Autor: Rogério Coelho
O homem que se conhece possui um tesouro no coração.
Vigia o teu roteiro e a tua norma,
J. Coutinho
E foge ao desvario dos extremos…
Toda a nossa existência se transforma
Naquilo que buscamos e queremos
O autoconhecimento é a chave da humana felicidade e da alforria espiritual. Entendia assim a ancestral cultura grega ao inscrever no Tempo de Delfos a célebre frase tão enfatizada por Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”.
Já dominamos tecnologia espacial para viajar pelas estrelas a fim de conhecer outros planetas, mas – paradoxalmente – ainda não conseguimos viajar para o próprio interior em busca do Reino de Deus, que Jesus disse estar dentro de nós.
Aviões encurtam distâncias; perscrutamos as profundezas abissais dos oceanos; galgamos os acumes mais altos das montanhas; a informática mesclada com a Internet nos permite navegar em direções ilimitadas e sempre crescentes; o rádio e a televisão colocam o mundo dentro de nossa casa, mas sem embargo, ainda somos incapazes de atravessar a rua para saudar o vizinho e perguntar-lhe se precisa de algo…
Corremos aflitivamente atrás de nonadas, à semelhança de Marta, irmã de Lázaro, admoestada por Jesus, e nos perdemos nos dédalos da ansiedade e do vazio existencial, e vezes sem conto, isso tem motivado a busca enganosa da falsa porta do suicídio como solução infeliz de uma existência de desencantos, de sobressaltos e desprovida de encantadoras e benfazejas perspectivas…
Para, enfim, encontrarmos o “fio de Ariadne” que nos guiará com segurança para fora do intricado labirinto de nosso “DASEIN” [1], faz-se mister conscientizarmo-nos de nós mesmos e concomitantemente aplicarmos, em nosso benefício, a terapia do autoconhecimento.
Vejamos como Joanna de Ângelis nos ensina a lograr tal desiderato, através da abendiçoada mediunidade de Divaldo Franco[2]: “(…) O homem vem a pouco e pouco, perdendo o significado da vida e o senso da sua dignidade.
Permitindo-se desumanizar, a fim de sobreviver na multidão amorfa e violenta, sente necessidade de manter a individualidade, não obstante procure os grupos para o trabalho, a recreação, a autoafirmação…
Esta é uma hora de transição: Encerra-se um ciclo e outro se abre. Inevitavelmente, a decadência de alguns valores arrasta Instituições e indivíduos na direção do caos. O significado, a sentido da vida se apresenta como a busca desenfreada de recursos para a segurança e o prazer pessoal. Como consequência, o senso de dignidade se confunde, ameaçando o débil equilíbrio do indivíduo. Estabelece-se, então, o aturdimento, a desconfiança, a inquietação… O triunfo parece coroar as pessoas corrompidas e exaltar as que se enamoram das paixões voluptuosas do prazer, enquanto os homens justos e cumpridores dos deveres experimentam carências, aflições, problemas… Diante desse quadro, muita gente se sente vencida, impotente, sem forças para enfrentar a grave situação, deixando-se combalir ou reagindo pela violência, malogrando em ambas atitudes.
A paisagem moral revela-se como uma perda de fé na dignidade humana, ajuizando-se que os valores éticos não constituem base para o êxito nem a consideração do organismo social. As massas, sem líderes, desorganizadas, rumam sem destino, enfrentando o totalitarismo, e, desumanizadas, reclamam pela humanização dos seus membros. Os indivíduos tornam-se estranhos a si próprios, desinteressados, sem identidade…
Revertendo a situação adversa
Integra-te no programa de ascensão das almas. Participa das atividades gerais, vinculando-te ao grupo social ao qual te encontras, e contribua para o seu desenvolvimento. Cultiva o senso de humor e do riso, desmanchando a carranca da insatisfação e da cólera. Preserva-te como indivíduo, não te deixando devorar pelos apressados. Mediante uma considerável apreciação de ti mesmo, dar-te-ás conta que és um indivíduo atuante, em uma realidade objetiva, com metas definidas, bem elaboradas. Assim te libertarás de dois adversários: a ansiedade e o vazio.
As pessoas atropelam-se, vitimadas pela ansiedade, buscando o que jamais lograrão mediante esse processo. Gargalham fazendo bulha, porque perderam a faculdade de rir. Parecem vencidas por um gás hilariante, ocultando o estado ansioso. Ao mesmo tempo a sensação de vazio as atormenta, em razão de os objetivos cultivados haverem perdido o sentido.
A redescoberta do sentido da vida e da reumanização, é um avanço histórico na busca da maturidade psicológica, da tomada de consciência de si mesmo.
Jesus, consciente da missão que aqui veio desempenhar, conclamou as massas à responsabilidade, aos elevados significados da vida, ao mesmo tempo que buscou a identidade de cada discípulo, trabalhando pela sua humanização e insistindo na valorização dos conceitos éticos da existência, a fim de levá-lo a uma perfeita integração no programa de libertação de si próprio, primeiro, e da sociedade depois.
O Seu triunfo não foram o aplauso, a aceitação, a glória da mensagem, mas a cruz e o escárnio, ensinando que a consciência de si mesmo somente é conseguida quando o homem se imola nos madeiros das paixões, vencendo-as de pé com os braços abertos em atitude de fraternidade amorosa.
Silencia, portanto, as ansiedades do sentimento e acalma os tormentos, reflexionando em torno das tuas reais necessidades. Aprofunda a autoanálise e tem a coragem de te desnudares perante a própria consciência. Enumera as tuas mais graves emoções perturbadoras e raciocina sobre a sua vigência no teu comportamento. Enfrenta-as, uma a uma, não as justificando, nem as escamoteando sob o desculpismo habitual. Resolve-te por sanar a situação aflitiva dos teus dias, optando pela aquisição da saúde.
Consciente de que és o que fizeste de ti, poderás ser o que venhas a fazer de ti próprio. Portanto, não postergues a decisão do autoencontro pois enquanto a anestesia da mentira te obnubile o raciocínio, transitarás de um para outro problema, sem que consigas a paz real; reunirás valores de fora, que perdem o significado, logo são conseguidos, andando pelo bem-estar fugidio, que se te anuncia e logo desaparece.
O homem que se conhece possui um tesouro no coração. O discernimento que o caracteriza é a sua luz acesa no imo, apontando-lhe rumo. Conhecendo a fragilidade da veste carnal, valoriza cada hora e aplica-a bem, vivendo-a intensamente, em cujo comportamento recolherás os melhores frutos.
Cada vez que te resolvas por te autodescobrires, conduze uma proposta de libertação.
Começa pelos vícios sociais da mentira, da maledicência, da calúnia, do pessimismo, da suspeita, passando aos dramas do comportamento, na inveja, no ciúme, no ressentimento, no rancor, no ódio… Posteriormente, elabora as medidas educativas às dependências aos alcoólicos, ao tabagismo, às drogas alucinógenas, à luxúria, aos distúrbios de conduta e às investidas das alucinações psicológicas… Cada passo ser-te-á uma conquista nova. Toda vitória, por pequena que se te apresente, significará um avanço pois como os condicionamentos são a segunda natureza em a natureza humana, gerarás hábitos salutares, que te plenificarão em forma de equilíbrio e paz.
Toda terapia eficiente impõe disciplinas saudáveis, às vezes ásperas, cujos resultados chegam, à medida que são utilizadas. Na do autodescobrimento, a coragem e o interesse pela própria realização facultarão as forças para que não desistas no tentame, nem te entregues à acomodação mental que te informa ser impossível executá-la. Começa-a hoje e agora, aguardando que o tempo realize, na cura, o ciclo que investiste para que se te instalassem os distúrbios”.
Referências
[1] – Substantivo masc.– (Filos.) Segundo Martin Heidegger, filósofo existencialista alemão (1889/1976) o modo de ser exclusivo do homem que é o ente portador de um relacionamento fundamental do ser, qual seja o de encontrar-se na zona de abertura do ser, na qual os entes podem manifestar-se como entes; existência.
[2] – FRANCO, Divaldo. Momentos de Iluminação. Salvador:LEAL, 1990, capítulos 6 e 8.
O consolador – Ano 18 – N 869 – Artigos