Henry Thomas, notável escritor dos Estados Unidos, com a colaboração da Sra. Dana Lee Thomas, teve ensejo, em um de seus livros, de dizer que “os grandes poetas procuram eliminar as injustiças do mundo e perpetuar as suas belezas – e mais ainda – que é por eles que os homens se elevam por meio das trevas até Deus”.
Estará neste caso Alfredo de Musset, grande poeta francês do século XIX, que desencarnou em 1857, aos 47 anos de idade?
É razoável esta nossa indagação, quando sabemos que ele foi o poeta do cepticismo, tido na França como o maior poeta do amor, o mais espontâneo, o mais sincero e o mais enternecedor!
Há uma fase na vida desse vate em que seu coração sangrou por muito tempo, e isto em 1834, quando do rompimento de suas relações com George Sand, ocasião em que ambos excursionavam pela Itália.
George Sand, como é de todos conhecido, era o pseudônimo usado por Aurora Dupin, notável romancista francesa.
Em virtude dessa ferida aberta no coração do poeta, consta de uma de suas poesias estes dois versos muito significativos: “o homem é um aprendiz, a dor a sua mestra, E ninguém se conhece enquanto não sofrer”.
A nossa sensibilidade subjetiva melhor se manifesta quando o guante de uma paixão amargura nossa alma.
Foi o que aconteceu com Alfredo de Musset, pois que nos anos de 1835 e 1836 deu ele à luz da publicidade sete obras-primas admiráveis, que são queixumes de sofrimento, de dúvida, ou, quiçá, de consolação.
Alfredo de Musset, como todo poeta de raça, era médium, tinha visões, via aparições e ouvia vozes.
Consta dos “Anais Políticos e Literários”, publicação francesa, o seguinte: Uma noite, sob as janelas do Louvre, escutou ele estas palavras: “Assassinaram-me, na rua Chanabais.” O poeta para lá correu e deparou-se-lhe um cadáver.
Musset era realmente incompreensível, e isto por efeito de sua mediunidade não controlada. “Ora era sublime e puro como os anjos, ora pervertido como um demônio”, assim escreveu Léon Denis a seu respeito.
Duas testemunhas de sua vida íntima podem atestar as variações de seus sentimentos, e são George Sand e a Sra. Colet. Diz a primeira, em seu livro “Elle et Lui” Musset afirmava: “Sim, experimento o fenômeno que os taumaturgos denominam possessão. Dois Espíritos se têm apoderado de mim.” E a segunda testemunha, em seu livro “LuÍ”, transcreveu as seguintes palavras do poeta: “Há muitos anos que tenho visões e ouço vozes.
Como poderia eu pôr isto em dúvida, quando todos os sentidos lhe afirmam?
“Parece-me que, nos momentos em que a comunhão com os Espíritos se opera, o meu se desprende do corpo, para responder à voz dos Espíritos que me falam.”
Ambas as testemunhas afirmam que Alfredo de Musset caía em transe com a maior facilidade.
Em confirmação do que dissemos, aqui temos, em tradução, duas estrofes extraídas de poesias suas:
Passar como um rebanho, de olhos postos na terra E negar tudo o mais; é ser feliz?
Não; é deixar de ser homem …
Apesar de tudo, atormenta-me o Infinito Em que não posso pensar sem me perturbar e esperar.
Fonte: Soares, Sylvio Brito. Grandes Vultos da Humanidade.