Autor: Rogério Miguez
O posicionamento da Terra na estrutura do Sistema Solar determina a existência de períodos cíclicos de 365 dias que são designados por nós, os habitantes deste planeta, de anos, ou por palavras equivalentes em outros idiomas. Estes períodos ajudam-nos a organizar a passagem do tempo ao longo de nossas muitas existências.
Ao nos aproximarmos do término de mais um ano e, em consequência, início de outro, sempre há muita expectativa de que o novo ano será melhor do que aquele que o antecedeu. Tudo indica que a novidade de mais uma longa etapa de 365 dias deverá trazer novas alegrias e oportunidades, melhores do que aquelas que se foram.
É fato, a vida sempre se renova e convida aqueles que ainda lhe estão submetidos a se superarem, através da construção de uma existência mais produtiva, promovendo a própria evolução, buscando dias melhores, tranquilos e felizes.
Entretanto, para concretizar esta renovação tão desejada e, diga-se, invariavelmente possível, se faz necessário o desejo real em aperfeiçoar-se, uma verdadeira disposição íntima para mudar.
No entanto, sabemos que toda mudança carrega em si mesma certo desconforto pessoal e, por conta deste conhecido incômodo, certamente já experimentado outras vezes em situações diversas, muitos preferem não abandonar a posição de conforto, adiando provisoriamente seu processo evolutivo – afinal somos livres e senhores de nossos destinos -, ditando o ritmo do próprio progresso.
Embora, para muitos, não seja gratificante mudar, para Espíritos ainda vinculados às lições que a Terra proporciona, esta renovação é absolutamente necessária, pois por aqui, em sua esmagadora maioria – por enquanto – só aportam Espíritos compromissados negativamente com as leis divinas e, se não se dispõem a reformar-se, não deixarão a condição de devedores e não vencerão as muitas provas previstas dentro do processo evolutivo previsto para qualquer Espírito, seja da Terra, seja de outros mundos.
Toda transição de ano é momento oportuno para realizarmos uma avaliação das nossas conquistas, e também das derrotas, obtidas e sofridas, respectivamente, no ano que se encaminha para o término.
Há uma conduta que pode ser muito útil para todos nestes momentos de transição, podendo ajudar-nos sobremaneira: preparar uma lista de objetivos ou, quem sabe, desejos para o iniciante ano.
Para bem rechear esta relação de metas, sugere-se que cada qual faça uma sincera análise pessoal, identificando suas condutas positivas, construtivas e edificantes; em contraposição às negativas, egoístas ou prejudiciais, para si mesmo e para o próximo.
Uma vez identificados os campos de trabalho ou de atuação que precisamos renovar ou transformar, anotemos cuidadosamente em nosso inventário e, no desenrolar do próximo ano, devemos fazer atenção redobrada aos itens que assinalamos como danosos ou lesivos; por outro lado, as ações reconhecidas como nobres e salutares devem ser fortalecidas o quanto pudermos.
Alguns, versados na lei das muitas vidas, equivocadamente argumentam que como teremos muitas oportunidades pela frente, não irão esforçar-se com muito empenho pela busca de sua melhora íntima, sob o entendimento de que Deus, sendo Pai amoroso, trará outras oportunidades de aprendizado, tantas quantas forem necessárias.
É fato, teremos muitas chances de evoluir, contudo, quando não aproveitamos a dádiva oferecida no momento exato e no modo em que se apresenta, no futuro outra oferta divina acontecerá, mas modificada, pois ela não pode acontecer nas mesmas condições anteriores e seguramente não será a mesma. Se assim sucedesse, não nos educaríamos, uma vez que cruzaríamos os braços à espera de nova possibilidade de progresso idêntica àquela desperdiçada.
Mas… vamos retornar à nossa lista.
Um setor que pode alimentar em muitos itens a relação de melhoramentos possíveis é o do aspecto das leis morais. Como ainda estamos bem distantes da condição de pureza espiritual, as muitas virtudes existentes não são características presentes em nossas personalidades.
Assim, em tempos de corriqueira intolerância, como ocorre atualmente, caso também nos observemos intolerantes, empenhemo-nos em adquirir as virtudes da paciência, da compreensão, do apaziguamento e, quem sabe, nos tornaremos mais tolerantes.
Pelo outro lado da moeda, ou seja, na aquisição de conhecimentos, particularmente no campo doutrinário, existe uma proposta desafiadora: ler as obras fundamentais da Doutrina espírita em um ano. Como!? Lendo algumas páginas das obras básicas por dia, começando por O Livro dos Espíritos.
As obras básicas de Allan Kardec contam-se em 5 volumes. Ora, cada uma possui aproximadamente 400 páginas, perfazendo algo em torno de 2000 páginas. Se dividirmos esta quantidade por 365 dias, teremos de ler em média 6 páginas por dia. Contudo, quando poderemos ler estas páginas na loucura em que hoje caminha a sociedade? Por exemplo, na hora da consulta médica, enquanto aguardamos ser chamados, em vez de sintonizarmos com programas de televisão absolutamente desnecessários que são exibidos nas salas de espera; nos deslocamentos quando tomamos o metrô; nas horas em que estamos hipnotizados pelas notícias, em sua maioria totalmente irrelevantes e negativas, nas chamadas redes sociais; utilizando um pouco do tempo que dedicamos à assistir programas inúteis nas redes de televisão em nossas casas; ou seja, oportunidades não faltam, o que falta é disposição, empenho, vontade e um pouco de organização.
Sejam itens compondo o campo das virtudes, sejam na área intelectual, é preciso exercitar continuamente as atitudes positivas compondo a nossa lista e tentar evitar aquelas prejudiciais, de modo que as primeiras se incorporem em definitivo à nossa personalidade e caráter, enquanto as últimas vão perdendo força em nossa existência.
É oportuno lembrar que como não estamos acostumados a seguir fielmente as leis divinas, algumas propostas elencadas em nossa lista não serão atendidas e nos surpreenderemos descumprindo mais uma vez os projetos de melhoria incluídos em nossa lista de novo ano. Nesta hora, não há outra atitude a tomar a não ser reconhecer mais uma vez o equívoco e seguir em frente, jamais estacionar na estrada da vida lamentando-se, julgando-se o último dos últimos, incapaz de cumprir as próprias decisões.
Como esta prática nos desafiará de modo intenso interiormente, e o homem velho ainda é poderoso em seus princípios de vida, peçamos ajuda, roguemos apoio, solicitemos sustento aos nossos, por hora, vacilantes esforços visando à nossa melhoria.
Mas, à quem devo clamar? A Deus em primeiro lugar, a Jesus, nosso amigo incondicional, e a nosso guia espiritual, este último trabalhador incansável que se encontra ao nosso lado, desde o momento em que nos ligamos à célula-ovo, no momento da concepção e, em muitos casos, mesmo antes de encarnarmos.
Sim, o ano vai começar, façamos deste Novo Ano um marco em nossa jornada evolutiva, avancemos destemidos, convictos, com entusiasmo rumo aos braços de Deus nosso Amoroso Pai.