Autor: Ricardo Baesso de Oliveira
Nas vinculações afetivas que se verificam entre duas criaturas humanas, algumas questões se apresentam e são de complexa avaliação: por que nos sentimos atraídos por uma pessoa e não por outra? O que levam as pessoas a se apaixonarem, chegando, muitas vezes, a cometerem atitudes impensadas e absurdas? Que elementos podem responder pelas causas dos relacionamentos afetivos humanos? Quais os fatores responsáveis pela atração que frequentemente se dá entre as pessoas?
Os processos que resultam na atração sexual são um permanente desafio para a ciência. Nos animais, sabe-se que ela é consequência da ação dos feromônios, componentes químicos liberados pelo corpo que atraem o sexo oposto pelo odor. A existência dos feromônios nos seres humanos é uma questão controversa: ainda não se sabe se existem e quais seriam suas funções. A biologia evolutiva e a genética do comportamento, por sua vez, procuram identificar genes que sob a ação de determinados fatores ambientais poderiam explicar o fenômeno.
Segundo Kardec, os encontros que se dão algumas vezes entre certas pessoas, e que se atribuem ao acaso, seriam efeito de certa relação de simpatia que existe entre elas, e que essa relação de simpatia estabelece, entre os seres pensantes, ligações que ainda não conhecemos. Acrescenta, baseado na informação dos Espíritos, que o magnetismo é o piloto dessa ciência, que mais tarde compreenderemos melhor. (LE, item 388.)
Na literatura espírita, encontramos oportunos comentários a respeito do tema através do Espírito Emmanuel, na obra mediúnica Vida e sexo, recebida através de Chico Xavier, particularmente no capítulo III.
Afirma Emmanuel que não existem uniões conjugais ao acaso, portanto devemos encontrar fatores afetivos vinculantes em toda relação a dois. Ao estudar o processo de aproximação de dois seres enamorados um do outro (suave encantamento), ele comenta que esses dois seres descobrem um no outro motivos e apelos para a entrega recíproca, desenvolvendo daí o processo de atração, e que esse processo encontra raízes nas realidades da reencarnação e da afinidade.
Desenvolvendo o que seriam esses motivos e apelos, geralmente ocultos e de difícil explicação, Emmanuel relaciona cinco situações relacionadas à questão.
1 – Inteligências que traçaram entre si a realização de empresas afetivas ainda no Mundo Espiritual.
Muito frequentemente, a planificação e formação da família se dão antes do renascimento terrestre, onde, ainda na dimensão espiritual, os parceiros assumem compromissos mútuos de companheirismo e permuta de energia sexual para a experiência física que se dará. Trazem, no seu inconsciente, a “imagem” um do outro, que desperta, em determinado momento o desejo e a vontade de estarem juntos.
2 – Criaturas que já partilharam experiências no campo sexual em estâncias passadas.
Às vezes, relações se estabelecem sem planificação prévia na dimensão espiritual, mas envolvendo pessoas que já permutaram experiências sexuais em outras reencarnações. É o pretérito que volta, apresentando, de novo, aquelas mesmas criaturas com quem talvez tenhamos enveredado no labirinto de experiências anteriores. Carregam consigo os mesmos ingredientes de sedução, com que nos envolveram em outras oportunidades, sugerindo-nos o retorno a processos de vida, muitas vezes incompatíveis com o do nosso dever, diante de compromissos já assumidos.
3 – Corações que se acumpliciaram em delinquência passional.
Almas que juntas feriram corações sinceros, por desconsiderarem as necessidades afetivas dos outros, desrespeitando compromissos previamente assumidos, retornam às lides planetárias para iniciarem o processo de educação dos sentimentos. A necessidade de corrigenda e o sentimento de culpa podem ser os fatores de atração recíproca.
4 – Influência exercida pelas inteligências desencarnadas no jogo afetivo.
Comenta Emmanuel que parceiros das existências passadas, ou, mais claramente, Espíritos que se corporificarão no futuro lar, atuam, em muitos casos, no ânimo dos namorados, inclinando afeições pacificamente raciocinadas para casamentos súbitos ou compromissos na paternidade e na maternidade, retornando à dimensão física na condição de filhos do casal.
5 – Almas inesperadamente harmonizadas na complementação magnética.
Admite o autor citado que em muitos lances da experiência física os fatores de atração sexual ou vinculação afetiva não se relacionam a experiências reencarnatórias prévias, verificando-se, exclusivamente, a partir de laços de simpatia, onde as almas envolvidas encontram no parceiro um companheiro que comunga de ideias ou tendências equivalentes. Explicam-se assim muitos casos, identificados ordinariamente na vida diária, de pessoas que tiveram, em sua existência física, mais de um relacionamento significativo para eles, gratificante ou não, mas que foram estruturados em laços fortes de afinidade.
O pensamento de Emmanuel parece-nos bastante elucidativo, mas outras situações podem ser aventadas no estudo da atração física e das vinculações afetivas, portanto o tema continua aberto para novas reflexões.
O consolador – Ano 8 – N 406