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A arte na casa espírita

Autor: TIM

Como a cachoeira poderia se ufanar de sua majestade sem reverenciar as nascentes que lhe fornecem o líquido precioso para compor seus formosos véus?

Como o Jatobá poderia se impor diante da floresta prescindindo da terra que lhe dá os nutrientes e a base de sustentação?

Como a lua nos encantaria os sonhos sem o concurso do sol que, mesmo à noite, a alimenta com sua caldeira de luz?

Assim também o músico espírita deve ser grato à fonte que lhe deu a inspiração e as rimas para os versos nobres – O Evangelho de Jesus.

Comumente o artista visita planos de harmonias mais elevadas e ali colhe material que lhe servirá de matéria prima para novas composições. Uma vez de retorno ao corpo físico, experimenta as inibições de seus sentidos e lembranças dos locais visitados, mas guarda consigo as impressões que lhe impregnaram a alma. Retratar seus sentimentos e emoções será então uma necessidade premente da qual não se furtará até que realize a obra que lhe foi confiada.

Na seara espírita não é diferente. Dizemos mais, é algo mais pungente pois o espírito que já detém a compreensão dos princípios fundamentais do Espiritismo, quando lança mão desses conhecimentos, vai elaborar seus esboços harmônicos com muito mais percepção, com maior profundidade.

Léon Denis (1) relata que, ao admirar o pôr do sol, meditando sobre as belezas de Deus, ouviu uma voz que lhe disse: Publica um livro que nós te inspiraremos, um livrinho que resuma tudo que a alma humana deve conhecer para se orientar no seu caminho; publica um livro que demonstre a todos não ser a vida uma coisa vã de que se possa fazer uso leviano, e sim uma luta pela conquista do Céu, uma obra elevada e grave de edificação, de aperfeiçoamento, regida por leis augustas e equitativas, acima das quais paira a eterna Justiça, amenizada pelo Amor.

No entanto, o artista ainda se encontra em um mundo de desafios, trazendo consigo uma eiva de imperfeições que o impedem de ser pleno em sua arte. Sendo essa uma imposição do ser encarnado em um plano de provas e expiações, deve o postulante do belo e do bom buscar sempre se manter conectado à fonte que lhe permitiu vislumbrar novos horizontes. Essa fonte se chama Jesus e a água que dela corre se chama Evangelho. Tudo o que virá adiante prestará homenagens a essa fonte benigna de onde brota infinitamente o Amor Divino.

Artista espírita, não abandone a casa espírita que lhe abriu as portas do entendimento para somente buscar os aplausos do mundo. É no trabalho sincero com o próximo que manteremos viva em nós a chama do ideal do Bem, alimentada com o combustível da fraternidade. Como afirmou o Mestre, “Meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também” (2)

Manter a simplicidade é manter as águas límpidas para servir ao Cristo quando ele pedir, como fez com a mulher samaritana. (3)

Manter-se no trabalho assistencial sem exigir resultados imediatos ou questionamentos infrutíferos é sair como o Semeador que apenas “saiu a semear” (4) lançando a boa semente em todos os campos.

Buscar ser útil de alguma forma na casa espírita e fora dela, sem escolher tarefas de maior ou menor projeção é o mesmo que dizer “eis aqui teu servo, que queres que eu faça?”(5).

O Evangelho de Jesus está em tudo e em todos. É a oportunidade viva e ardente de nos engajarmos nas harmonias do Universo, que desde sempre, entoa suas melodias de louvor a Deus.

Não há problemas em se colher os frutos que advêm do trabalho bem feito. De outra forma incorreríamos na falsa humildade, negando uma alegria latente. Porém, é importante que saibamos escolher a época e a forma certa de colher esses frutos, tendo consciência de que não somos os únicos “herdeiros da Vinha”. Contamos sempre com o auxílio dos amigos espirituais que nos auxiliaram no plantio e, na maioria das vezes, insistem em se manter anônimos. Jesus, conhecendo nossa intimidade, aconselhou-nos a ir aos pares (6) divulgando a Boa Nova: “Ide e pregai o Evangelho a toda criatura…” (7) e ainda afirmou: “onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, aí eu estarei no meio deles” (8).

Alan Kardec foi fundamental para a Doutrina Espírita, mas em sua retaguarda uma plêiade de espíritos se esmerava para que os anúncios de uma nova era não se perdessem em meio a filosofias vãs.

Chico Xavier foi incomparável em sua benignidade, mas o concurso do amigo espiritual Emmanuel sustentava-lhe os embates da caminhada.

Paulo de Tarso talvez tenha sido o apóstolo mais dedicado à tarefa da divulgação do Cristianismo nascente, mas sem Estevão, para abalar suas convicções dogmáticas, talvez ele sucumbisse ante o orgulho torpe.

Enfim, quem somos, músicos de uma arte ainda incipiente, para querer de imediato os Céus na Terra? Façamos nossa tarefa, conscientes da misericórdia do Cristo que nos concede a oportunidade de trabalhar nossas dificuldades e imperfeições em atividades artísticas, que são da nossa preferência e que nos trazem muitas alegrias. É como acender um pavio: os primeiros a sermos iluminados seremos nós mesmos. Se quisermos, seremos também beneficiários dessas composições melodiosas.

Encontraremos a felicidade possível em cima dos palcos ou nos teatros da vida. As harmonias estão em toda parte, em todos e em nós mesmos. Basta encontrar a nossa nota fundamental para fazermos parte da partitura universal, na qual cada um de nós é chamado a ocupar seu lugar nos coros celestiais.

[1] DENIS, Léon. O grande enigma. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. p. 11.

[2] João, cap. 5, vers. 17.

[3] João, cap. 4, vers. 7.

[4] Marcos, cap. 4, vers. 3 .

[5] Atos, cap. 9, vers. 6.

[6] Lucas, cap. 10, vers. 1.

[7] Marcos, cap. 16, vers. 15.

[8] Mateus, cap. 18, vers. 20.

Fala MEU! Edição 85, ano 2012

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