Autor: Eder Andrade
O conhecimento que a doutrina espírita nos oferece permite aqueles que assim desejarem, promoverem uma profunda mudança em suas vidas. Ninguém vai conseguir uma transformação de uma hora para outra, serão necessários anos de vivência e prática dos ensinamentos doutrinários.
Algumas pessoas acham que apenas o conhecimento da doutrina espírita é o suficiente para promover uma renovação no comportamento e na reeducação dos sentimentos. Na verdade, faz-se necessário um testemunho pessoal no dia a dia, onde o indivíduo vai colocar em evidência através de ações tudo que aprendeu, dando uma demonstração se realmente conseguiu promover uma transformação interior.
As mudanças que desejamos em nossa vida dependem de uma atitude de nossa parte, ressignificando nossas crenças e valores, fato esse que não se dá, do dia para noite.
O Espiritismo utiliza uma didática simples, pois entende que cada pessoa tem um tempo de amadurecimento e com isso precisa também modificar seus sentimentos e a forma com que percebe os acontecimentos que ocorrem em sua vida e das demais pessoas que a cercam.
Teorizar é uma coisa, colocar em prática é outra completamente diferente. Muitos indivíduos perguntam por que os espíritas conhecendo a verdade ainda reincidem nos mesmos erros. No Evangelho segundo o Espiritismo 1, Cap. XVII, Sede Perfeitos, encontramos a orientação; o homem de bem e os bons espíritas.
Nesses dois subitens podemos observar que devido à natureza humana ser bastante imperfeita e heterogênea, as pessoas se modificam em ritmos diferentes e dessa forma o processo de transformação ou reforma moral é muito individual. O acesso ao conhecimento não é a garantia para uma transformação do indivíduo, faz-se necessário vivenciar esse conhecimento, promovendo uma ressignificação de valores. O homem velho precisa ficar para trás e dessa forma darmos espaço para a construção de um novo modelo.
Na obra psicografada por Chico Xavier A Caminho da Luz 2 encontramos narrativas contadas pelo Espírito Emmanuel da transformação de homens que deram grandes testemunhos. Foram os casos em particular da conversão de Saulo de Tarso (Paulo) na estrada de Damasco na Idade Antiga e de Giovanni di Pietro di Bernardone (Francisco de Assis) na Idade Média. Eles tinham uma vida completamente diferente e devido a um acontecimento inesperado deram uma grande reviravolta, deixando para trás o tipo de vida que tinham e passando a viver uma vida voltada para as questões espirituais.
Existem pontos em comum, em ambos os personagens desse exemplo, que deixaram para trás o “homem velho” e passaram a viver um novo formato de vida. Esse fato foi determinante para explicar que a exemplificação depende do desejo individual de cada um.
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”.1
Na obra psicografada por Chico Xavier cujo título é Emmanuel 3, de 1937, o benfeitor espiritual procura orientar os médiuns de forma a entenderem o grande desafio que terão de enfrentar com a tarefa da mediunidade e seus desdobramentos. Não é apenas uma questão de conhecimento doutrinário, mas de reeducação de valores de vida. Os desafios da mediunidade implicam em uma mudança de conduta diante da vida e de uma exemplificação em novas atitudes.
O conhecimento literário e teórico da doutrina espírita é de fácil acesso, porém o indivíduo comum precisa compreender que esse conhecimento sozinho não vai garantir que toda aprendizagem seja colocada em prática, pois antes se faz necessário uma reeducação dos sentimentos, sem a qual se torna impossível associar de forma correta a ação e a prática do que se aprendeu. Essa seria a explicação, para aqueles que falam uma coisa e fazem outra diferente. É preciso sentir e refletir, se somos capazes de vivenciar aquilo que acreditamos, por isso que precisamos rever a nossa crença do que é certo ou errado em nossas vidas.
O frequentador comum das reuniões públicas, assim como as pessoas de pouco estudo acreditam, que o conhecimento que os espíritas possuem deveria ser melhor vivenciado, uma vez que estão divulgando a doutrina. O livro Emmanuel, em Mensagem aos médiuns, trabalhadores e também para alguns frequentadores assíduos, deixa claro que no processo de reforma íntima se faz necessário um testemunho de simplicidade, boa vontade e humildade no trato para com todas as pessoas. Somos obrigados a reconhecer que os trabalhadores das Casas Espíritas também estão em processo de transformação moral e serão os mais exigidos.
No Evangelho Segundo o Espiritismo1, cap. XX, encontramos a orientação do Espírito da Verdade aos espíritas, onde relata os grandes desafios que envolvem a mediunidade e os testemunhos que terão de dar ao longo de suas vidas, quando abraçam a missão de serem divulgadores da Boa Nova, porém ainda portadores de uma carga de imperfeições, que terão de ser reeducadas ao mesmo tempo em que colocam em prática o sacerdócio da tarefa que abraçaram nessa encarnação.
“A quem muito foi dado, muito será pedido” (Lucas, XII: 47-48)
Podemos resumir a questão da ação e prática dos ensinamentos espíritas deixando uma mensagem bem simples, façamos o que está ao nosso alcance, com o objetivo de nos melhorarmos a cada dia. A natureza não dá saltos, tudo é um processo. Emmanuel nos deixa grandes recomendações para refletirmos e sendo possível promover uma reeducação libertadora dos preconceitos que somos reféns. Faz-se necessário estudar, orar e vigiar, assim como policiar nossas atitudes tentando evitar recair nas dificuldades as quais ainda não conseguimos superar.
“Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo”. (Espírito da Verdade. Paris, 1860.)
Referências
1) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; Cap. XVII; 3 – O homem de bem; 4 – Os bons espíritas; Cap. XX; 4 – Missão dos espíritas; FEB.
2) Xavier, Francisco Candido Xavier; A Caminho da Luz; Cap. XV – A missão de Paulo; Cap. XVII – Francisco de Assis; FEB.
3) Xavier, Francisco Candido Xavier; Emmanuel; Cap. XI – Mensagem aos médiuns; FEB.
O consolador – Ano 15 – N 745 – Artigos
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