Autora: Eugênia Pickina
Agora, o que nenhum arranha-céu poderá ter, e as casas antigas tinham, é esse ar humano, esse modo comunicativo, essa expressão de gentileza que enchiam de mensagens amáveis as ruas de outrora
Cecília Meireles
Assim como nos preocupamos como pais com as trajetórias de crescimento e desenvolvimento dos nossos filhos – habilidades de linguagem, por exemplo – os bons modos são o outro lado da jornada de cada criança, pois uma pessoa que, desde o começo da vida, aprende a administrar um pouco de gentileza, mesmo sob a pressão de uma visita ao dentista (por exemplo), é uma criança que funciona bem no mundo e que tem mais chance de prosperar na escola, de realizar-se na vida.
Assim como é uma alegria observar a interiorização dos bons modos por uma criança, por um adolescente, é lamentável perceber a ausência ou a deterioração dos bons modos em um indivíduo em formação. Isso nos faz lembrar uma história citada (e contestada) sobre Sócrates reclamando que os jovens atenienses tinham “maus modos e desprezo pela autoridade”. Obviamente, o mundo mudou, há novas orientações e ferramentas sociais, decorrentes da tecnologia, por exemplo. Contudo, a antiga tarefa de educar um filho permanece…
A meu ver, as boas maneiras são um tema principal do empreendimento parental. Cada criança, não esqueçamos, nasce adorável, mas egoísta e o centro do universo. É dever dos pais (ou de quem cria a criança) ensinar que há outras pessoas e elas têm sentimentos… O que fazemos os outros sentir quase sempre é marcante ou inesquecível.
Definir limites, elogiar continuamente o bom comportamento são atitudes que precisam fazer parte da rotina familiar. Seu filho consegue agradecer a refeição? Ele abre sua bolsa e tira coisas de lá sem pedir autorização? Sua filha tem por hábito ser rude ou ela é gentil?
A vida inteira depende de bons modos – existem “valentões” no pátio da escola e “valentões” no ambiente de trabalho. Sobre a criança, é importante que ela entenda que não é preciso gostar da professora, mas sim tratá-la com respeito, cortesia. Não é que seu filho não possa detestar o coleguinha na sala de aula, mas não pode bater nele, nem agredi-lo com palavras feias. Se nossos sentimentos são privados, nosso comportamento é público.
Sempre que visito certas escolas acho difícil lidar com as crianças grosseiras, rudes, observando, entristecida, que o mundo adulto fracassou em orientá-las e protegê-las. Os bons modos precisam ser ensinados, pois integram, sem dúvida, o núcleo das necessidades básicas da infância.
Notinha
Em casa, na rua, na escola, estimule as saudações, os pedidos educados, os agradecimentos, até que se tornem automáticos. Um pedido educado, enunciado com simpatia, amabilidade, tem a tendência a desencadear uma resposta mais amistosa. Aqui seguem algumas dicas: 1-Ajude seu filho a aprender a ser pontual; 2-Ensine seu filho cumprimentar as pessoas; 3-Ensine seu filho a se comportar à mesa; 4-Ensine seu filho a reprovar o uso de palavrões; e 5-Ensine seu filho as palavras mágicas: “por favor, “obrigado”, “desculpe”, “com licença”.
O consolador – Ano 16 – N 768 – Cinco-marias