Autora: Ana Paula Lazzarini
O futuro pode ser revelado ao homem? – pergunta Allan Kardec aos Espíritos superiores, na questão 868 de O Livro dos Espíritos. “Em princípio – respondem eles -, o futuro lhe é oculto e só em casos raros e excepcionais Deus lhe permite a sua revelação.” Insiste o mestre de Lyon, na questão 869: Com que fim o futuro é oculto ao homem? E novamente o esclarecimento não deixa dúvidas: “Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma liberdade de agora, pois seria dominado pelo pensamento de que se uma coisa deve acontecer não adianta ocupar-se dela, ou, então, procuraria impedi-la. Deus não quis que assim fosse, a fim de que cada um pudesse concorrer para a realização das coisas, mesmo daquelas a que desejaria opor-se. Assim é que tu mesmo, sem o saber, quase sempre preparas os acontecimentos que sobrevirão no curso da tua vida”.
Desejando maiores esclarecimentos, o Codificador inquire, na questão seguinte, os amigos espirituais: “Mas, se é útil que o futuro permaneça oculto, por que Deus permite, às vezes, a sua revelação? E, mais uma vez, com a paciência e a bondade que lhes são peculiares, respondem: “É quando esse conhecimento antecipado deve facilitar o cumprimento das coisas, em vez de embaraçá-lo, levando o homem a agir de maneira diferente do que o faria se não o tivesse. Além disso, muitas vezes, é uma prova. A perspectiva de um conhecimento pode despertar pensamentos que sejam mais ou menos bons: se um homem souber, por exemplo, que obterá uma fortuna com a qual não contava, poderá ser tomado pelo sentimento de cupidez, pela alegria de aumentar os seus gozos terrenos, pelo desejo de a obter mais cedo, desejando a morte daquele que lhe deve deixar, ou então essa perspectiva despertará nele bons sentimentos e pensamentos generosos. Se a previsão não se realizar, será outra prova: a da maneira pela qual ele suportará a decepção. Mas não deixará por isso de ter o mérito ou o demérito dos pensamentos bons ou maus que a crença na previsão lhe provocou”.
Com isso, Allan Kardec nos ensina que o futuro depende exclusivamente das nossas escolhas. Não podemos saber por que vicissitudes passaremos para atingi-lo. Sempre imperará o nosso livre-arbítrio, pois, caso contrário, não haverá evolução.
A vida é para ser vivida agora! Antecipar ocorrências representa precipitação de fatos que, talvez, poderão não acontecer, conforme o curso que eles tomarem agora. As emoções canalizadas em relação ao passado ou ao futuro dissipam ou gastam energia vital, que deve ser utilizada na ação do momento. “Não andeis, pois, ansiosos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu cuidado”, afirmou Jesus, conforme firmado no Evangelho de Mateus, capítulo 6, versículo 31.
Mas podemos prever os acontecimentos futuros? Na questão 402 de O Livro dos Espíritos, na qual Kardec aborda os benfeitores sobre a liberdade do Espírito durante o sono, respondem que o conhecimento do futuro se dá pelos sonhos. Afirmam: “Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro”.
Em A Gênese, capítulo XVII, o Codificador esclarece: “Aquele a quem é dado o encargo de revelar uma coisa oculta recebe, à sua revelia, e por inspiração dos Espíritos que a conhecem, a revelação dela e a transmite maquinalmente sem se aperceber do que faz. É sabido, aos demais, que assim, durante o sono, como em estado de vigília, nos da dupla vista, a alma se desprende e adquire, em grau mais ou menos alto, as faculdades do Espírito livre”. Prossegue Kardec: “(…) Muitas vezes, as pessoas dotadas da faculdade de prever veem os acontecimentos como que desenhados num quadro, o que também se poderia explicar pela fotografia do pensamento”.
Em O Livro dos Médiuns, o mestre de Lyon faz vários comentários a respeito do conhecimento do futuro, dizendo que esse conhecimento ocorre através de uma intuição muito vaga daquilo que pode acontecer, e isso se dá através dos médiuns de pressentimento. Mas o homem não deve saber tudo que está por vir, pois, se Deus assim permitisse, não trabalharia em prol da sua evolução e progresso, pois, sabendo o que estaria por acontecer, negligenciaria o seu presente. Sendo o futuro algo de bom, permaneceria inerte esperando sua realização, sendo algo desagradável, cairia em estado de tristeza e melancolia. Assim, como dizia o saudoso Francisco Cândido Xavier: se quisermos saber sobre nosso passado, analisemos nosso presente; mas, se quisermos saber de nosso futuro, analisemos nosso presente.
Quem de nós já não se interessou pelo conhecimento do futuro, e quem de nós já não teve acesso a narrativas de fatos de futuro revelado? A própria natureza humana traz em si mesma a noção da existência do futuro, e a esperança é, entre outras coisas, a expectativa de que o porvir será composto de situações e condições melhores para se vivenciar e usufruir. Quando buscamos conhecer o que nos aguarda mais adiante, desejamos saber, em verdade, se virão facilidades para nossa existência, que sempre achamos atribulada demais, esquecendo-nos de que existe um programa reencarnatório que tem como objetivo maior nos elevar, na condição de Espíritos imortais que somos, ao desenvolvimento moral decorrente do resultado de nossos comportamentos diante das provas e expiações que a justiça divina nos apresenta.
O que importa, portanto, é como experimentamos e reagimos ao agora, porque, a todo momento, estamos desenhando nosso futuro através das consequências daquilo que escolhemos como nossa forma de ser e agir, seja para o bem ou seja para o mal.
Viver o agora é trabalho de cada um a fim de construirmos, cada um, um mundo melhor dentro e fora de nós.
Bibliografia
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. XXI, Missão dos Profetas.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns – Cap. XVI.
KARDEC, Allan. A Gênese – Cap. XVI – As Predições segundo o Espiritismo.
O consolador – Artigos