Autor: Ricardo Baesso de Oliveira
Afirma Joanna de Ângelis, no livro Vida feliz, que a palavra é instrumento da vida para a comunicação e para o entendimento, e que o uso irregular das palavras corrompe a mente e rebaixa o homem. Lembra, ainda, que o verbo expressa a qualidade moral do indivíduo e que palavras gentis são geradoras de estímulos e valores que logram resultados preciosos.
Nós espíritas, que estamos conscientes da necessidade de buscarmos o belo, o bom, o justo, o nobre, o correto e o útil em todas as nossas ações, devemos ter um cuidado especial com as expressões que habitualmente empregamos, particularmente nas atividades espíritas, que se dão sob a luz de entidades venerandas, em ligação com Jesus.
Embora admita, fraternalmente, opiniões distintas, vejo como inapropriados dois termos empregados frequentemente por nós: assistidos e carentes.
Esses termos são empregados corriqueiramente, nos Centros espíritas, para nos referirmos às pessoas de baixa condição socioeconômica e/ou de baixa escolaridade, o que já pode sinalizar uma postura excludente: “eles” têm nome para qualificá-los, enquanto os outros não.
Além de induzir-nos a uma atitude mental separatista (os que têm nome para qualificá-los e os outros, os que não têm) as palavras assistidos e carentes são inadequadas, porque não expressam a realidade da vida. Muitos de nós podemos, em muitos aspectos do cotidiano, ser muito mais carentes que eles: carentes de amor, de paz, de dignidade profissional, de respeito no lar, de experiências na dor, de luta dura para sobreviver. Portando, carentes todos nós os somos.
O termo assistidos, por sua vez, expressa uma postura de autossuficiência: nós, os que sabemos e os que possuímos assistimos os pobres coitados que não sabem e nem possuem. Assistidos somos todos nós, graças a Deus. Pobres de nós se não fôssemos.
Buscando uma mais amorosa atitude espírita em nossas atividades, deveríamos buscar outras palavras (ou palavra nenhuma) para nos referimos aos nossos irmãos de humanidade que transitoriamente vivem a doída experiência da limitação financeira e/ou escolar. Creio que todos ganharíamos muito com isso.
O consolador – Ano 13 – N 648 – Artigos