Autor: Gebaldo José de Sousa
– Que pensa Emmanuel do espírita diante do sincretismo religioso?
– Nosso amigo espiritual nos aconselha a respeitar crenças, preconceitos, pontos de vista e normas de quaisquer criaturas que não pensem como nós, mas adverte-nos que temos deveres intransferíveis para com a Doutrina Espírita e que precisamos guardar-lhe a limpidez e a simplicidade com dedicação sem intransigência e zelo sem fanatismo (…)
– Cabe-nos, assim, defender a obra de Allan Kardec, em qualquer tempo?
– Sim. Os Espíritos Amigos nos dizem que nos compete a obrigação de defender os ensinamentos de Allan Kardec, sobretudo, na vivência dessas benditas lições, através de nossas próprias vidas. Compreendendo assim, reconheceremos que é necessário sermos fiéis a Kardec em todas as nossas atividades (…)” (1)
*
Há três anos a Casa de Eurípedes – Hospital Espírita Eurípedes Barsanulfo, Goiânia (GO) – promoveu a realização de Seminário sobre apometria. E permitiu que um grupo estudasse e aplicasse a técnica, em caráter experimental. Sendo a Casa de Eurípedes instituição técnico-científica, como deve ser qualquer hospital psiquiátrico moderno, com filosofia e práticas espíritas, existe espaço para a discussão e experimentação de novas técnicas, sem preconceito e espírito de segregação, mas sempre com supervisão e acompanhamento técnico.
Como veremos, essa postura não se aplica a experimentações de natureza mediúnica. (*)
Nesse sentido, a técnica apométrica foi aplicada, principalmente em pacientes internos, associando de alguma forma o Departamento Doutrinário e Mediúnico dessa Instituição à apometria. Decorridos três anos e não tendo sido, ainda, realizada qualquer avaliação mais ampla sobre esse trabalho, o assunto foi levantado, buscando respostas para as questões:
a) “A teoria e a prática da técnica conhecida como apometria (e suas leis) estão em pleno acordo com os princípios doutrinários codificados por Allan Kardec, nas obras básicas do Espiritismo, ou seja, a apometria pode ser considerada uma técnica espírita?”
b) “Caso a apometria não seja uma técnica espírita (como várias técnicas terapêuticas anímicas e/ou mediúnicas não o são), é aconselhável incluí-la dentro do corpo do Departamento Doutrinário e Mediúnico da Casa?”
c) “Sendo ou não uma técnica espírita, a aplicação da técnica tem resultado em benefícios terapêuticos reais para os pacientes em tratamento nesta instituição hospitalar?”
Neste artigo, resumimos parecer da Comissão formada com o objetivo de oferecer respostas às questões acima, levando-se em conta que a Instituição tem se prezado pela fidelidade aos fundamentos da Doutrina Espírita.
Não se trata de julgar a técnica dita apométrica, de saber se ela funciona ou não. Nem de julgar pessoas ou grupos que a praticam.
Exame do assunto, à luz da doutrina espírita
1.1) Por que Allan Kardec atribuiu a ela o nome de Doutrina Espírita?
A Doutrina é dos Espíritos. E isso porque foi revelada por eles, a muitos médiuns, em inúmeros lugares, simultaneamente:
“(…) a Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas próprias inteligências que se manifestam, quando ninguém disso cogitava, quando até a opinião geral a repelia. (…) Perguntamos ainda mais: por que estranha coincidência milhares de médiuns espalhados por todos os pontos do globo terráqueo, e que jamais se viram, acordaram em dizer a mesma coisa?” (2)
Allan Kardec não aceitava tudo que vinha dos Espíritos – nem recomenda que o façamos -, submetendo seus ensinos ao crivo da razão, aplicando o preceito de Jesus:
“Meus bem-amados, não creiais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” (3) (I Jo, 4:1)
Kardec utilizou na Codificação do Espiritismo o “Controle universal do ensino dos Espíritos”, conforme se lê em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” item “II – Autoridade da doutrina espírita”.
Afirmou ser progressiva a Terceira Revelação, mas publicou – “Revista Espírita”, agosto/1861, mensagem “Da Influência Moral dos Médiuns nas Comunicações”, Espírito Erasto:
“Mais vale repelir dez verdades que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa.” (4)
Máxima repetida em “O Livro dos Médiuns”, Ed. FEB, cap. XX, item 230, p. 292.
Em muitas partes de sua obra, o Codificador recomenda-nos submeter a exame severo as comunicações dos Espíritos, como, por exemplo, nos itens 266 e 267, de “O Livro dos Médiuns”.
Desaconselhável, pois, a crença cega no que dizem os mentores. O ideal é estudar mais e buscar respostas nas obras confiáveis, já existentes, transmitidas por médiuns de reconhecida idoneidade.
A Doutrina Espírita não está engessada em verdades acabadas, absolutas. Não é nem se diz dona da Verdade, em parte alguma.
1.2) Por que os Espíritos não revelaram aos homens a técnica dita apométrica, quando tiveram à mão excelentes médiuns, ao longo do século XX? Se é, como afirmam os apômetras, mais eficiente que a reunião de desobsessão, por que o silêncio dos Espíritos Superiores?
Seu divulgador no Brasil, Dr. José Lacerda de Azevedo adotou-a, após demonstração, em Porto Alegre – RS, pelo porto-riquenho Luiz Rodrigues, na década de sessenta do século passado.
A essa época ainda se encontrava entre nós, vigoroso, nosso irmão Francisco Cândido Xavier. Seria uma falha dos Espíritos Superiores, embora interessados na regeneração da humanidade? Hipótese esta absolutamente inadmissível!
1.3) Quanto à desobsessão, utilizada na prática Espírita, o Espírito André Luiz transmitiu, ao médium Francisco C. Xavier, instruções de como realizá-la, em 1964 – coincidentemente na mesma década da divulgação da apometria entre nós -, na grande obra intitulada “Desobsessão”, editada pela Federação Espírita Brasileira.
1.4) No que se refere à apometria, o silêncio dos Espíritos Superiores é sintomático. Que saibamos, não houve manifestações sobre o tema em várias partes do mundo, através de médiuns conceituados. Devemos considerar, portanto, que não houve o controle universal dos ensinos da técnica, como preconizava Kardec. Também não se confirmou o que preceitua o seguinte pensamento:
“Estai certos, igualmente, de que quando uma verdade tem de ser revelada aos homens, é, por assim dizer, comunicada instantaneamente a todos os grupos sérios, que dispõem de médiuns também sérios, e não a tais ou quais, com exclusão dos outros.” ESE, Cap. XXI, item 10, 6º §. (5)
Por outro lado, a Ciência ainda não comprovou a eficácia da técnica apométrica. E se é por ela admitida, também desconhecemos.
Por estes fatos, não pode ser admitida como vinculada à Doutrina dos Espíritos, pois não atende a nenhum dos dois critérios definidos por Kardec:
“Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica.” (6)
Assim, não deve ser adotada em Instituições verdadeiramente Espíritas.
Inconsistências e manifestações de respeitável Espírito e de Médiuns
“É necessário preservar o Espiritismo conforme o herdamos do eminente Codificador, mantendo-lhe a claridade dos postulados, a limpidez dos seus conteúdos, não permitindo que se lhe instale adenda perniciosa, que somente irá confundir os incautos e os menos conhecedores das suas diretrizes.” (Bezerra de Menezes/Divaldo P. Franco – Reformador/Dezembro 2003, p. 446.)
Os apômetras adotam terminologias diversas daquelas utilizadas pela Doutrina Espírita e conceitos de crenças orientais. Além disso, certas afirmações deles colidem com a razão:
a) O perdão quase instantâneo, por parte de adversários seculares, após serem submetidos à técnica;
b) A incorporação de ‘vários corpos’ de uma só personalidade, encarnada, ou não, em vários médiuns, com doutrinação simultânea, nas ‘manifestações desses corpos’!
Para justificar o primeiro item, afirmam que, pela técnica do desdobramento e o uso de pulsos de energia, a entidade espiritual sofredora e vingativa é transportada no tempo, ao passado e ao futuro, perdoando em poucos segundos, esquecendo o ódio de séculos ou milênios, contrariando a própria natureza humana e a necessidade de reforma íntima! E preconiza esse resultado em todos os casos!
Em contraposição a esses conceitos, consultemos algumas obras de fontes seguras.
Ao final dos livros “Instruções Psicofônicas” e “Vozes do Grande Além”, de mensagens recebidas por Francisco Cândido Xavier, em trabalhos de desobsessão, nos anos de 1952 a 1956, em Pedro Leopoldo, há boletins anuais, com estatísticas dos atendimentos, aos quais remetemos o leitor, onde se vê que é muito pequeno o percentual de recuperação plena.
E lembrem-se de que estes trabalhos mediúnicos contavam com a presença do maior médium da história da Humanidade – Francisco Cândido Xavier!
Manoel P. de Miranda/Divaldo, em “Loucura e Obsessão”, afirma à página 14:
“A cura das obsessões, conforme ocorre no caso da loucura, é de difícil curso e nem sempre rápida, estando a depender de múltiplos fatores, especialmente, da renovação, para melhor, do paciente (…)”.
Allan Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. 28, item 84, diz:
“Observação. A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamento.”
Albino Teixeira/Francisco Cândido Xavier, em “Paz e Renovação”, afirma e em seguida indaga, no capítulo 48 (Obsessão e Cura), à p. 135:
“Em qualquer progresso ou desenvolvimento de aquisições do mundo, nada se obtém sem paciência, amor, educação e serviço; como quereis, meus irmãos da Terra, que a obsessão – que é frequentemente desequilíbrio cronificado da alma, – venha a desaparecer sem paciência, amor, educação e serviço, de um dia para o outro?”
Bastam estas citações, eminentemente doutrinárias, para saber que a cura das obsessões não se faz com um toque de mágica, de uma hora para outra. É também o que nos revela a experiência.
Nossa razão não aceita tanta facilidade – uma vez que não admite seja possível transformação tão rápida em Espíritos que cultivam o ódio tão intensamente.
Quanto ao item b, pelo inusitado da proposta e para não nos alongarmos ainda mais, deixamos que cada um avalie por si mesmo!
Francisco Cândido Xavier relata orientações recebidas de Emmanuel, seu mentor:
“Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e disse mais que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.” (Chico Xavier: Mediunidade e Coração, de Carlos A. Baccelli, Editora IDEAL, 1985, p. 12/3: Emmanuel e Duas Orientações para o Resto da Vida).
Divaldo Pereira Franco, durante uma larga entrevista, no programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova, de Guarulhos (SP), em agosto/2001, a partir de uma pergunta a ele dirigida, afirma:
“Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria porque eu não sou apômetra, eu sou espírita. O que posso dizer é que a apometria, segundo os apômetras, não é Espiritismo, porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de O Livro dos Médiuns.
“Não examinaremos aqui o mérito ou demérito porque eu não pratico a apometria, mas, segundo os livros que têm sido publicados, a apometria, segundo a presunção de alguns, é um passo avançado do Movimento Espírita no qual Allan Kardec estaria ultrapassado.
“Allan Kardec foi a proposta para o século XIX e para parte do século XX e a apometria é o degrau mais evoluído, no qual Allan Kardec encontra-se totalmente ultrapassado. Tese com a qual, na condição de espírita, eu não concordo em absoluto.
“Na prática e nos métodos de libertação dos obsessores, a violência que ditos métodos apresentam, a mim pessoalmente – me parece tão chocante que faz recordar-me da lei de Talião, que Moisés suavizou com o código legal e que Jesus sublimou através do amor. (…)
“Tenho certeza de que aqueles que adotam esses métodos novos, primeiro, não conhecem as bases kardequianas, e, ao conhecerem-nas, nunca as vivenciaram para terem certeza. Então, se alguém prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture, para não confundir. (…)
“Não temos nada contra a apometria, as correntes mentomagnéticas, aquelas outras de nomes muito esdrúxulos e pseudocientíficos. Mas como espíritas, nós deveremos cuidar da proposta espírita.
“(…) Não entrarei no mérito dos métodos, que são bastante chocantes para a nossa mentalidade espírita, que não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados comportamentos, porque a única força é aquela que vem de dentro – a moral. “Para esta classe de espíritos são necessários jejum e oração” – disse Jesus. Jornal virtual “A Jornada” (www.ajornada.hpg.ig.com.br/doutrina/mat-0030a.htm)
O Dr. Ricardo Di Bernardi – que é inteiramente favorável à correta utilização do método apométrico e defende o aprofundamento do estudo – admite falhas nessa prática e fala em umbandização da Doutrina Espírita:
“Com todo respeito aos nossos primos umbandistas, que executam trabalho sério e útil, faz-se necessário definir algumas fronteiras que devem ser tão nítidas quanto fraternas. Não há por que criarmos grupos de umbanda técnico-científica nas casas espíritas. Ao invés do clássico e necessário DIÁLOGO COM AS SOMBRAS tão preconizado por Hermínio de Miranda, passamos a ouvir o contínuo estalar de dedos, seguido de verdadeiras expulsões dos Espíritos obsessores ou simplesmente sofredores.
“O diálogo construtivo e fraterno passou a ser considerado peça de museu. Ao invés de amor e filosofia, muita sonoridade e gesticulação espalhafatosa, sob o argumento de que som serve de veículo para a energia. Então, bater palmas e gritar alto seria tão útil quanto mais ruidosos forem… Naturalmente, o impacto energético seria cada vez mais produtivo quanto mais escandalosa for a sessão… É necessário que acordemos para que logo não estejamos admitindo outras atitudes materiais e periféricas totalmente incompatíveis com nossa filosofia. O trabalho espiritual é, acima de tudo, mental. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: equilíbrio… (…)
“Obsessores retirados do campo mental do obsidiado a fortiori e enviados a outros planetas ou a estranhos locais ou dimensões extrafísicas, talvez merecessem uma atenção mais adequada.
“A ausência de diálogo com espíritos enfermos, em certos casos, apenas determinará a mudança de endereço dos obsessores, bem como a admissão de novos inquilinos na casa mental desocupada do obsidiado. (…)
“Faz-se necessário recolocarmos a filosofia espírita, o amor e a seriedade nos trabalhos mediúnicos e não umbandizarmos a doutrina espírita, nem brincarmos irresponsavelmente com animadas técnicas.” (Artigo “Apometria: Nem problema, nem solução” www.ipepe.com.br/apometria.html.)
Técnicas mediúnicas que não são práticas espíritas – A mediunidade não é patrimônio exclusivo da Doutrina Espírita e muitas práticas alheias ao Espiritismo a utilizam. É dever de todo espírita estudar profundamente as obras básicas, para que possamos preservar a pureza doutrinária. O Codificador, referindo-se ao Espiritismo, indaga-nos: “Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito?”, em “O Livro dos Espíritos” (Introdução ao estudo da Doutrina Espírita, item XIII, p 39), edição FEB.
Diversos cultos religiosos desenvolvem atividades que favorecem a renovação espiritual de encarnados e desencarnados. Merecem nosso respeito, mas nem por isso vamos adotar seus rituais e práticas exteriores, por considerá-los contrários aos princípios básicos da Doutrina Espírita.
Concluímos que falta o conhecimento da Doutrina Espírita. Não basta a frequência à Casa Espírita. Indispensável estudá-la, incessante, incansavelmente. Seu aprendizado exige esforços.
Percebe-se, claramente, que a Doutrina Espírita é uma ilustre desconhecida de boa parte dos ‘espíritas’, especialmente quanto à sua parte teórica.
Reconhecemos haver pessoas sinceras, com elevados sentimentos, que enveredam por esses outros caminhos; mas sabemos que não bastam os bons sentimentos, como bem nos recomenda o Espírito da Verdade, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. VI, item 5:
“Espíritas, amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”
Portanto, urge estudar a Doutrina Espírita, para melhor aplicá-la. Indispensável estabelecer critérios mais rigorosos quanto à admissão de participantes às reuniões mediúnicas. Allan Kardec era extremamente rigoroso para admitir frequentadores às reuniões ditas experimentais.
Há dois meios fundamentais ao aprimoramento das reuniões mediúnicas: estudo e reforma íntima.
“Não imaginais o que se pode obter numa reunião séria, de onde se haja banido todo sentimento de orgulho e de personalismo e onde reine perfeito o de mútua cordialidade.” “O Livro dos Médiuns”, cap. XXV, item 282, 15ª ed. FEB.
Conclusões
Do exposto, concluíram os integrantes da Comissão de Trabalhos Mediúnicos:
1) Que o Espiritismo constitui-se numa doutrina completa, em seus aspectos moral, religioso, filosófico e científico, com suas raízes no Evangelho de Jesus Cristo, representando o Cristianismo Redivivo;
2) Que não basta afirmar-se espírita e utilizar a mediunidade para que uma prática seja considerada espírita;
3) Que as orientações dos Espíritos Superiores que acompanham o Movimento Espírita no Brasil são muito claras quanto à fidelidade aos princípios codificados por Allan Kardec;
4) Que a orientação, a experiência e a prática dos médiuns mais amadurecidos como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, entre outros, tem demonstrado sempre a necessidade de vigilância com relação à preservação da pureza dos princípios básicos da Doutrina Espírita;
5) Que esta prática da técnica apométrica realizada dentro da Casa de Eurípedes teve caráter experimental, com o objetivo de avaliar sua aplicabilidade, eficiência e adequação aos princípios espíritas que aquela Instituição tem preservado com rigor e fidelidade;
6) Que ultrapassado esse período de experimentação e avaliação, concluíram pela incompatibilidade da apometria com os princípios que a Casa adota;
7) Que o uso de energia para afastar obsessores sem a necessária transformação moral (Reforma Íntima), indispensável à libertação real dos envolvidos nos dramas obsessivos, contradiz os princípios básicos do Espiritismo, pois, o simples afastamento das entidades rancorosas não resolve a questão;
8) Que a apometria, especialmente por suas leis e rituais, não é técnica que se enquadra nos princípios doutrinários espíritas, codificados por Allan Kardec não sendo, portanto, uma prática Espírita;
9) Que a ausência, nas reuniões da apometria, de atitudes de recolhimento íntimo, de concentração superior e da manutenção do ambiente de prece e elevação mental contraria as orientações doutrinárias espíritas, tanto do ponto de vista moral como da técnica mediúnica espírita, propiciando as manifestações anímicas e a mistificação, com grande risco de se perder o controle e evoluir para processos obsessivos graves;
10) Que a utilização pela prática apométrica de contagens de pulsos, gestos especiais, entre outros atos exteriores, abre precedentes graves para implantação de rituais e maneirismos, totalmente inaceitáveis na prática espírita, que é doutrina da fé raciocinada;
11) Que o programa terapêutico do Hospital prevê a abordagem do ser humano nos seus aspectos bio-psico-sócio-espirituais, oferecendo tratamento médico, sócio-familiar, psicoterápico e espiritual de forma integrada e solidária, de acordo com a visão espírita, não existindo dados que possam garantir superioridade da técnica apométrica isoladamente sobre quaisquer outras utilizadas pelo Hospital.
Concluíram, afinal, após longos estudos e, especialmente, ouvir detalhada exposição do assunto, com uso de data-show, pela equipe que a praticava em nossa Instituição, que a apometria não se ajusta à Doutrina Espírita e, por isso, sua prática não é adequada à Casa de Eurípides. Nestes três artigos expomos aos interessados o resultado desses estudos, que justificam nossa posição contrária à utilização desse método.
Assim, o parecer daquela Comissão sugeriu que o Conselho Doutrinário e Mediúnico recomendasse, ao grupo que aplica a técnica apométrica naquele Hospital Espírita, que a suspendesse, retornando à prática das reuniões mediúnicas de desobsessão, de acordo com os princípios doutrinários espíritas.
Aventou, ainda, a possibilidade de o Conselho Doutrinário e Mediúnico adotar alternativas, para o encaminhamento da relevante questão. Mas que considerasse sobretudo a responsabilidade que lhe pesa nos ombros, conforme assinala o digno Dr. Bezerra de Menezes:
“Cumpre-vos transferir às gerações porvindouras, com a pulcritude que o recebestes, o patrimônio espírita legado pelos Benfeitores da Humanidade e codificado pelo ínclito Allan Kardec, preparando as gerações novas, que vos sucederão na jornada de construção do mundo novo.” (Bezerra de Menezes/Divaldo P. Franco: Bezerra de Menezes ontem e hoje, ed. FEB, p. 155)
A recomendação para que se preserve, naquele Hospital Espírita, a fidelidade ao Espiritismo, que é doutrina completa, cristalina, dispensando enxertias de quaisquer natureza, foi aprovada.
Lamentavelmente, não obstante reiterados apelos de vários integrantes do Conselho, o grupo não acatou a sugestão de voltar à lídima prática mediúnica espírita, preferindo afastar-se da Casa de Eurípedes. Mas lhes foi dito que as portas da Casa permanecem-lhes abertas, bem assim os nossos corações, se se dispuserem à fidelidade a Jesus e a Allan Kardec!
Nota
Colaborou na redação do artigo o confrade Jeziel Silva Ramos, médico e presidente do Hospital Espírita Eurípedes Barsanulfo, de Goiânia (GO).
Referências
1 – BARBOSA, Elias. No Mundo de Chico Xavier. Edição Calvário, São Paulo, 1968, p. 78;
2 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. FEB, RJ. Introdução, p. 44;
3 – Bíblia Sagrada;
4 – KARDEC, Allan. Revista Espírita. Edicel, SP,Tomo IV, 1863, p. 257;
5 – KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 118ed. FEB, Rio de Janeiro, 2001, C. XXI, item 10, 6º §;
6 – KARDEC, Allan. A Gênese. 34ed. FEB, Rio de Janeiro, 1991, Cap. I, item 13.
O consolador – Ano 3 – N 139, 140 e 141 – Especial