Autor: Jorge Hessen
Se analisarmos as plateias dos centros espíritas em geral, observaremos que a presença de jovens é muito reduzida. Então, onde estão os jovens? Não teria o Espiritismo atrativos para eles? A inserção do jovem nos trabalhos do Centro Espírita é tarefa complexa, porém, de imperiosa relevância. É perfeitamente factível, sem causar instabilidades, nem aos jovens, e nem à Instituição, desde que seja coordenada por dirigentes sensatos e conhecedores das obras de Kardec.
É certo que há diferença entre o jovem e o adulto, ou seja, os mais novos estão em processo de amadurecimento, o que não significa afirmar que estão despreparados ou imaturos para seus compromissos doutrinários.
Lembremos que, ao desempenhar tarefas, tanto no Centro, quanto no Movimento Espírita, o jovem passa a sentir-se útil e parte integrante do todo, não, somente, um mero frequentador de “mocidades”. Nesse aspecto, não se pode desconsiderar que, ao se promover a inserção dos jovens no centro espírita, se estará preparando trabalhadores não só para o futuro, mas para o presente, de forma segura e necessária.
Somente através de um treinamento efetivo é que os evangelizadores estarão aptos a proporcionar e incentivar o ingresso dos jovens nas atividades do Centro e do Movimento Espírita. É só através desse preparo que os trabalhadores no processo saberão como, quando e onde inserir os jovens sob seus cuidados. Obviamente, que isso deverá ser feito de forma gradual e responsável, porém, constante. Por isso, é urgente investir forte, também, na qualificação dos trabalhadores envolvidos com os setores da juventude. Sem isso, corre-se o risco de a integração ser mal conduzida, ou feita de forma equivocada, o que traria sérios prejuízos, tanto para o jovem, como ao próprio centro e, em última instância, ao Movimento Espírita.
Dando-lhes a devida atenção, além de preservarmos o ânimo dos jovens, estaremos evitando uma possível evasão dos mesmos em virtude do sentimento de impotência e frustração. Um dirigente atento consegue identificar, nos jovens, suas habilidades e designá-los para tarefas compatíveis com elas e, nesse caso, a chance de êxito é muito maior. Isso é importante, pois, somente através da qualificação dos dirigentes e evangelizadores, como a conscientização dos trabalhadores em geral, é que serão abertas notáveis oportunidades aos jovens espíritas, inclusive, se for o caso, nas atividades mediúnicas.
Sobre as atividades no campo medianímico, deve-se frisar que em O Livro dos Médiuns, Cap. XVIII-221/8, é feita a seguinte pergunta aos Espíritos: – “Em que idade se pode ocupar, sem inconvenientes, de mediunidade?” Os Benfeitores explicaram: “Não há idade precisa, tudo dependendo inteiramente do desenvolvimento físico e, ainda mais, do desenvolvimento moral. Há crianças de doze anos a quem tal coisa afetará menos do que a algumas pessoas já feitas. Falo da mediunidade, em geral; porém, a de efeitos físicos é mais fatigante para o corpo; a da escrita tem outro inconveniente, derivado da inexperiência da criança, dado o caso de ela querer entregar-se a sós ao exercício da sua faculdade e fazer disso um brinquedo”. (1)
É muito comum, na adolescência, o afloramento das faculdades mediúnicas. Porém, é prudente, antes de os jovens se dedicarem à psicografia, às mensagens psicofônicas e/ou às outras possibilidades mediúnicas, visando a auxílio e consolo, ou, ainda, qualquer outra manifestação dessa ordem, que eles sejam chamados a colaborar na evangelização da infância, nos estudos da mocidade, nas obras assistenciais da casa, nas campanhas fraternas (a sopa, campanhas do “quilo”, distribuição de cobertores, visitas a hospitais, presídios, creches e orfanatos etc.) e outras atividades rotineiras da casa, para que possam valorizar todas as tarefas e perceber a importância do trabalho persistente antes de assumirem o compromisso no intercâmbio direto com os Espíritos desencarnados.
Embora a mediunidade se manifeste em qualquer idade, não é recomendável que na infância se ofereça ensejo a uma educação mediúnica. A criança, não tendo, ainda, desenvolvido as percepções parapsíquicas e mediúnicas, não saberá como se defender, ficando muito exposta às influências perturbadoras que derivam do seu passado espiritual. Cremos que a mediunidade possa ser exercida quando na idade do início da razão. Fisiologicamente analisando, quando as glândulas endocrínicas estiverem organizadas. Daí, após a puberdade, no período dos 14 aos 15 anos, quando o jovem já possui maior discernimento, ele poderá participar de experiências mediúnicas. Enfim, a habilitação para a educação da mediunidade naqueles que sentem, em qualquer grau, a presença dos Espíritos, é na faixa etária dos 14 aos 16 anos.
As irmãs Fox, Kate e Margareth, à época dos fenômenos de Hydesville, tinham, respectivamente, 12 e 14 anos (para alguns, tinham 14 e 16 anos). Allan Kardec contou com a colaboração especial de 4 jovens médiuns na elaboração da primeira edição de O Livro dos Espíritos. Foram elas as irmãs Julie Baudin (15 anos) e Caroline Baudin (18 anos), Ruth Japhet (20 anos) e Aline Carlotti (20 anos). Dentre essas jovens destacamos Julie e Caroline Baudin que psicografaram a quase totalidade das questões de O Livro dos Espíritos nas reuniões familiares dirigidas por seus pais e assistidas pelo Mestre Lionês. (2) Ruth Japhet foi a médium responsável pela revisão completa do texto de O Livro dos Espíritos, incluindo algumas adições (3) e Aline Carlotti, que fez parte do grupo de médiuns, através do qual Kardec referendou as questões mais espinhosas do livro primeiro da Codificação, fazendo uso da concordância dos ensinos. (4)
Urge uma pequena reflexão sobre a Mediunidade. A rigor, o fenômeno mediúnico se apresenta sob dois aspectos: a mediunidade natural, que é essa genérica, e a mediunidade ostensiva, aquela que caracteriza os indivíduos com uma ampla possibilidade. Num determinado grupo de pessoas, todos são inteligentes, mas há os que são menos e os que são muito mais inteligentes, ou seja, as pessoas normais e as pessoas geniais; assim, também existem os portadores de um alto quociente mediúnico: aqueles que veem, aqueles que ouvem, aqueles que se tornam instrumento dos Espíritos sem que haja um esforço pessoal e aqueles que escrevem com muita facilidade. A mediunidade é uma faculdade orgânica, porque o Espírito é que tem o dom, e o corpo oferece as células para que o fenômeno tenha o seu campo. “A inteligência é do Espírito, o cérebro oferece os neurônios para poder decodificar. É como um computador: se um programa é instalado, o programa é o que conta; o computador vai dar a resposta quando alguém digitar. Nós somos como que computadores, mas são os Espíritos que digitam os fenômenos mediúnicos através de nós.” (5)
Ressaltamos que a decisão de permitir um rapaz ou uma moça, na puberdade ou saindo dela, a frequentar um grupo mediúnico, é uma situação que deve ser muito bem pensada e avaliada. Principalmente, no que diz respeito à legítima necessidade e capacidade física e psíquica dos jovens, pois sabemos que essa fase da vida é, relativamente, complicada, em decorrência de automatismos biológicos e psicológicos que a caracterizam. Lembremos que é o período dos sonhos romanescos do “doce encantamento” dos namoros, são as exigências de grupos sociais (“turmas”, “tribos” ou “galeras”), diversões, agremiações esportivas e outras variadas formas de pressão psicossocial. Não se pode esquecer que os jovens, hoje, têm muito mais atividades do que na época de Kardec. Há outras opções que muitos jovens consideram interessantes, como o vasto mundo da Internet, com jogos, salas de amizade, namoro, pornografia etc., sem falar na compulsão da simples curiosidade. Apesar disso, comedimento bem diverso é estabelecer um regulamento padrão, meramente vetando [ou embaraçando em excesso] o comparecimento de qualquer jovem nas reuniões mediúnicas, inviabilizando o começo da empreitada daqueles que verdadeiramente demonstram impressionabilidade relevante e que carecem exercitar as faculdades mediúnicas, a fim de não deixarem suas potencialidades psíquicas desajustadas.
Somos favoráveis ao envolvimento do jovem nas questões dos fenômenos mediúnicos. Sobretudo, se o mesmo apresenta um bom grau de maturidade e se a mediunidade estiver naturalmente aflorada. Se o candidato é frequentador assíduo em grupos de estudos, cremos que os dirigentes poderão convidá-lo a participar de reuniões sobre educação da mediunidade, ocasião em que lhe será, também, explicado o controle sobre o fenômeno. Em muitos casos, o resultado é positivo, pois se desmistifica o trabalho mediúnico, mostrando-lhe como os fatos desse gênero acontecem de forma natural na prática.
Enfim, sabemos que a juventude lida com medos, incertezas, dúvidas, envolvendo relacionamento afetivo e profissão, autoafirmação, busca pela aceitação, conflitos íntimos e uma infinidade de situações naturais. Por falta de bom senso de dirigentes espíritas, alguns jovens ficam à margem do caminho e se entregam aos vícios de todos os matizes, porque, não recebendo o apoio moral indispensável, não sabem lidar com os desafios que se lhes apresentam. Não podemos esquecer, sobretudo, que, nesses casos, a importância da família na formação de valores do ser é fundamental. A base familiar é essencial para ajudar o jovem a superar seus dilemas íntimos sem grandes atropelos.
Kardec e a espiritualidade ofereceram a teoria. A questão prática da aplicação dos princípios espíritas na educação dos jovens compete aos pais e educadores ministrarem, até porque, a prática confirma a teoria. Como lembramos acima, verifica-se que Kardec utilizou-se de jovens, com a faculdade mediúnica já mais aflorada, para codificar a Doutrina Espírita. Portanto, é urgente investir nesses tesouros que frequentam a Casa Espírita, para a manutenção do lume da Terceira Revelação.
Referências
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, Cap. XVIII 221/8;
2. KARDEC, Allan. Revista Espírita, SP: Edicel, 1858;
3. idem;
4. Observar última checagem em ObrasPóstumas, p. 270. (26ªedição da Feb.) Aline era filha de sr. Carlotti, um dos iniciadores de Kardec nas coisas do invisível. Em ObrasPóstumas há uma mensagem do Espírito de Verdade, recebida pela srta. Carlotti (pág.281, da edição citada). Mais detalhes sobre o princípio da verificação universal podem ser encontrados na introdução II de O Evangelho segundo o Espiritismo;
5. FRANCO, Divaldo. Mediunidade e Vida Saudável (palestra) disponível mediunidade e vida. Acesso em 1º de dezembro de 2008.
O consolador – Artigos
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