Autora: Eugênia Pickina
Educar mal um homem é dissipar capitais e preparar dores e perdas à sociedade
Voltaire
Vez por outra as crianças (e os adolescentes) brigam em razão de inúmeros desentendimentos. São brigas episódicas e que têm simplesmente um fim. Isso não tem nada a ver com o bullying.
Bullying, presente nas escolas em todo o mundo, é praga social que afeta inúmeras crianças e adolescentes e que, infelizmente, a partir da década de 1970, aumentou drasticamente, segundo demonstrativos de estudos científicos diversos.
Na infância e nos anos iniciais do ensino médio, eu fui vítima do bullying. Por causa dele, achei a escola um lugar horrível e inseguro. O que me salvou foi a minha natural introversão e o meu amor aos estudos.
Na sala de aula, no pátio da escola, especialmente durante o recreio, eu e mais duas meninas – as três recém-chegadas à essa escola –, por sofrer o sadismo de um grupo de colegas, compreendemos que se engana quem acredita que o bullyingé monopólio de meninos! Meninas (e na infância e na adolescência) podem ser cruéis, maldosas, e sem fazer uso de força física, isto é, elas ofendem usando a agressão verbal, manifestando de modo repetido atitudes grosseiras (são traços inequívocos de espíritos atrasados): indiferença, exclusão, caçoada, apelidos, ameaças…
O agressor tem fragilidade? Logicamente. Contudo, a ideia de fazer o outro ser humano sofrer é sempre inaceitável. Por isso, no geral, o autor do bullying revela já precocemente mau-caráter, impulsividade, baixa autoestima, falta de empatia, um nítido sentimento de inferioridade. Além disso, na maioria das vezes, o agressor costuma promover a violência na escola com base também em antivalores que traz de sua vivência doméstica.
Bullying é prática abusiva. O agressor, então, devidamente identificado pelas autoridades educacionais, necessita de cuidado e correção. O ideal é que ele faça, por exemplo, pequenos trabalhos comunitários dentro da própria escola – auxiliar na biblioteca, na enfermaria ou na cantina, porque o mero castigo não educa, não gera mudança, não ajuda aquele que pratica violência reiterada contra colegas a entender a gravidade dos seus atos e suas consequências. E isso poderá ser feito durante o recreio ou intervalo, e para dar oportunidade ao agressor incorporar um novo tipo de conduta, ou seja, a atitude que manifesta respeito pela dignidade alheia.
Ato violento, o bullying é realidade mundial que merece atenção e cuidado por parte das famílias e das escolas, pois geram danos contra terceiros (as vítimas do bullying). No caso de agressores menores, os pais são também responsáveis, pois há para eles o dever de supervisionar os filhos.
Aos pais que têm uma criança que está a sofrer o bullying no ambiente escolar, e a escola, por sua vez, assume uma posição omissa, um aviso: procurem assistência jurídica, pois os atos configurados como bullying atingem diretamente os direitos fundamentais da pessoa humana (previstos na Constituição Brasileira e no Estatuto da Criança e do Adolescente) e têm, por isso, o devido amparo legal.
Rubem Alves, que foi vítima de bullying na escola, tem razão quando contou que “o bullying é a forma escolar de tortura”.
Notinhas
Bullying é definido como a violência que ocorre entre crianças e adolescentes, de forma intencional, repetitiva e sem motivação aparente, demarcada pelo desequilíbrio de poder entre agressor e vítima em alguma instância.
Prática abusiva proibida, o bullying(intimidação frequente, seja física ou psicológica) é um dos principais problemas de disciplina na escola. Uma dificuldade em combater essa prática é que muitos dos agressores (e até alguns pais de alunos e professores) acreditam estar apenas “brincando” com as vítimas.
Na literatura científica, o bullyingmanifesta três características principais: o comportamento agressivo e de intenção negativa, a repetição sistemática e a desigualdade tanto física quanto psíquica dos envolvidos.
Xingar, gozar, humilhar, zombar, isolar são atitudes agressivas e manifestações do bullying.
De acordo com a ONU, a maioria dos casos de bullying é devido à aparência física, etnia ou orientação sexual.
No Brasil, dados do IBGE afirmam que a quantidade de jovens vítimas de bullying subiu para 47% no ano de 2016.
Para saber mais, consulte: Fante, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. SP: Verus, 2005.Calhau, Lélia Braga. Bullying: o que você precisa saber. 3 ed. Niterói-RJ: Impetus, 2011.
O consolador – Ano 12 – N 589 – Cinco-marias