Autora: Cristina Sarraf
Quatro vezes a mãe o chamou e agora o pai vai resolver o problema. Empurra-o para fora da cama, diz poucas e boas, mostra o relógio e fica olhando até que troque a roupa, faça a higiene e saia para o colégio… sem comer. Na porta da rua, sua mãe lhe entrega um pacotinho com um lanche. Vai meio zonzo. Dormiu pouco porque ficou na internet até 4 da madrugada.
– Se eles souberem, cortam meu acesso… pensa com algum temor.
Cochila no ônibus. Quase sempre junto dele está aquela mulher sem corpo denso, um Espírito com formas deformadas, um vampiro sexual. Aproveita-se da fase de explosão hormonal do descuidado jovenzinho.
Na escola ela não encontra espaço para agir, porque há guardiões espirituais atentos. A direção e alguns professores zelam pela própria postura mental, pelos alunos e pelo bom ambiente da escola. Com o que facilitam a ação de Espíritos bons que escolheram dar proteção espiritual a jovens e crianças, como um exercício de crescimento pessoal.
Por isso, ela fica do lado de fora, esperando; e às vezes fica na casa dele.
Lá, o ambiente difere muito do da escola. Pais desatentos, envolvidos apenas pelo cotidiano da vida de encarnados, esperam do filho uma eficiência e uma ambição de conquistas e sucesso, que ele não tem. Mas nunca se ocuparam em observar como ele é, em descobrir/perceber suas características como pessoa. Caminharam para o tradicional e repetem para o filho: – Nós amamos você, damos tudo que podemos e esperamos que corresponda com um comportamento à altura. Quando não, sofrerá punições.
O pior para esses pais, fica no ostensivo contraste entre seu filho e um primo, cuja mãe vai na Sheicho-No-Ie e o pai assiste palestra no Centro Espírita…
Por mais que lhes doa e não queiram, são obrigados a admitir, lá no fundo de si, que gostariam que seu filho fosse como o sobrinho. Mas não relacionam as ideias dos pais dele, com sua forma de ser. Pelo contrário, desprezam as ideias que eles cultivam. Acham que é coisa de gente ignorante. E se aborrecem quando esses parentes, nas conversas, falam sobre “essas coisas”.
Acharam um absurdo o cunhado ter pedido para levar o filho deles, junto do seu, a um encontro de jovens espíritas: – Era só o que faltava!!!
Consideram que “foi sorte dessa gente” ter o filho que têm…
O que eles não sabem e possivelmente nessa vida não saberão, é que os filhos não vêm pela sorte, como não são trazidos pela cegonha; nascem por determinados pais, em decorrência de afinidades e condições espirituais.
Ambos ágeis, pessoas de sucesso relativo ao meio em que convivem, eles agora têm, vindo de seus corpos e dos vínculos do passado, um filho necessitado de amparo, apoio amoroso e orientação. Alguém com vontade alquebrada por derrotas não superadas – e muito menos entendidas! Alguém que encontrou na dispersão, na distração mental e na imaginação nem sempre sadia, o consolo e o esquecimento das dores.
Agora reencarnado e adolescente, ele sonha, imagina o que gostaria de ser, as vitórias que lhe trariam alegrias, amor… mas não passa disso. Pensa, mas não age! Sua mente treinada, desde vidas passadas, com esse recurso paliativo, oferece condições fáceis para ficar vagando, dispersar e dormir para sonhar.
Ele não é um preguiçoso, como pensa seu pai. É apenas uma pessoa sem educação espiritual para se observar e ter coragem de expressar o que sente; e sem a mínima força de vontade para empreender qualquer empenho por si mesmo. Está acostumado a ser negligente consigo, disfarçar, ocultar-se e mentir.
É uma espécie de caracol, fechado em seu mundo vazio e ilusório, cujas energias mentais e físicas estando fora do próprio domínio, são desviadas, para nutrir o vício de outra criatura. Esta, também ignorante das leis da vida e por isso voltada só para a satisfação de prazeres fugazes, encontrou nesse moço, um campo aberto e fácil para adquirir energias físicas e mentais.
Ela não percebeu ainda no que se transformou. Pensa-se bela e sedutora. Se olhasse no espelho…