Autor: Marcus De Mario
O Espiritismo surge no mundo na metade do século dezenove, mais precisamente no ano de 1857, quando aparece nas livrarias francesas a obra O Livro dos Espíritos, assinada por Allan Kardec. Um nome curioso e uma assinatura desconhecida chamam a atenção dos leitores, e em seis meses a primeira edição estava esgotada, de um livro feito de perguntas e respostas separadas por temas, abrangendo todos os ramos do conhecimento humano, inclusive o espiritual. As perguntas feitas por Allan Kardec, que os franceses e demais povos viriam descobrir tratar-se de Denizard Rivail, professor e disseminador das ideias educacionais pestalozzianas, ilustre pedagogo, tradutor e escritor educacional com várias obras já publicadas. Ele se escondia num pseudônimo porque a obra não era dele, era dos Espíritos!
E do que trata esse O Livro dos Espíritos?
Das causas do universo e da vida; sobre quem somos, de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos; sobre a alma imortal; sobre a vida depois da morte; sobre a reencarnação; sobre o destino dos homens e da humanidade; sobre as leis morais; sobre as penas e recompensas atuais e futuras perante a lei divina. Muitos temas científicos, culturais e morais desenvolvidos pelos Espíritos e com vários comentários de Kardec.
Surge no mundo uma nova doutrina filosófica e científica com consequências morais.
E qual é a finalidade do Espiritismo?
A transformação moral dos homens e mulheres para que estes, moralizados e espiritualizados, possam transformar a humanidade, fazendo o bem predominar sobre o mal.
O Espiritismo não é mais uma religião no espectro histórico e cultural religioso da sociedade humana. Não possui sacerdócio nem dogmas inquestionáveis. Pelo contrário, é doutrina libertadora das consciências, demonstrando que a vida continua após a morte, e que a cada um será dado segundo suas obras, como bem nos ensinou Jesus.
Equivoca-se quem vê no Espiritismo apenas uma religião e tenta conformar o Centro Espírita a uma igreja, repetindo os velhos hábitos da confissão, da benzedura, da salvação messiânica, pois o Espiritismo solicita a conquista de si mesmo e da felicidade através da transformação íntima, desaguando na vivência do amor e da caridade para com todos.
Alerta-nos José Herculano Pires em sua magistral obra Curso Dinâmico de Espiritismo:
“Cada espírita, ao aceitar e compreender a grandeza da causa doutrinária e sua finalidade suprema – que é a transformação moral, social, cultural e espiritual do nosso mundo – assume um grave compromisso com sua própria consciência.”
Como sermos o mesmo de antes perante o conhecimento da Doutrina Espírita? Não basta acreditar na alma imortal e na reencarnação. Não basta saber de forma decorada trechos das obras de Kardec. Não basta frequentar o Centro Espírita uma ou duas vezes por semana, do mesmo modo que antes fazíamos com a igreja. Como realizar a “transformação moral, social, cultural e espiritual do nosso mundo” sem compreender que o autoconhecimento e a autoeducação são imprescindíveis? Como esclarecer as mentes e consolar os corações sem o estudo mais aprofundado da doutrina? Como querer educar com base na realidade do espírito imortal, se continuamos a manter vícios e paixões que desonram nosso caráter?
Passemos a palavra ao Espírito Santo Agostinho, quando em magistral texto publicado no capítulo 14, item 9, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos adverte:
“Ó espíritas! Compreendei agora o grande papel da Humanidade; compreendei que, quando produzis um corpo, a alma que nele encarna vem do Espaço para progredir; inteirai-vos dos vossos deveres e ponde todo o vosso amor em aproximar de Deus essa alma: esta é a missão que vos está confiada e cuja recompensa recebereis, se a cumprirdes fielmente. Os vossos cuidados e a educação que lhe dareis auxiliarão o seu aperfeiçoamento e o seu bem-estar futuro. Lembrai-vos de que Deus perguntará a cada pai e a cada mãe: Que fizestes do filho confiado à vossa guarda? Se ele se conservou atrasado por culpa vossa, tereis como castigo vê-lo entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse feliz. Então, vós mesmos, torturados de remorsos, pedireis para reparar a vossa falta; solicitareis, para vós e para ele, uma nova encarnação, na qual o cercareis de melhores cuidados e em que ele, cheio de reconhecimento, vos envolverá com o seu amor.”
É grave e profunda nossa missão espírita na Terra, compreendendo que o Espiritismo é doutrina de educação da alma imortal que todos somos. O futuro é dependente do que fazemos agora. A felicidade no amanhã depende da educação que estamos promovendo hoje, lembrando que primeiro temos que assumir esse compromisso com nossa própria consciência.
Compete ao espírita um grande papel na renovação do mundo, mas ele somente poderá cumprir com fidelidade esse papel, se compreender com profundidade o significado e finalidade da doutrina que abraça e que deve orientar seus passos neste mundo de Deus.