Há um equívoco de compreensão sobre a faculdade mediúnica, quando médiuns supõe que são os Espíritos protetores ou até os dirigentes das reuniões -se participam de alguma- os responsáveis pela condução e direcionamento da sua mediunidade.
Esse equívoco, terceirizando o que lhe pertence, provoca muito desgosto e facilita a interferência negativa no campo mental da pessoa-médium; porque neste caso carece de por atenção no que lhe compete em termos de observação do que sente e pensa e das consequências, muitas vezes funestas disso, refletindo em todos os aspectos de sua vida, incluindo, é claro, a mediunidade.
Todos somos indivíduos individualizados e a ninguém compete cuidar do que é nosso. Podem nos ajudar, apenas. E a mediunidade, sendo um patrimônio da humanidade, é de cada um que seja humano, no grau que já a desenvolveu e somente a si mesmo cabe cuidar dela e dar-lhe o direcionamento que quiser.
Quando pensamos no médium usando, administrando e convivendo com sua faculdade mediúnica, estamos pensando em um ser humano semelhante aos demais, mas com uma capacitação sensitiva um pouco mais desenvolvida.
A diferença entre o médium e os que não têm a mediunidade ostensiva é a mesma que há entre um músico e os que não o são, entre um biólogo e quem não o é. Ou seja, o médium pode perceber, entender e sentir mais a ação dos Espíritos do que as demais pessoas. No demais, é como todas as outras, pleno de falhas e ignorâncias.
O desenvolvimento dessa potencialidade não representa melhor moral, mais espiritualidade, melhor ser humano ou um espírita consciente. E não é sinônimo de ligações espirituais boas e elevadas.
Mas pode representar, para o espírita, um recurso inigualável de auto-conhecimento, de entendimento do funcionamento da vida sob a luz dos Princípios do Espiritismo e da vivência desses mesmos Princípios, como valores de renovação pessoal. Nesse caso, há uma grande oportunidade de aprender a conviver de forma saudável, natural e construtiva com os próprios recursos mediúnicos.
Muito maior é essa oportunidade e a gratificação pessoal que pode trazer, se desse aprendizado nascer uma bela atitude científica de experimentar as lições espíritas, observando como funcionam no dia-a-dia e como podem modificá-lo para melhor. É a aplicação prática do tríplice aspecto do Espiritismo: filosofia, ciência e consequências morais.
Poderá, então, desenvolver a capacidade de distinguir, o quanto for possível, os pensamentos dos Espíritos; separar dos seus, os sentimentos e as emoções deles; ganhar modéstia e sinceridade, porque usará e se beneficiará das boas idéias dos Espíritos, declarando terem vindo deles; desenvolver a humildade, “sabendo-se do seu tamanho” pois, o “maior” que possa parecer, às vezes, é a presença de um Espírito bom ou com mais conhecimentos, que pretende elucidá-lo e a outras pessoas, através do seu potencial.
Também, se suas experiências e vivências mediúnicas puderem ser compartilhadas com outros médiuns e estar na vida de uma Casa Espírita, poderão ser estendidas pelas observações e sugestões vindas dos demais, numa prática de crescimento consciente e coletivo.
Com isso, pode ser facilitado um gradual processo de superação e transformação das tendências, idéias e sentimentos que “puxam” a pessoa para baixo e abrem campos de atração e convivência com Espíritos que estão mal consigo mesmos; e também com os mal intencionados, que se aproveitam dessa condição psicológica. Convivência essa que reforça posições equivocadas e negativas, estimula o orgulho e a vaidade, dificultando o crescimento pessoal, mesmo que a pessoa estude o Espiritismo.
Entendendo-se um indivíduo cuja personalidade atual reflete a individualidade espiritual que é, e consciente de que essa oportunidade pode fazer um grande diferencial a seu favor, o médium espírita poderá estabelecer, para si, uma oportuna e racional disciplina de condutas e pensamentos, promovendo melhores ligações espirituais. Esse empenho promoverá melhoria interior que se refletirá exteriormente, no que faça, criando um testemunho espontâneo das benesses que advêm da mediunidade trabalhada à luz dos ensinos espíritas.
Esse zelo e essas atitudes correspondem ao que se entende por administrar sua faculdade mediúnica, ou seja, conhecê-la, aprender o mais que possa sobre seu funcionamento, observar -para reconhecer- suas características pessoais como médium, encontrar formas saudáveis de lidar consigo e com sua mediunidade -pondo-a a serviço de seu crescimento pessoal- e viver uma vida de ser humano comum. Afinal, todas as pessoas têm características, conhecimentos, experiências e vivências próprias, com as quais se individualiza e a mediunidade é apenas uma delas.
Quanto mais a pessoa-médium sente-se bem consigo mesma, confiante e segura, melhor será seu desempenho mediúnico, pois, despreocupada do prestígio pessoal e do auto-engrandecimento, estará também afastando-se da vaidade e do orgulho que criam o medo de errar, a expectativa de ser mais e a cegueira quanto ao valor dos seus companheiros de tarefas.
-O Livro dos Médiuns – 2ª-parte, cap. XX – 226, itens 3e4, 227 e 228
– O Evangelho segundo o Espiritismo, cap.XVII – item 4
Jornal do NEIE-CEM, Edição 159, Agosto de 2010
Endereço original: http://www.jornaldocem.com.br/edicao-159-agosto-de-2010/administre-sua-mediunidade/
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