egoísmo e o orgulho são condições solitárias da imperfeição, a luta pela superação se dá numa condição solidária da cooperação. A prece é um recurso sempre eficaz para quem deseja renovar suas forças, adquirir calma e resignação diante das provas, além de esperança, reconhecendo que a alma é eterna e o hoje, basta querer, pode ser sempre melhor que o ontem. O espírito que já passou por todos esses sentimentos e ganhou uma condição de harmonia, tem então uma afinidade com seus inferiores. Sabe compartilhar vivências em comum, tem uma sintonia que permite induzi-lo à recuperação e estende sua mão para ajudá-lo. Cada um de nós tem um espírito superior a nós, pertencente a uma ordem elevada, que recebeu de Deus a missão de “de guiar o seu protegido pela senda do Bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida”. Não há exceção, pois é uma lei divina. Essa é a maior expressão do amor de Deus por suas criaturas, quando dá a incumbência do acompanhamento do nascimento à morte, e também na vida espírita depois da morte e “mesmo através de muitas existências corpóreas” (Id., p.256). Ninguém está sozinho! E talvez essa seja o mais importante ensinamento dos espíritos superiores, destinado a converter aos mais incrédulos e sofredores.

Livros do autor: https://mundomaior.com.br/paulo-henrique-de-figueiredo/

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