Autor: Anselmo Ferreira Vasconcelos
No ano passado foram publicadas algumas estatísticas sobre produção de frango e carne que merecem a nossa reflexão. Afinal de contas, a proteína animal ainda tem peso considerável em nossa dieta alimentar. Assim sendo, os dados informam que o consumo médio de frango por pessoa passou de 24 kg para 42 kg ao ano. Na atualidade, o Brasil é o maior exportador e o segundo maior produtor mundial, atrás apenas dos EUA. Para os especialistas, a avicultura pretende fazer com que os bichos comam cada vez menos, e, assim, ganhem mais peso no menor tempo possível. Em contrapartida, há quem defenda que os geneticistas e os criadores deveriam se concentrar fundamentalmente no bem-estar animal, já que essa é a tendência da sociedade.
No mesmo diapasão, a FAO (organização da ONU focada na alimentação e na agricultura) estima que a produção de carne no mundo cresça 20% até 2030, e 77% do aumento na produção de carne deverá ocorrer nos países em desenvolvimento como o Brasil. Ainda segundo o órgão, cerca de 1,3 bilhão de pessoas trabalham nas cadeias de produtos pecuários, um setor que representa 40% da produção agrícola nos países ricos e 20% nos pobres. Outro dado preocupante: aproximadamente 500 milhões de pobres dependem dos animais para sobreviver.
Entretanto, um delicado problema de sustentabilidade advém do uso de água que a pecuária demanda, dado que esta absorve 30% dos recursos hídricos destinados à agricultura, que, por sua vez, absorve 70% de toda a água doce disponível. Para completar o quadro tem a questão das emissões diretas de gases do efeito estufa, que representam 8% do total, mas alcançando o alarmante patamar de 14,5% se acrescentarmos as emissões indiretas como as derivadas do transporte, do processamento e do uso de energia.
Portanto, ainda estamos longe de nos suprir apenas de energia ou fluido universal para a nossa sobrevivência. Precisamos do sacrifício sistemático dos animais para nos alimentar, mas geralmente não nos damos conta de que esses seres também estão em processo evolutivo. Em poucas palavras, do átomo ao arcanjo há muita distância a percorrer. Como bem destacou o livre-pensador espírita Léon Denis, no livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, “Na planta a inteligência dormita; no animal sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente…”.
No trabalho Depois da Morte, Léon Denis sustentou que “Uma cadeia ascendente e contínua liga todas as criações, o mineral ao vegetal, o vegetal ao animal, e este ao ente humano”. Por sua vez, o Espírito Emmanuel, na obra que lhe encerra o nome (psicografia de Francisco Cândido Xavier), esclarece que “Da noite dos grandes princípios, ainda insondável para nós, emergimos para o concerto da vida. A origem constitui, para o nosso relativo entendimento, um profundo mistério, cuja solução ainda não nos foi possível atingir, mas sabemos que todos os seres inferiores e superiores participam do patrimônio da luz universal”.
Desse modo, assim como nós, também os animais desfrutam do banquete de luz. Obedecendo a processos muito específicos e justos, eles labutam, assim como nós o fizemos outrora, para atingir o reino hominal a fim de poder expressar toda a sua inteligência e sensibilidade emocional. Por isso, pondera igualmente Emmanuel:
“O homem está para o animal, simplesmente como um superior hierárquico. Nos irracionais desenvolvem-se igualmente as faculdades intelectuais. O sentimento de curiosidade é, na maioria deles, altamente avançado e muitas espécies nos demonstram as suas elevadas qualidades, exemplificando o amor conjugal, o sentimento da paternidade, o amparo ao próximo, as faculdades de imitação, o gosto da beleza. Para verificar a existência desses fenômenos, basta que se possua um sentimento acurado de observação e de análise”.
Avançando mais na análise que nos interesse por ora, o Espírito Emmanuel elucida, na questão nº 129 da obra O Consolador (psicografia de Francisco Cândido Xavier), que: “A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.
“Temos de considerar, porém, a máquina econômica do interesse e da harmonia coletiva, na qual tantos operários fabricam o seu pão cotidiano. Suas peças não podem ser destruídas de um dia para o outro, sem perigos graves. Consolemo-nos com a visão do porvir, sendo justo trabalharmos, dedicadamente, pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres poderão dispensar da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos inferiores”.
Emmanuel previu acontecimentos que começam agora a se materializar. De fato, a moderna biotecnologia tem avançado nessa área em busca de novas soluções. Por exemplo, o pesquisador do MIT, Caleb Harper, declarou que no meio científico já existe a convicção de que no futuro as pessoas deverão substituir a proteína animal pela vegetal. Hoje já existe a técnica da agricultura celular, que consiste na extração e alimentação de células de uma vaca para que se transformem em carne.
Supõe-se que perceberemos a necessidade de rever os nossos hábitos alimentares à medida que escalarmos as entrâncias do conhecimento e da sabedoria celestial. Tal atitude, a propósito, é absolutamente compatível com as pessoas espiritualizadas. Diante disso, pode-se antever que a indústria do morticínio de animais tornar-se-á algo abominável. Todavia, os desafios ambientais e laborais, já destacados, necessitarão de equacionamento apropriado.
O consolador – Artigos
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