Autor: Thiago Rosa
É tentador. Você olha, admira, acha bonito ou bonita, tem atração, seus olhos perseguem, conversa, troca uma ideia e no final de tudo falta uma coisa: o beijo.
Sinônimo de afeição romântica, de desejo, beijar faz bem e faz parte da relação amorosa entre todos os casais. Moderno, saído do armário do tabu antiquado, hoje ele rola à vontade nas novelas, nos filmes, nos teatros, nas ruas, no “ficar” entre os jovens, nas baladas, nos ambientes comuns das ruas, até nos desenhos infantis, nas belas adormecidas, nas escolas e em qualquer imaginação. Banalizaram o beijo.
Conhecido desde 2500 antes de Cristo, beijar já teve vários significados. Seja como prova de reconhecimento entre guerreiros, ou como o beijo do imperador para saudá-lo, o beijo do padre na boca da noiva para dar sorte ao casal ou o beijo da noiva na boca de todos os homens da festa para confirmar a benção da vida feliz entre os escoceses. Tem o beijo na boca entre os czares russos ou da filosofia grega. Na Itália, no passado, quem beijasse em público na rua teria que casar. Se essa regra valesse hoje em dia ainda…
Do latim basium, beijo significa o toque dos lábios em qualquer coisa. Nas músicas atuais ele pode ser encarado como algo mais sacana, sedutor, mas no passado ele tinha o significado de inalcançável, difícil de ter pelos poetas e escritores, algo distante de conseguir pelos desiludidos e depressivos voltados ao amor platônico.
Em uma sociedade machista como a nossa, o beijo se transformou. Mais comum na nova geração que nasce com uma visão ampliada, o beijo no rosto entre garotos passa a ser comum na forma de amizade, seja no encontro ou na despedida. Neste mesmo grupo, a continuidade do “ficar”, o beijo na boca despreocupado com os sentimentos, apenas com o desejo, continua cada vez mais frequente.
Não é raro ouvir reclamações de jovens que em um beijo ou outro encontra uma paixão despercebida. “Puxa, eu estava gostando dela, mas tudo bem”, disse Bruno quando falava de um de seus primeiros encontros amorosos com uma garota. “Ela é uma cretina, nem ligou mais pra mim depois que saímos e agora me trata como se nada tivesse acontecido”, completou ele ao afirmar que tudo bem. Com Gustavo já foi diferente: “eu sou muito bonzinho, confio demais nas pessoas, é complicado gostar de alguém”. Marcelo ainda me confirma “foi só um beijo e nada mais, eu sabia disso”.
Incrivelmente ouvir isso de meninos, quando a queixa sempre foi do sexo masculino, podemos perceber que a realidade, da mulher como sexo frágil e indefesa, não faz parte do cotidiano. O sinônimo de singelo que ainda existe e é verdade, acaba desencontrando com o mesmo papel das meninas em relação ao sexo e desejo. Não é incomum elas fazerem o mesmo papel reclamado sempre aos homens.
Passando por alguns blogs “teens”, podemos ver que a velha competição de quem beija mais continua. Na Argentina, de onde vim recentemente, a caça é contínua. Primeiro o beijo descompromissado, depois o sexo aventurado. As regras não mudam. O beijo pode ter significados distintos em determinados lugares, porém, a despreocupação com o parceiro é honesta em qualquer ambiente mais descontraído.
Parte ou não de nossa cultura atual, que antes era tão repressora, a educação dos nossos sentimentos merece atenção especial, principalmente em fase tão tentadora como nossa puberdade, nossa juventude, onde tudo parece mais fácil, rebelde e bem no momento onde procuramos no outro uma satisfação para nossos desejos.
Beijo, sempre será uma demonstração fraternal de carinho, um singelo gesto de amor, de transmitir uma energia gostosa vinda de um sentimento puro e saudável, mas é uma armadilha muito útil para corações despreparados, para desavisados da carência afetiva e para aqueles que buscam efetivamente uma companhia para iniciar um romance.
“Ficar”, tema que já discutimos aqui, ao mesmo tempo que parece simples e que você consegue lidar, afinal são só uns beijinhos, pode resultar em um desastre no seu futuro papel amoroso. Beijão aê!
“Em muitos discursos, o namoro é destacado como mais sério, como vínculo de respeito, separado da identificação do ficar, em que tudo é permitido”. (pesquisa UNESCO – 2004)