Autor: Gebaldo José de Sousa
Nota: Dedicado aos meus netos
Dizem que quando Deus tem compaixão dos velhos, manda-lhes netos
Anônimo
Uma Avó é uma Mãe maravilhosa com um ‘monte’ de prática. Um Avô é um velho por fora e um jovem por dentro
Joy Hargrove
A netinha caçula, aos três anos e sete meses de idade, chega à nossa casa, não encontra o vovô, após buscar-me por alguns cômodos.
Ainda à minha procura, pediu à vovó que abrisse a porta da biblioteca – onde cultivo a amizade com os livros – e aqui também não estava eu.
Informada de que fora caminhar, no exercício periódico para preservar a saúde física, surpreendeu a vovó, comentando:
– ‘Adolo’ o vovô!
Instada pela própria mãe a dizer que também ‘adolava’ a vovó, olhava para o lado e cantarolava: hã! hã! hã!
Como a dizer, esta é outra história!
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Recentemente, lembrei-a do fato, para explicar-lhe o que é afinidade e que pode ser grande por alguém especial, nem sempre da família; e que isso não exclui o amor pelas demais pessoas, ou a afinidade por tantas outras, em graus variados.
Desde pequenina, manifestou enorme carinho pelo primo João Eduardo – fato a que ele corresponde atenciosamente, com doçura e abraços. E um tanto pelo tio Stanley, que a paparica sempre! Concordou plenamente.
Perguntei a ela se gostava também dos dois irmãos e do outro primo. E ela, pressurosamente, meneou a cabeça afirmativamente. Ao que lhe retruquei:
– Mas do Dudu você gosta mais, não é?
Em resposta, o gesto afirmativo e o sorriso maroto revelam o que sente por ele.
Disse-lhe que não se preocupasse, eis que esse é o sentimento nobre da afinidade, que certamente terá vida afora, com mais pessoas!
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Aqui somos dois avós a apreciar as personalidades e os precoces talentos dos cinco netos! São amorosos e cordiais. Conquistaram-nos para sempre!
Todos eles apreciam a boa música e tocam instrumentos musicais:
– O Saulo, além do piano, executa o violão e tira som de inúmeros outros instrumentos (flauta, violoncelo, entre outros). Estuda os idiomas: alemão e japonês.
Era aluno numa escola de música e substituiu colega percussionista. E se houve tão bem que o Professor lhe deu bolsa de alguns meses, para aperfeiçoar-se.
Compõe músicas eruditas e populares; executa aquelas ao piano e estas, ao violão, cantando com sua bela voz.
Hoje, cursa o terceiro ano de piano na Universidade Federal de Goiás; e canta, como baixo, nos coros das Orquestras Sinfônicas do Estado de Goiás e da Prefeitura de Goiânia.
Alguns professores recomendam a ele dedicar-se ao canto lírico, por lhe apreciarem a voz e a facilidade em aprender canções em vários idiomas.
Ao concluir o curso de piano, migrará para o de Canto.
– O Estêvão toca flauta; dedica-se ainda ao violão. E é leitor voraz!
– O João Eduardo também compõe peças clássicas e as executa ao piano – tanto as próprias quanto outras composições (Le Lac de Come, por exemplo)!
– O Guilherme iniciou-se ao violoncelo e hoje aprende a tocar o violão.
– A Clarissa – pasmem! a caçula e única menina do grupo, prefere a bateria; desenha muito bem e faz animações. Acompanha o próprio pai ao violão em várias canções (das quais, prefiro Edelweiss).
À exceção do Saulo, o tempo é escasso para os demais dedicarem-se a essas atividades, mas sempre que podem a elas retornam.
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Aos três anos, após o almoço, a pequena Clarissa pediu-me que passasse ‘filminho’ para ela assistir.
Buscando afastá-la por algum tempo desse ‘vício’, disse-lhe que aguardasse um pouco. Depois, iria atendê-la! Da televisão passamos para o computador, mas, entre a primeira e este último, apreciamos belos espetáculos.
Vimos e ouvimos o som da chuva que descia torrencial e mansamente, quase perpendicularmente. Observamos com prazer essa bela manifestação da natureza e as árvores ao fundo, além de um que outro pássaro que por lá voava, a buscar refúgio.
Sentados, lado a lado, ficamos bom tempo admirando a fascinante beleza desse espetáculo natural, nem sempre observado por todos nós.
Ambos gostamos de música e de dança e, nas circunstâncias, veio-me à mente o filme ‘Cantando na Chuva’, elo de transição entre o cinema mudo e o falado – musical de 1952, com Gene Kelly e Debbie Reynolds, dirigido por Stanley Donen.
A seguir, no computador, assistimos a esse filme – belíssima obra da Arte humana. Na parte da canção, vimos e revimos essa obra-prima.
Daí, a memória dirigiu-me para a música do filme ‘Zorba, o Grego’ – de 1964, com Anthony Quinn e Alan Bates, dirigido por Michael Cacoyannis –, que assistimos a seguir!
No dia seguinte, convidei-a para ver e ouvir a disputa entre um jovem autista, a tocar banjo e integrante do filme ‘Amargo Regresso’, com um violão. Esse registro belíssimo da Arte das Artes foi o que ficou dessa película. E foi acontecimento que se deu casualmente, pois não estava em nosso roteiro. Vimos também outras versões da música do filme ‘Zorba, o Grego’.
Confessou-me que estava feliz!
Certamente ela os verá na íntegra, no futuro!
Surpreende-me vê-la, tão jovem ainda, com sensibilidade para sentir, em silêncio, a beleza dessas extraordinárias expressões das Artes!
E sabe ouvir atenta e concentradamente! Se fazemos observações – e eu as faço, nem sempre oportunas, reconheço! –, ela, atenciosa, sem uma palavra, com um gesto, concorda, ou não, meneando a cabeça, sem perder o foco.
Lições que preciso aprender! Sobretudo essa, da Arte de Ouvir!
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Deixo para os netos, nestes breves registros, o carinho do vovô que os ama e admira, enternecidamente! Sentimentos esses compartilhados pela vovó, por quem manifestam imensa ternura e que os atende em seus pratos preferidos!
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Leiam a bela crônica de Rachel de Queiroz: A Arte de ser Avó, para sentirem quão importante é chegar à condição de avós!
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Atualmente há outros vícios tão ou mais arraigados do que tiririca: o telefone celular e o computador; que, se mal utilizados, geram dependência e enfermidades.
Além disso – o que é mais grave! –, afastam crianças e jovens das indispensáveis leituras e da concentração que estas requerem; bem assim da interpretação de textos e do aprendizado em geral. São os chamados analfabetos funcionais, por não compreenderem o conteúdo de quaisquer páginas escritas, além de não saberem redigir e ignoram as quatro operações, após frequentarem quatro anos do “ensino” público!
Para o aprendizado da redação, ler é fundamental, especialmente autores clássicos.
Hoje, abreviam as palavras, deformando-as; e, por não estudarem nosso idioma, não se comunicam com clareza, pela pobreza de seus vocabulários!
Essas deturpações aumentam o desemprego, pois há inúmeras vagas que não têm competência para ocupar.
Adotam vícios de linguagem horrorosos – que meus escrúpulos recusam grafá-los, ou repeti-los verbalmente! Não soam eufonicamente a ouvidos que estudam e amam a belíssima Língua Portuguesa!
Mas admito que os recursos da tecnologia das mídias sociais – favorecidos pela Internet – são fundamentais para os tempos atuais e futuros, seja pelo telefone celular, seja pelo computador, seja pelos extraordinários recursos da astronáutica, das pesquisas médicas e de tantos outros, como a televisão, as ‘lives’, e outros mais!
É preciso repensar a educação – cujo nível caiu abaixo da crítica! –, para que a leitura e a interpretação de textos sejam cultivadas, ainda que pelos meios virtuais; e os jovens sejam preparados para o trabalho em qualquer ramo do conhecimento humano.
A geração de que faço parte – com raras exceções – aprecia livros impressos, que permitem serem conduzidos a toda parte, além de ensejar sublinhar as partes que nos tocam!
O consolador – Artigos