Autora: Isabel d’Andrade Marques
Conta uma lenda judaica* que em certa aldeia era habitual as mulheres encontrarem-se na praça, à volta do poço que servia toda a comunidade.
Era o momento em que faziam uma pausa nos seus muitos afazeres e que aproveitavam para trocar ideias e conversar sobre as novidades que, ao fim e ao cabo, na localidade, não eram muitas.
Naquela manhã, encontraram-se três mulheres no poço. E enquanto tiravam a água e enchiam os cântaros, puseram-se a conversar.
A primeira, disse:
– O meu filho é muito forte, corre e pula. É com alegria que o vejo a fazer corridas com os outros rapazes e a vencê-los todos.
Logo a seguir, afirmou a segunda:
– O meu, canta como os passarinhos. Acorda de manhã e começa logo a cantar. Conhece lindas canções e enche de harmonia os meus ouvidos.
E como a terceira mulher permanecesse em silêncio enquanto deitava a água do balde no seu cântaro, um homem que as observava, perguntou-lhe:
– E a senhora, não tem filhos?
A jovem olhou para ele e respondeu, com delicadeza:
– Tenho um rapaz. Mas é um rapazinho normal, como todas as outras crianças…
Com os cântaros cheios, as três mulheres foram andando, de volta aos seus lares. No meio do caminho, pararam para descansar e o homem sentou-se ao lado delas.
Passados uns minutos, as três viram os filhos virem ter com elas.
O primeiro, vinha a correr e a saltar sobre pequenos obstáculos pelo caminho. Notava-se-lhe a vivacidade e a agilidade.
O segundo, vinha a cantar uma linda canção e a sua voz soava de um modo encantador.
O terceiro vinha simplesmente a andar mas, ao ver a mãe, foi logo ter com ela e braçou-a com um carinho todo especial, como se lhe desejasse transmitir novas e renovadoras energias.
Depois, inclinou-se, pegou no cântaro cheio de água e foi andando a caminho de casa.
Nessa altura, as três mulheres voltaram-se para o homem que continuava sentado à beira do caminho e perguntaram-lhe:
– Então, o que é que o senhor achou dos nossos filhos?
O homem levantou-se, mostrando que prosseguiria o seu caminho e respondeu sabiamente:
– Realmente, acabei de ver três rapazinhos. Mas só vi um filho…
Esta lenda encantadora faz-nos refletir sobre o que é ser-se filho e o valor que damos aos nossos pais. Não é por acaso que o Evangelho dedica um capítulo à importância de honrar os nossos pais e à gratidão que devemos ter por esses dois seres que aceitaram ser a nossa porta de entrada numa nova reencarnação nesta escola maravilhosa que se chama Terra. Aqui, mais uma vez, vimos aprender, acertar passados menos felizes, crescer um pouco mais através das provas pelas quais passamos, a fim de que a evolução se possa concretizar. Sem eles, nada disto seria possível.
É certo que os pais que nos abriram as portas do coração não são perfeitos, mas nós, seus filhos, somos (im)perfeitos?
Assim, vamos tratá-los com carinho, com desvelo, com reconhecimento e, principalmente, com muito amor, para que possamos retribuir-lhes um pouco, do muito que nos ofereceram…
Lembremo-nos também de que é através do exemplo, da maneira como veem que nós tratamos os nossos progenitores, que vamos ensinar os nossos próprios filhos, aqueles a quem Deus permitiu que voltassem à Terra pela porta do nosso coração.
Vale a pena pensar nisto!
Referências
* Lenda extraída do site “Momento Espírita”
Revista Verdade e Luz, Portugal – O jovem na Casa Espírita