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Água: A ficção da futura geração

Autora: Sílvia Ap. Machado Rosa

Um dos grandes problemas que a humanidade talvez ainda não se dá conta é do aquecimento global e suas consequências, que aos pouquinhos sentimos sem muitas vezes entendermos o porquê.

Ouvimos falar disso, daquilo, esperamos que os responsáveis pelas nações tomem alguma medida emergencial, porque afinal esses problemas só serão resolvidos com mudanças em larga escala. E cada um pensa: “já tenho problemas demais…”. Pois é!!! Protocolos, projetos, pesquisas… Que resolvam eles, os responsáveis.

E nós!? O que fazemos?

A verdade é que ficamos parados colocando a culpa nos outros e somos sempre os inocentes. E a nossa responsabilidade, nosso respeito pelo planeta que nos abriga com tanto amor; que foi tão bem preparado para nos receber com a finalidade de nos educarmos, crescermos e aprendermos a vivenciar as Leis Divinas que regem tudo e a todos? Onde está nossa responsabilidade?

O nosso primeiro meio ambiente na verdade é o ventre de nossas mães, que nos recebe e nos abriga, nos alimenta, nos aquece, nos protege para nos oferecer a vida, um lar, uma sociedade, um mundo… Parece filosofia? E o que ocorre ultimamente no nosso planeta às vezes parece filme de ficção.

Muito destas mudanças que ocorrem, talvez intuídos pela sabedoria divina, escritores colocaram no papel, nas telas de cinema… É só analisarmos!

Lendo outro dia uma matéria extraída da revista biográfica “Crônicas de los Tiempos”, fiquei assustada, emocionada, me levando a escrever este texto. O título da matéria é: “Carta escrita em 2070”.

“Estamos no ano de 2070, acabo de completar meus 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo.

Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha cinco anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro por cerca de uma hora. Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira. Agora devemos raspar a cabeça para mantê-la limpa sem o uso da água.

Antes o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma.

Recordo que havia muitos anúncios que diziam para CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém ligava; pensávamos que a água jamais poderia terminar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados. Antes a quantidade de água indicada como ideal para beber eram oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água.

A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As infecções gastrintestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.

A indústria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são as principais fontes de emprego e pagam os empregados com água potável em vez de salário. Os assaltos por um balde de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Pelo ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos está como se tivesse com 40. Os cientistas investigam, mas não há solução possível.

Não se pode fabricar água. O oxigênio também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozoides de muitos indivíduos, como conseqüência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.

O governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137m³ por dia, por habitante adulto.

As pessoas que não podem pagar são retiradas das “zonas ventiladas”, que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar, não são de boa qualidade, mas, pode-se respirar. A idade média é de 35 anos.

Em alguns países ficam manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército. A água tornou-se um tesouro muito cobiçado mais do que o ouro ou os diamantes.

Aqui quase não há arvores porque quase nunca chove e, quando chega a registrar uma precipitação, é de chuva ácida; as estações do ano têm sido severamente transformadas pelas provas atômicas da indústria contaminante do século XX.

Advertia-se que havia de cuidar do meio ambiente, mas ninguém fez caso.Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo o bonito que eram os bosques,

lhe falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o quanto nós éramos saudáveis.

Ela me pergunta: – Papai! Porque a água acabou?

Então, sinto um nó na garganta; não posso deixar de sentir-me culpado porque pertenço à geração que terminou por destruir o meio ambiente ou, simplesmente, não prestou atenção em tantos avisos. Agora os nossos filhos pagam um preço alto e, sinceramente, creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível. Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta TERRA !”

 Futurista? Ficção? OU a realidade que nos espera?

Sílvia é professora de Química da rede pública estadual e é evangelizadora de Pré-Mocidade.

Fala MEU! Edição 36, ano 2006

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