Autor: Sérgio Thiesen
Numa indescritível profusão de luzes, cores e sons, esplende infinito e majestoso o império sideral dos universos divinos. Movem-se vertiginosamente pelos espaços sem fim, incontáveis multidões de nebulosas e galáxias, carregando consigo inumeráveis aglomerados de milhares de milhões de estrelas, anãs ou gigantes, novas ou pulsantes, brancas, amarelas, azuis e vermelhas, com seus planetas e satélites, cometas e meteoros, numa sinfonia de belezas que ultrapassa todos os nossos poderes de imaginação.
E tudo se movimenta, se agita, em velocidades inimagináveis, harmoniosas ou turbilhonantes, em voragens e explosões, em transformações e renascimentos, num frenesi inestancável em que tudo se equilibra sob o comando invisível da ordem suprema que a tudo preside: o Espírito de Deus.
Cosmo ou cosmos, que significa, do grego, ordem, organização, beleza, harmonia, é um termo que designa o universo em seu conjunto, a estrutura universal em sua totalidade, do infinitamente pequeno ou microcosmo ao infinitamente grande ou macrocosmo. O cosmo é o conjunto, o somatório de todas as coisas deste universo ordenado, desde as estrelas e as galáxias colossais, até o conjunto das partículas elementares, subatômicas, que formam a matéria que constitui todos os seus integrantes.
Por todo o transcurso da história, os seres humanos buscaram apaixonadamente compreender a origem do universo. Talvez nenhuma questão seja capaz de transcender, mais do que esta, a passagem do tempo e a diferenciação das culturas e de inspirar a imaginação da humanidade, tanto a de nossos ancestrais quanto a dos pesquisadores da cosmologia moderna. Existe uma ânsia coletiva, permanente e profunda por uma explicação para o fato de que o universo existe, para a razão pela qual ele tomou a forma que conhecemos e para a lógica, o princípio, que alimenta a sua evolução. O que é fabuloso é que, pela primeira vez, a humanidade chegou a um ponto em que começa a surgir um esquema capaz de fornecer respostas científicas a algumas dessas perguntas.
A teoria científica da criação do cosmos hoje aceita declara que o universo experimentou as condições mais extraordinárias em seus primeiros momentos – energia, temperatura e densidade enormes. Essas condições, como hoje sabemos, requerem que levemos em conta tanto a mecânica quântica quanto a gravitação, razão por que a origem do universo proporciona um profundo campo de estudo em que novas teorias e concepções se delineiam no horizonte do conhecimento.
Antes da captura dos elétrons o universo estava inundado por um denso plasma de partículas eletricamente ativas
A temperatura do universo apenas 10-43 segundos após o Big-Bang, o chamado tempo de Planck, era cerca de 1032°K (graus Kelvin), dez trilhões de trilhões de vezes mais quente que o interior profundo do Sol. Rapidamente o universo foi-se expandindo e resfriando e, ao fazê-lo, o plasma cósmico primordial, homogêneo e torridamente quente, começou a formar redemoinhos e concentrações. Cerca de um centésimo milésimo de segundo depois do Big-Bang, as coisas haviam resfriado o suficiente (algo como 10 trilhões de graus Kelvin – 1 milhão de vezes mais quente que o interior do Sol) para que os quarks pudessem organizar-se em grupos de três, formando os prótons e os nêutrons. Cerca de um centésimo de segundo depois as condições estavam prontas para que os núcleos dos elementos mais leves da tabela periódica começassem a tomar forma, a partir do plasma original. Nos 3 minutos que se seguiram, quando o universo esfriou-se a uma temperatura de 1 bilhão de graus, os núcleos predominantes eram de hidrogênio e hélio, juntamente com traços residuais de deutério, o chamado hidrogênio pesado, e lítio. Esse é o período da nucleossíntese primordial.
Durante as primeiras centenas de milhares de anos que se seguiram não aconteceu nada de especial, além do prosseguimento da expansão e do resfriamento. Mas quando a temperatura caiu a alguns milhares de graus, a velocidade dos elétrons que se moviam em um frenesi desordenado reduziu-se o suficiente para que os núcleos atômicos, especialmente os de hidrogênio e hélio, os capturassem, formando assim os primeiros átomos eletricamente neutros. Esse foi um momento crucial: a partir de então o universo como um todo se tornou transparente. Antes da captura dos elétrons o universo estava inundado por um denso plasma de partículas eletricamente ativas – umas, como os núcleos, com carga elétrica positiva, e outras, como os elétrons, com carga elétrica negativa. Os fótons, que interagem apenas com objetos dotados de carga elétrica, eram atirados incessantemente de um lado para outro pelo denso mar de partículas ionizadas, e praticamente não chegavam a percorrer distância alguma sem serem desviados ou absorvidos. Essa nuvem espessa de partículas ionizadas impedia o movimento livre dos fótons, o que tornava o universo quase totalmente opaco, assim como o ar que conhecemos, em uma neblina muito densa ou em uma vigorosa tempestade de neve. Mas quando os elétrons com carga elétrica negativa entraram em órbita ao redor dos núcleos, com carga elétrica positiva, produzindo átomos eletricamente neutros, a neblina desapareceu.
Uma maneira de medir a profundidade de uma teoria é verificar até que ponto desafia nossa visão de mundo
Poderíamos supor que, desde então, um longo período de milhões de anos de verdadeiro caos ou desordem caracterizava a evolução do universo. A partir daí, como um ponto de inflexão da dinâmica universal, o caminho para a ordenação progressiva do Cosmo estava definitivamente aberto. A partir daí, os fótons criados com o Big-Bang têm viajado livremente, e toda a extensão do universo tornou-se visível.
Mais ou menos 1 bilhão de anos depois daquilo que muitos físicos e cosmólogos acreditam ser o início da formação do universo – o Big-Bang –, quando o universo já se achava substancialmente mais calmo, as galáxias, as estrelas e por último os planetas começaram a surgir como aglomerados dos elementos primordiais, unidos pela gravitação. Hoje, cerca de 14 bilhões de anos depois do descomunal episódio, nós nos maravilhamos com a magnificência do cosmos e com a nossa capacidade coletiva de reunir os nossos conhecimentos em uma teoria razoável e experimentalmente testável da origem do universo.
Embora estejamos física e espiritualmente ligados à Terra e às suas cercanias no sistema solar, o poder do pensamento e da experimentação nos permite sondar as profundidades do espaço exterior e do espaço interior. Particularmente durante os últimos 100 anos, o esforço coletivo de muitos físicos revelou alguns dos segredos mais bem guardados da natureza. E, uma vez reveladas, essas joias explicativas abriram novo panorama sobre um mundo que pensávamos conhecer, mas cujo esplendor nem sequer chegáramos perto de imaginar. Uma maneira de medir a profundidade de uma teoria física é verificar até que ponto ela desafia aspectos da nossa visão de mundo que antes pareciam imutáveis. Sob esse ponto de vista, a mecânica quântica e as teorias da relatividade foram muito além das nossas expectativas mais ousadas: funções de onda, probabilidades, tunelamento quântico, o incessante tumulto das flutuações de energia do vácuo, o entrelaçamento do espaço e do tempo, a natureza relativa da simultaneidade, a curvatura do tecido do espaço-tempo, os buracos negros e o Big-Bang. Quem poderia pensar que a perspectiva intuitiva, mecânica e precisa de Newton se tornaria quase acanhada – que havia um mundo novo e extraordinário logo abaixo da superfície das coisas que vemos todos os dias? Mas mesmo essas descobertas que sacodem os nossos paradigmas são apenas uma parte de uma história maior, que tudo abarca.
A busca das leis fundamentais do universo é um drama eminentemente humano, que expande a nossa visão
Com uma fé inquebrantável em que as leis do que é pequeno e as do que é grande devem harmonizar-se em um conjunto coerente, os físicos prosseguem em sua luta incessante por encontrar a teoria definitiva. A busca ainda não terminou, mas a teoria de supercordas e a sua evolução em termos da teoria M já fizeram surgir um esquema convincente para a fusão entre a mecânica quântica, a relatividade geral e as forças forte, fraca e eletromagnética. Os desafios trazidos por esses avanços à nossa maneira de ver o mundo são monumentais: laços de cordas e glóbulos oscilantes que unem toda a criação em padrões vibratórios executados meticulosamente em um universo que tem numerosas dimensões ‘escondidas’, capazes de sofrer contorções extremas, nas quais o seu tecido espacial se rompe e depois se repara. Quem poderia ter imaginado que a unificação entre a gravidade e a mecânica quântica em uma teoria unificada de toda a matéria e de todas as forças provocaria uma tal revolução no nosso entendimento de como o universo funciona?
Não há dúvida de que encontraremos surpresas ainda maiores à medida que avançarmos em nossa busca de entender a realidade cósmica. Já podemos vislumbrar um reino estranho do universo, abaixo da distância de Planck – escala abaixo da qual as flutuações quânticas do tecido do espaço-tempo tornam-se enormes, em que possivelmente não vigoram as noções de espaço e de tempo. No extremo oposto nosso universo pode ser simplesmente uma dentre inumeráveis bolhas que se espalham pela superfície de um oceano cósmico vasto e turbulento chamado multiverso. Essas ideias estão na vanguarda das especulações atuais e pressagiam os próximos saltos pelos quais passará a nossa concepção do universo.
Temos os olhos fixos no futuro, à espera dos deslumbramentos que nos estão reservados, mas não devemos deixar de olhar também para trás e maravilhar-nos com a viagem que já fizemos. A busca das leis fundamentais do universo é um drama eminentemente humano, que expande a nossa visão mental e enriquece nosso espírito. Einstein deu-nos uma descrição vívida da sua própria luta para compreender a gravidade: “os anos ansiosos da busca no escuro, que provocavam sentimentos intensos de angústia e alternâncias entre estados de confiança e de exaustão, e, finalmente, a luz”. À medida que subimos a montanha do conhecimento, cada nova geração apoia-se sobre os ombros da anterior aproximando-se todos do cume.
No seio excelso do Criador Incriado, nos cimos da evolução, pontificam os Cristos Divinos
Não é difícil prever que algum dia os nossos descendentes (talvez nós mesmos em necessário retorno è escola da vida) chegarão ao topo e gozarão da soberba vista que se abre sobre a vastidão e a elegância do universo, com clareza infinita. Hoje a nossa geração se maravilha com a nossa visão do universo e cumpre assim o seu papel contribuindo com um degrau a mais na ascese humana que conduz, através do conhecimento e da virtude, aquisições da alma que se volta, humilde, serena e reverente, com o Cristo, às Mansões do Criador.
Analogamente, na gênese planetária, tanto pelo que sabe a ciência comum como pela espiritualidade, havia uma imensa confusão geral dos elementos constitutivos, antes da formação do mundo. Uma espécie de desordem, chamada caos. Imenso laboratório onde conflitavam matéria incandescente, forças telúricas e energias físico-químicas. Destacada do núcleo central do sistema, o Sol, o novo orbe onde se iam manifestar todos os fenômenos inteligentes e harmônicos, no decurso de incontáveis milênios, começava a ser preparado pelo Divino Escultor e suas legiões de trabalhadores angélicos para sua sagrada destinação no rumo do porvir.
Tal realização, sob os auspícios de Jesus, por delegação divina, levaria das caóticas condições iniciais do processo às magníficas realidades do orbe abençoado, estável e inserido no Cosmos Divino, para que tivéssemos o curso evolutivo espiritual de 22 bilhões de almas humanas, gravitando nele, como nos informa Emmanuel no livro “Roteiro”, publicado pela Federação Espírita Brasileira, um dos livros-astros da lavra mediúnica de nosso saudoso Francisco Cândido Xavier. É que, no seio excelso do Criador Incriado, nos cimos da evolução, pontificam os Cristos Divinos, os Devas Arcangélicos, cuja sublime glória e soberano poder superam tudo quanto de magnificente e formidável possa imaginar, por enquanto, a mente humana. São eles que, sob a inspiração do Supremo Arquiteto do Universo, presidem, no Infinito, à construção, ao desenvolvimento e à desintegração dos orbes, fixando-lhes as rotas, as leis fisioquímicas e biomatemáticas e gerindo seus destinos e os de seus habitantes.
A ciência humana foi, é e será sempre necessária e valiosa ferramenta do progresso, tarefeira divina a serviço da evolução dos Espíritos, vanguardeira valorosa no combate às trevas da ignorância, para nelas acender as luzes cada vez mais brilhantes do conhecimento, a caminho da verdade.
Admiráveis e dignas de apreço são – reconhecermos – essas mentes extraordinárias que trabalham em favor de toda a humanidade, ao preço de grandes cansaços e renúncias desconhecidas, sobrepondo o primado da inteligência realizadora e do maravilhoso poder da intuição que nasce da fé aos dos seus próprios interesses pessoais e alçando a alma aos cimos sublimes das esferas resplendentes em sua marcha ascensional para Deus.
Nota
Sérgio Thiesen, professor de Medicina e Físico, reside no Rio de Janeiro-RJ.
O consolador – Ano 4- N 172 – Especial