Autor: Augusto dos Anjos (espírito)
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Oh! que desdita estranha a de nascermos
Nas sombras melancólicas dos ermos,
Nos recantos dos mundos inferiores,
Onde a luz é penumbra tênue e vaga,
Que, sem vigor, fraquíssima, se apaga
Ao furacão indômito das dores.
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Voracidade onde a alma se mergulha,
Apoucado Narciso que se orgulha
Na profundeza ignota dos abismos
Da carne, que, estrambótica, apodrece;
Que atrofiada, hipertrófica, parece
Cataclismo dos grandes cataclismos.
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Prendermo-nos ao fogo dos instintos,
Serpentes entre escrófulas e helmintos,
Multiplicando as lágrimas e os trismos,
Tendo a alma – centelha, luz e chama –
Amalgamada em pântanos de lama,
Em sexualidades e histerismos.
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Misturarmos clarões de sentimentos
Entre vísceras, nervos, tegumentos,
Na agregação da carne e dos humores,
Atrocidade das atrocidades;
Enegrecermos luminosidades
Na macabra esterqueira dos tumores.
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E nisto achar fantásticos prazeres,
Ilusão hiperbólica dos seres
Bestializados, materializados;
Espíritos em ânsias retroativas,
No transcorrer das vidas sucessivas,
Nas ferezas do instinto, atassalhados.
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Mas a análise crua do que eu via,
Hedionda lição de anatomia,
É mais que uma atrevida aberração:
Que se quebre o escalpelo de meus versos:
Entreguemos a Deus seus universos
Que elaboram a eterna evolução.
Nota
A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo
Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo