Autora: Christina Nunes
Terminando nova obra psicografada a ser lançada no próximo ano, deparo, em site de uma livraria onde compro habitualmente, e por uma daquelas “coincidências” sempre inspiradas pelo mentor desencarnado, amigo que me assessora os esforços, com lindo romance passado nas colinas da Sicília – justo o cenário embevecedor onde acontece nossa própria história, que narra uma das reencarnações do grupo acompanhante do autor em várias vidas. E, a partir desta bela obra autobiográfica (Um Certo Verão na Sicília – Marlena de Blasi), venho obtendo a embevecedora confirmação de várias minúcias apostas em nosso livro por intermédio da parceria mediúnica já extensa, levada a efeito na missão literária da equipe invisível à qual me vinculo.
Uma amiga costuma dizer que sou artista devido a isto, ao fato de ser escritora, ainda que meu trabalho se realize nestes moldes da literatura mediúnica. É correto; é trabalho artístico, grato, mas que se desenvolve sob parâmetros incomparavelmente mais gratificantes por conta destes detalhes de percurso, ao longo do qual duas faces da Vida cooperam com recursos indisponíveis para os que agem nesta vertente somente do âmbito material terreno. Se não visitei ainda, nesta vida, a Itália e seus lugares milenares e colinas recobertas de relvado florido e perfumado, leva-me o autor espiritual a visitá-los de um outro modo, reavivando-me minúcias pregressas de nossas vidas anteriores e conduzindo-me, depois, ao confirmativo delas nas fontes literárias atuais, nas quais se encontram obras valiosas tais como a que leio neste momento, uma autobiografia na qual a autora, pelas descrições de sua vida na Sicília, retifica toda a gama de detalhes diminutos sobre os quais poderiam restar dúvidas de autenticidade na elaboração de nossa própria obra.
Reconheço em mim mesma pendores inegáveis para a arte, herdados da família, toda ela formada de pintores, atores, músicos natos e apenas que anônimos, tendo conduzido, a maior parte, as suas vidas por caminhos forçosamente diversos dos de quem segue, no nosso país, a árdua carreira artística. De fato, já criança, tocava violão e flauta de ouvido, e cheguei a aprender piano clássico com muita facilidade. É indiscutível que a Arte – a boa Arte! – possui a capacidade de me arrebatar às alturas. Conecta-me, sobretudo, com patamares outros da Vida, das dimensões mais sutis! Aliás, é com base nisto que se consolidou a minha convicção de que todo artista, na verdadeira acepção da palavra e plenitude de sua atividade, é médium nato. Ele pluga o canal de outras correntes existenciais e as manifesta segundo suas escolhas, aptidões e idiossincrasias. Pode, portanto, atuar no mundo como ferramenta poderosa de progresso ou de destruição, em consonância com as vertentes energéticas com as quais se afinize, magnetizando e incorporando em si mesmo tais matizes de uma forma infinitamente mais potente do que indivíduos mais pragmáticos. O artista pleno é, pois, subestação viva, a partir da qual se espraiam à humanidade ondas criativas ignotas, mensagens e sentimentos outros, alheios à banalidade comum do cotidiano. E é a partir desta peculiaridade de suas funções que se define esta profissão dentre as mais sublimes, cujas realizações presenciamos cotidianamente, ora sob enlevo, ora sob assombro e perplexidade, porque tudo que na vida vem à Luz em compasso com o dom supremo da Criação está destinado a mergulhar os seres nestes arrebatamentos e êxtases espirituais.
Imbuída destes sentimentos e impressões foi que li, há poucos dias, obra portentosa do grande mestre Léon Denis, vulto venerado fora e dentro do universo espírita. O Espiritismo na Arte só veio confirmar tais certezas, intuitivamente alcançadas, sobre o papel importante da Arte em todos os níveis de manifestação da Vida, não somente neste nosso mundo material, como nas demais esferas, onde a evolução prossegue infinitamente, e para além dos nossos sentidos corpóreos; pois nos expõe, com magnífica eloquência, acerca das realizações artísticas em dimensões extrafísicas, onde os Espíritos O Esteta, Massenet e outros nos contam de obras arquitetônicas, musicais, dentre tantas, pautadas no que só nos resta entender, de dentro de nossas transitórias limitações perceptivas, como criações de luz pura, reverberando a partir de cores, luzes e matérias sutis perante as quais tudo o que se entende como criação na Terra se converte em pálida e sombria amostra da sublimidade do que se realiza nestas estâncias mais avançadas, mais libertas, da existência!
O leitor deve estar se perguntando, a esta altura, de onde procede a conexão do que exponho com o título do presente artigo, A Arte Sacra. Explico-me. É que, queridos amigos, numa época em que nos voltamos à data mais bela do ano para celebrar com amigos e familiares através dos presentes, festejos e das luzes natalinas, sempre espontaneamente voltam-se meus pensamentos e sentimentos, a pretexto de quaisquer coisas presenciadas, à razão maior – a bem da verdade, a única razão! – motivadora deste fato único, reafirmado a cada doze meses já há dois milênios: um homem, sozinho, baixado a este mundo de provas portando inovadora Mensagem de Amor, de molde a nos guiar pelo caminho da felicidade pela perenidade de nossa trajetória. Em nome dEste Homem, pois, é que se dão as luzes, as árvores, os enfeites, e o pendor mais acentuado à compaixão e à fraternidade real, ao perdão e à concórdia, ainda que talvez somente nas proximidades desta data, em tempos, ainda, de tanta convulsão social!
É em nome da vinda dEste Homem, também, que se realizou num festejo recente, a exemplo, da magnífica árvore natalina inaugurada, sob fogos deslumbrantes, cânticos e ovação da multidão enlevada, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Após seis anos, voltei lá, com meus familiares, para assistir ao espetáculo. E, como tantos à minha volta sob a chuva fina daquela noite, me comovi – ouvindo a senhora a meu lado, reunida à família, repetir todo o tempo, como se sob o efeito de branda quanto bem-vinda hipnose, sob a visão multicolorida dos fogos portentosos iluminando os céus da noite: – Que lindo! Paz! Paz! Muita paz a todos!
Emocionava-me. Entrei em consonância com o desejo que tão espontaneamente ela expunha, naturalmente evocado ante a visão mágica daquela monumental criação artística edificada, e mesmo que muitos ali disto nem recobrassem completamente a consciência, em nome dAquele Ser amoroso que veio ter entre nós e nossos sofrimentos, compartilhando-os em prol de um mundo vindouro melhor.
E isto, para mim, caros leitores, é Arte Sacra! O verdadeiro demonstrativo! Não importam aqui as alegações possíveis da procedência financeira que permitiu tal vultosa realização, os inegáveis contrastes sociais dos nossos tempos. Não importa! Porque em todo quadrante do mundo, sem embargos, tais contrastes só haverão de ser amenizados de futuro sob o impacto bem-vindo de tais sentimentos, despertos sob os efeitos deste e de outros tipos de Arte Sacra – Arte arrebatadora do espírito! – de molde a elevar o ser humano a alturas para além das dificuldades ríspidas deste mundo, evocando, em cada um de nós, e em qualquer época, o melhor de nossos sentimentos, de nossas iniciativas. O melhor de nós!
O consolador – Ano 3 – N 148