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Afeição sexual em família

Autor: Rogério Miguez

A formação das famílias, de modo geral, é definida no plano etéreo, bem antes de sua real materialização no plano físico.

Já participamos de incontáveis famílias, é certo, pois a caminhada é longa até atingir a perfeição relativa, contudo, não se conclua deste fato que os grupamentos familiares são constituídos de Espíritos sem forte vinculação anterior.

Como as famílias são constituídas de poucos elementos, normalmente, a ela se integram aqueles em que as vivências passadas em comum são significativas, pois há arestas a lapidar, laços a fortalecer ou desatar. Se não fosse assim, seria muito difícil construir a harmonia entre tantos Espíritos, quase desconhecidos, participantes de numerosas e estranhas famílias.

Há figuras de fato funcionando como estrangeiros dentro do seio família: as conhecidas ovelhas negras e seus opostos, as ovelhas brancas, são exemplos desta situação, mas representam exceções. Contudo, se não houver estas particulares ovelhas nas famílias, os que lá se encontram ligados, na atual existência, possuem passado comum, às vezes de intensa interação.

Sendo assim, os Espíritos integrantes das famílias, em muitos casos, já se relacionaram afetivamente nas existências anteriores, não sendo incomum que estas vinculações não tenham sido sadias, baseadas em enganos e erros do amor, desequilibradas e mesmo infelizes, criando fortíssimos laços entre, por exemplo, pais e filhos, necessitando, alguns, serem desatados.

Por esta razão, esta acentuada afetividade construída muita vezes por desregramentos emotivos, pode facilmente caminhar para a atração sexual, pois, de fato, no passado, alguns destes filhos foram literalmente amantes de seus pais e agora, por conta de tendências inatas, expressam inconscientemente as antigas afeições, buscando reviver as velhas e fortes emoções e sensações, mas sem entender, perfeitamente, por qual razão se sentem inclinados a agir desta forma. Não conseguem esconder as suas preferências em relação ao pai ou à mãe, e, em sentido oposto, surgem, do mesmo modo, as animosidades inatas por ele ou ela, e vice versa.

Como exemplo, podemos destacar uma situação de triângulo amoroso formado no passado, quando ele destruiu o casamento de outro, ou mesmo ela, tomou a marido de outra, situação muito comum, explorada à exaustão nas edificantes novelas apresentadas pelas redes televisivas. Nestes casos, a parte lesada pode ressurgir, por exemplo, como filha, e será uma luta para entender as reações do pai, quando sentir anormal atração pela filha, sua anterior amante; pela mãe, quando se sentir ameaçada, mais uma vez, pela própria menina, sua antiga rival; sem falar na própria filha ao sentir os sentimentos surdos de animosidade da mãe, não entendendo também o excesso de carinho oferecido pelo pai, despertando nela sentimentos confusos em função das emoções vividas em passado, às vezes, não tão longínquo.

Se estão vinculados à religiões tradicionais, tanto pior, pois se acreditam pecadores só de pensar nesta possível realidade, martirizando-se ao extremo, uma vez que, recebem ensinamentos religiosos de que estas práticas representam pecados irremissíveis, imperdoáveis, caminho certo para o dito inferno.

Por conta disso, não se creia que o ordenamento doutrinário espírita apoia a atração sexual entre pais e filhos, não, mas explica quais são as motivações por trás destas inclinações inatas, bem como as repercussões, e, apresentando claramente como funciona a lei da reencarnação ao reunir Espíritos afins. Orienta, igualmente, que estes desejos sejam plenamente controlados, pois pertencem a um passado que não pode e não deve ser, mais uma vez, revivido, sob pena de agravar o processo de desvinculação.

Sendo exatamente esta a razão do porquê foram reunidos Espíritos com forte vinculação sexual, para que estes sentimentos sejam sublimados, superados e permaneçam contidos apenas no âmbito das sadias relações que devem existir entre pais e filhos, e nada a mais.

Em vão se tentará encontrar solução plena para o conflito usando apenas teorias materialistas, sem respaldo na lei das reencarnações, pois só a última pode, com lucidez, explicar o que se passa, ajudando sobremaneira para que os envolvidos iniciem um trabalho de superação e refreamento de reminiscências das antigas sensações.

E mais, nestes encontros e desencontros passados, nem sempre houve uma afeição honesta e de fato positiva, muitas vezes foram relações abusivas e dominantes que levaram o outro a sofrimentos atrozes e, agora, este misto de paixão e amarguras, explode em condutas estranhas, enigmáticas, quando pais ou filhos se tornam possessivos e buscam, como no passado, voltar a exercer o mesmo domínio, submetendo o familiar aos seus caprichos e obstinações.

As anteriores ligações explicam, perfeitamente, por qual razão um pai não aceita nenhum namorado de sua filha e, de modo semelhante, uma mãe rejeita todos as namoradas de seu filho. Se pudessem, manteriam seus filhos sob suas asas, cativos, pelos tempos afora, sem sequer perceberem, por conta de desejos inoportunos, que os filhos precisam obter experiências por conta própria, com os afeiçoados escolhidos, evidentemente, fora do seio familiar.

Dificultando os relacionamentos dos filhos criam em suas mentes, talvez ainda em formação, obscuros entraves. No futuro, eles terão dificuldade em superar estes conflitos.

Sem um trabalho de contenção destas tendências, é possível surgir a prática muito comum nestes chamados tempos modernos, mesmo que os pais não apresentem tais desvios de personalidade: a pedofilia. Esta pode aparecer incentivada pelas relações antigas e, não há dúvida, também por conta do mau caráter dos pais. Mais à frente, complexos sentimentos de culpa surgirão, martirizando ainda mais, criando de igual forma condições para complicadas expiações nas futuras existências. Não é por acaso que as leis da genética, perfeitamente estruturadas pelas sabedoria do Criador, podem acabar gerando seres deficientes por conta da consanguinidade, como resultado de contatos sexuais entre os da mesma família.

Além dos sentimentos ainda desajustados entre pais e filhos, podem, igualmente surgir, tendências inadequadas entre os próprios filhos, ou seja, entre os irmãos. São atrações tais que um impede que o outro faça amizades mais profundas com colegas do sexo oposto, pois sente ciúmes e inveja do amigo ou amiga de sua irmã ou irmão, respectivamente.

Nestes casos, cabe aos pais atenção redobrada no dia a dia dos filhos, e, ao identificar possíveis intimidades entre eles, conversar e buscar conscientizá-los de que o relacionamento é impróprio e desaconselhável.

Como se não bastassem as dificuldades enfrentadas pelos familiares incursos nesta particular situação, há uma enorme contribuição para o agravamento do conflito causada pelas entidades desencarnadas que, em franco desequilíbrio, buscando possível vingança contra este ou aquele integrante da família, estimulam estas inclinações inatas, minando as frágeis resistências morais, fortalecendo os pensamentos proibidos dos envolvidos, criando imagens sugestivas na mente dos desavisados, ou seja, provocando novas ideias e insinuações para a prática destes comportamentos.

Entretanto, não adianta levantar o véu do porquê ocorrem estas estranhas situações e deixar que os envolvidos literalmente se virem com a realidade. Felizmente, o Espiritismo não foi elaborado com este fim, muito pelo contrário, sugere ações factíveis para que os envolvidos busquem e alcancem um convívio harmônico ainda nesta existência, preparando um futuro melhor para todos.

Se a mente das crianças se mantém em chamas, em turbulência, sem encontrar a paz interior, cabe aos pais cuidar sempre da Evangelização dos filhos, bem cedo, antes que a verdadeira personalidade e caráter de seus amados emerjam das profundezas de suas mentes ainda infantis. Há programas de Evangelização infantil que contemplam também estudos para os pais, enquanto as crianças aprendem as primeiras noções sobre a Boa Nova em conjunto com os postulados espíritas. Esta última organização da atividade seria o ideal para a família.

De igual modo, a prática do estudo e comentários no seio da família sobre o verdadeiro funcionamento das leis divinas, aliado à observação das corretas condutas à luz das explicações espíritas – o Evangelho no Lar -, será sempre uma medida, se não plenamente eficaz, mas ao menos pacificadora, lançando sementes morais que no futuro poderão frutificar e levar os filhos a superar suas dúvidas interiores, apaziguando seus corações. Esta prática é excelente defesa contra o assédio das mentes desencarnadas ainda em desalinho, os obsessores.

Nesta última prática, não se deve menosprezar também os benefícios que poderão surgir em relação aos pais, que poderão aprender como melhor lidar com estes enigmáticos relacionamentos que amedrontam, quando não se conhece a raiz do problema.

Não há dúvida de que se deixar esquecer em alguma atividade voltada ao bem do próximo é outra medida de raro valor. Ajudando os outros, ajudamo-nos sempre. As nossas incertezas e dúvidas perdem força, abrindo espaço para que outros sentimentos mais nobres ocupem os seus lugares.

A oração também é atitude recomendada nestas horas, quando o nosso lado sombra deseja se impor, mais uma vez. É pela constante vinculação com as forças divinas que nos fortalecemos para enfrentar os grandes desafios. Uma conversa íntima com nosso anjo guardião, expondo as nossas fraquezas e pensamentos mais íntimos, servirá de apoio e amparo para os momentos mais agudos.

E, existe uma opção desconhecida de muitos, mesmo de alguns espíritas, que é pedir para que os protetores, na hora do sono, quando todos estão emancipados, permitam e providenciem um encontro entre as partes em conflito. Nestas horas, pode-se conversar com sinceridade e amor, e o efeito pode ser milagroso.

É oportuno também lembrar que, como a criança ainda está vinculada ao plano imaterial, ou seja, permanece com percepções espirituais acentuadas enquanto não ocorre propriamente a reencarnação do Espírito da criança, orar em seu quarto, enquanto ela dorme, e conversar com ela, pode ser outra atitude produtiva, pois o Espírito da criança estará ali e vai escutar tudo, expressando, ao acordar, mais confiança nos pais, em função dos efeitos das palavras ditas com amor e sinceridade.

Deve existir renúncia e abdicação, controle e disciplina, continuadas, até que o tempo, por sua vez, faça também o seu trabalho ajudando no processo de desvinculação destes Espíritos. Em relação à primeira – a renúncia -, ela possui a capacidade de controlar os instintos e as sensações mais grosseiras, sendo importante aliada para questões como estas.

Enfatizamos, da mesma forma, a questão da disciplina. Se adotarmos estas condutas regularmente, por certo, sairemos vencedores sobre algumas desconcertantes tendências e inclinações, pacificando as nossas mentes, e nos preparando para uma vida
sadia e fecunda dentro da família e da sociedade, às quais fomos trazidos para participar e crescer.

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