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Análise

Autor: Augusto dos Anjos (espírito)

*

Oh! que desdita estranha a de nascermos

Nas sombras melancólicas dos ermos,

Nos recantos dos mundos inferiores,

Onde a luz é penumbra tênue e vaga,

Que, sem vigor, fraquíssima, se apaga

Ao furacão indômito das dores.

*

Voracidade onde a alma se mergulha,

Apoucado Narciso que se orgulha

Na profundeza ignota dos abismos

Da carne, que, estrambótica, apodrece;

Que atrofiada, hipertrófica, parece

Cataclismo dos grandes cataclismos.

*

Prendermo-nos ao fogo dos instintos,

Serpentes entre escrófulas e helmintos,

Multiplicando as lágrimas e os trismos,

Tendo a alma – centelha, luz e chama –

Amalgamada em pântanos de lama,

Em sexualidades e histerismos.

*

Misturarmos clarões de sentimentos

Entre vísceras, nervos, tegumentos,

Na agregação da carne e dos humores,

Atrocidade das atrocidades;

Enegrecermos luminosidades

Na macabra esterqueira dos tumores.

*

E nisto achar fantásticos prazeres,

Ilusão hiperbólica dos seres

Bestializados, materializados;

Espíritos em ânsias retroativas,

No transcorrer das vidas sucessivas,

Nas ferezas do instinto, atassalhados.

*

Mas a análise crua do que eu via,

Hedionda lição de anatomia,

É mais que uma atrevida aberração:

Que se quebre o escalpelo de meus versos:

Entreguemos a Deus seus universos

Que elaboram a eterna evolução.

Nota

A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo

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