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Charles François Gounod

Charles François Gounod é nome de grande valor entre os musicistas internacionais e especialmente nos círculos da velha França, onde reencarnou. 

Uma das características que bem define a delicadeza de seu Espírito é a de ter sido um bom filho. Em certa ocasião escreveu: – “Se fui bom, ou se alguma coisa aproveitável fiz na minha vida, devo-a à minha mãe. 

Ela criou-me e educou-me, formando-me não à sua imagem – seria demasiado belo! – porque me faltou valor para igualar a um modelo tão perfeito.” 

A música o seduziu toda a sua vida. Quando garotinho, não era muito caprichoso no cumprimento de seus deveres escolares.

Escrevinhava música em todos os cantos dos livros de latim. Muitas vezes o professor se esforçava em explicar um problema de Aritmética, e ele, Gounod, distraidamente cantarolava trechos de ópera. 

Ficou órfão de pai aos quatro anos. Já com essa idade, seu ouvido, bastante apurado, permitia-lhe ser aluno de solfejo, e mesmo dar lições!

Desejando certificar-se da vocação do filho, a genitora de Gounod procurou o músico Jadin, para que ele o observasse. 

Jadin colocou o menino de costas num canto da sala, e improvisando, ao piano, uma série de acordes e modulações, perguntava-lhe a cada mudança:- Em que tom estão?

E o garoto Gounod não se enganou uma só vez.

As manifestações precoces de aptidão para este ou para aquele ramo do conhecimento humano, a facilidade de identificarem os sons, são provas de que os Espíritos, em suas novas encarnações, conservam a lembrança perfeita das aquisições pretéritas, porque toda a nossa bagagem intelectual, toda a facilidade com que executamos as coisas e sentimos as belezas da Criação, tudo isso é fruto exclusivo de nosso esforço, de nosso labor continuado, por meio das vidas sucessivas. 

A genitora de Gounod achou de bom alvitre desviá-lo dessa vocação inata, porque a música, no seu entender, não dava futuro. Procurou, por isso, o Prof. Poírson, diretor do Internato em que se achava o pequeno Charles, no propósito de conseguir que ele dissuadisse seu filho de se dedicar à arte musical. Poirson tranqüilizou – a, dizendo-lhe:

– Seu filho não será músico. 

Imaginara ele um plano que julgara infalível para tirar do menino Gounod essa mania de só pensar em música! 

Certa manhã determinou que o levassem à sua presença: 

– Com que então quer ser músico? E Gounod, com a alma em festa, retrucou prontamente:

– Sim, senhor. E Poírson, com voz pausada, soltou a peça que havia imaginado:

– Muito bem. Nesse caso, tome este poema e escreva uma música para ele.

Gounod, com as mãos trêmulas de emoção, tomou o poema, declarando com toda a inocência: 

– Vou ver o que posso fazer, senhor professor.

Logo que Charles se retirou, Poirson deu gostosas gargalhadas:

– Peguei-te, meu maroto, nunca mais terá a mania de ser músico.

Acontece, porém, que duas horas depois voltava o menino com a partitura musical ao gabinete do mestre:

– Aqui está o que o senhor me ordenara e espero que lhe agrade.

Poirson olhou, pasmo, para a música.

– Vamos, Charles, cante-a para mim.

Gounod cantou-a com voz clara e confiante. Quando terminou, o mestre, com os olhos rasos d’água, puxou o menino para junto de si e beijou-o. 

– Você tem razão, meu filho. A sua carreira é a música. Segue a sua inclinação, dediquese à música! 

Poirson não se equivocou ao emitir sua apreciação acerca dos dotes prodigiosos de Charles Gounod, porque ele foi realmente um notável compositor que legou à Humanidade produções que se tornaram célebres.

A ópera já tão conhecida – “Fausto” – foi representada pela primeira vez no Teatro Lírico de Paris, em 19 de Março de 1859 e logo conquistou o favor público, e em muito pouco tempo avassalou toda a Europa, incluindo a própria Alemanha, que se considerava, até certo ponto, a guardiã da lenda do Fausto. 

Mas, retornemos à infância de Gounod. Sua mãe, a fim de melhor se orientar, resolveu consultar Reicha, famoso músico alemão, que residia em Paris. 

– Trago-lhe meu filho, professor Reicha, que pretende dedicar-se à composição musical. Não é de meu gosto que ele siga a carreira artística, conheço bem as inúmeras dificuldades que ela apresenta. Antes, porém, de tomar uma decisão definitiva, desejo saber se meu filho possui realmente aptidões musicais e vocação indiscutível. 

Ponha-o, Sr. Reicha, à prova máxima.

A Sra. Gounod apresentou a Reicha, para seu melhor julgamento acerca da vocação de seu filho, alguns trabalhos por ele escritos. Reicha, num simples e rápido exame, logo constatou que esse menino era um gênio. 

– Mas esta criança já sabe, minha senhora, grande parte do que devo ensinar; o que se passa, apenas, é que ela ignora que o sabe. Em todo o caso, mais tarde lhe darei minha opinião franca e sincera, isto é, se seu filho deve ou não deve seguir a carreira artística. 

Cumprindo a palavra empenhada, Reicha, tempos depois, declarou à Sra. Gounod: Penso que não há meios de desgostá-la; nada o afasta, tudo o diverte e desperta-lhe interesse.

É isto mesmo, quando o Espírito traz, ao reencarnar, a tarefa de ser músico – e a música é uma das modalidades de chamar o homem para a fé, para Deus _, não há dificuldades, trabalhos, obstáculos que o desviem do cumprimento dessa tarefa. Foi o que aconteceu com Charles Gounod e como tem acontecido e há – de acontecer com todos aqueles que reencarnam com uma missão definida a executar!

Todo músico, na verdadeira acepção da palavra, é um sensitivo, possui uma antena misteriosa, por meio da qual capta maravilhosas harmonias inacessíveis aos ouvidos das demais criaturas!

Toda alma que se interessa e se alegra com as coisas sublimes do espírito tem de amar a música, porque a música é a linguagem das entidades superiores e divinas! 

Estamos plenamente de acordo com E. Moschino, quando proclama que “a música se expande como a luz, circula como o ar, suaviza as agonias e o seu eco perdura por todos os lugares onde passa. Um canto de dor alivia a própria dor; uma lírica paixão torna as paixões mais belas; enobrece-as e justifica-lhes os excessos, até a própria culpa”.

Todos sabemos que Gounod foi um compositor de produtividade extraordinária. A inspiração jamais se divorciou dele. Contava quase 50 anos de idade, quando começou a trabalhar na ópera “Romeu e Julieta”. A música fluía de sua pena com uma espontaneidade e pujança tais, que ele próprio se surpreendia. 

Dá-nos Gounod o testemunho da sua poderosa mediunidade, em uma de suas cartas, da qual destacamos o seguinte tópico: “Sentia-me como se novamente tivesse 20 anos, em vez de quase 50, e via e ouvia” – notem bem estas suas expressões – “via e ouvia suas personagens como se estivessem vivas de verdade.”

A primeira representação no Teatro Lírico de Paris alcançou brilhante êxito, apesar de o romance em que se inspirou (<<Romeu e Julieta”, de Shakespeare), não constituir assunto ideal para uma ópera.

Charles François Gounod, durante toda a sua existência, viveu, compreendeu e sentiu a música, a música que o levou a dizer: – A morte é o princípio da vida!

Dentro deste ponto de vista, escreveu sua obra-prima, que é o oratório “Mors et Vita”. Por meio do prefácio dessa obra, Gounod dá-nos a conhecer a razão por que colocou a palavra “morte” antes da palavra “vida”: “Se a vida precede a morte na sequência do tempo, a morte precede a vida na sequência da eternidade. A morte pode ser o fim da ilusão da vida, mas é o princípio da verdadeira vida, da vida imortal da alma.”

Gounod, ao escrever esse magistral conceito, sintetizou, como médium inspirado que era, e de maneira perfeita, a ideia espírita. Sim, porque para nós espíritas o homem não encontrará na morte mais do que vida e, no misterioso umbral, a grande surpresa é o encontro de si mesmo.

Ele queria que sua música fosse sua, unicamente sua, porque ele ia beber a inspiração, ia colher as novas harmonias nesse mundo invisível e desconhecido para a maioria dos mortais, por força de sua potente mediunidade.

Numa tarde de outono, isto é, a 18 de outubro de 1893, ao sentar-se para escrever, caiu-lhe a cabeça sobre a mesa.

– “Psiu” – disse a esposa aos demais membros da família – não o perturbemos. Está dormindo.

O grande Gounod, porém, não estava dormindo, naquele instante seu Espírito reiniciava a sua verdadeira vida, porque a “morte”, conforme escrevera, é o princípio da vida! 

Fonte: Grandes vultos da humanidade e o espiritismo.

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